Capítulo 23

591 39 5
                                    

Alguns anos depois...

Lauren e Camila desgrudaram as bocas um instante e olharam juntas para a filha que, radiante em seu vestidinho azul e branco, chamava.

O primeiro sentimento foi um amor absolutamente diferente de tudo que já haviam sentido e, por isso mesmo, indescritível.

O segundo foi orgulho: "Linda!" As duas eram absoluta e indisfarçavelmente corujas.

O terceiro sentimento só veio depois. Preocupação por a menina de seis anos gostar tanto de se vestir de princesa. Acalmaram-se, cada uma do seu jeito. Camila afirmando para si mesma que fazia parte da infância, era apenas uma fase e, como tal, passaria. Alice não ia ter nenhum complexo de Cinderela nem nada do tipo. Lauren tentando se convencer de que não se tratava de um enquadramento precoce em estruturas binárias de gênero. Muito pelo contrário, a filha possuía uma rara e promissora combinação de vocação e talento, era dotada de uma veia artística fortíssima, muito clara desde o seu nascimento.

Como que comprovando isso, Alice pediu:

― Alguém me filma?

Tanto Lauren quanto Camila sorriram já sabendo o que se seguiria. Camila pegou o celular, acessou a câmera e falou:

― Gravando.

Na mesma hora, a postura da menina mudou. Compenetradíssima, altiva, mas simpática, sem se esquecer de sorrir.

Exatamente como Lauren já havia ensinado.

― Qual o seu nome?

Acostumadíssima a brincar de "teste", ela respondeu:

― Alice Cabello Jauregui.

Lauren aprovou com um aceno de cabeça, sem nem sentir, antes de fazer a nova pergunta:

― O que você preparou para nós hoje?

De um jeito quase profissional, a filha disse:

― Uma cena de "Frozen", com a música "Let It Go".

Nenhuma surpresa. Era o desenho preferido dela. Pelo menos, naquele momento.

― Muito bem. Quando você quiser, pequena.

Alice começou a cantar imitando os gestos da personagem do desenho, fazendo as duas mães babarem, achando-a perfeita.

Quando ela terminou, aplaudiram-na efusivamente. Depois Camila anunciou:

― Hora de ir pra cama.

Óbvio que Alice tentou apelar para Lauren:

― Ah... Só mais um pouquinho, vai. Por favor, mommy? - Fez um biquinho adorável, mesmo sabendo a resposta de cor que a outra iria dar.

 Por favor, mommy? - Fez um biquinho adorável, mesmo sabendo a resposta de cor que a outra iria dar

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

― O que sua mãe falou, está falado.

Era muito difícil, na verdade impossível, uma mãe discordar da outra. Na frente dela, claro. Quando estavam sozinhas, Camila e Lauren continuavam tendo divergências homéricas. Que, no fim, sempre conseguiam harmonizar e acordar. De forma tão deliciosa que essas pequenas e breves desavenças, bem como as reconciliações que as seguiam, faziam parte da relação e acabavam se tornando um tempero a mais.

Com a filha devidamente acomodada em sua cama, Camila e Lauren sentaram-se juntas no sofá da sala. A tentando ligar a TV enquanto Lauren, com a boca grudada no pescoço dela, causava-lhe arrepios pelo corpo todo. Dando à ação um toque extra de dificuldade.

― Lolo...

Camila suspirou, o corpo estremecendo de prazer. Sem parar o que estava fazendo, Lauren riu:

― O quê?

Enfiou as mãos por baixo da blusa de Camila e acariciou os seios, fazendo-a vibrar num tom mais alto:

― Aqui não...

Ignorando o protesto completamente, Lauren se inclinou, passou a língua devagar, sem pressa alguma, no biquinho de um dos seios, antes de colocá-lo na boca e sugá-lo por inteiro.

― Quer ir para quarto?

Foi o que Lauren conseguiu gemer, num tom inconfundível, incontrolavelmente rouco. A resposta de Camila foi:

― Essa Alex Vause é uma coisa, hein?

A perplexidade de Lauren se dissolveu rápido. Bastou seguir o olhar da mulher para a tela, onde o primeiro episódio da temporada de Orange Is The New Black já havia começado. Tinham esperado para vê-lo durante meses, mas aquilo pareceu absolutamente sem importância naquele momento.

― O nome da atriz é Laura Prepon.

Camila e Lauren olharam uma para a outra e riram. Sem precisarem de palavras, sabiam perfeitamente o que estavam pensando enquanto caminhavam para o quarto, tropeçando, aos beijos. Na verdade, lembrando-se do mesmo.

Tudo que havia acontecido, o caminho que tinham percorrido até chegarem ali, naquele exato momento. Em que para ambas, era como se não existisse nenhuma outra mulher no mundo inteiro.

Cujo começo...

Tinha sido oito anos antes, naquele primeiro Réveillon que haviam passado juntas, em Itaipava. Aquele foi o momento crucial para o começo de algo forte e inigualável onde o ódio e a raiva se transformaram em um amor capaz de atravessar qualquer barreira.

->The End <-

I Hate Loving YouOnde histórias criam vida. Descubra agora