Éris havia acordado particularmente muito feliz naquele dia.
O caos instalado no mundo mortal, na terra e também no submundo lhe dava muita satisfação, como uma sensação de desejo cumprido.
Como de costume, em sua rotina matinal, caminhou até seu globo terrestre para contemplar seus feitos e até dar uma espiada na vida de sua filha e de seu ex marido mas...algo não estava certo. Havia alia uma presença, mas não era a de seus monstros ou coisa parecida.
De trás do globo, nas sombras, uma voz falou:
-Deve estar muito feliz ,não?! Um caos espalhado em ambos os reinos. Uma pergunta, a felicidade te enfraquece ou te deixa mais forte?-Éris não reconheceu a voz que parecia estar andando em sua direção.
-Por que quer saber? E como chegou aqui? Não costumo receber visitas, então nem arrumei a casa.-Ela falava com deboche.
Uma silhueta saiu das sombras, revelando um rosto que a própria deusa não via há anos.
-Ora quem está aqui! Veio me dar os parabéns?-A deusa ergueu os braços como se fosse abraçar.
-Não. Vim lhe propor um acordo. Você... dará a sua palavra que não intervirá mais na guerra. Não poderá ferir ninguém, matar ninguém e muito menos salvar. Você já causou danos demais a esta guerra.
- E o que...-A deusa fez surgir um trono que parecia ter sido de alguém importante há muito tempo e se sentou nele.-...eu ganho com isso?
-Eu sei que você não se importa com nada, nem ninguém, seja no cosmo, na terra, no mundo inferior...
-Nem no Olimpo, não pode esquecer.-Éris interrompeu a outra pessoa.
-Enfim, eu descobri que você se importa sim com alguém. Na verdade com...mais de uma pessoa. Veja isto...-A pessoa lhe entrega um papiro bem antigo nas mãos da Deusa.- Encontrei espalhado na pilha de profecias de Apólo.
-Na-na-NÃO!!! Não pode ser!!!-Os cabelos da Deusa se descontrolavam no ar.-Eu fiz tudo... tudo isso pra acabar assim? Aquela megera da Hera finalmente iria pagar por tudo que fez. POR TUDO!!!
-É assim que funciona uma guerra. Não há vencedores. Todos saem perdendo.-a voz permaneceu inalterada.
-NÃO É JUSTO! Ela me desprezou por eu não ter tanta beleza, ela me subjugou pela guerra de Tróia.EU FIZ TUDO! Eu sussurrei no ouvido de cada um dos deuses que se sentiam como eu, como se não tivesse nenhuma importância. Tratados como NADA! E eu dei a ela guerra...eu dei a ela e aquele..Zeus presunçoso-Ela praticamente cuspiu ao falar o nome do Deus- E o que eu ganho? A minha filha não vai morrer... a minha filha não....
A deusa desabou no chão e começou a chorar descontroladamente. Ela sentia uma dor que nunca havia sentido antes. Nem quando Hera a desprezou por sua beleza, nem quando não fora convidado para o casamento de Peleu e Tétis, não.... aquela dor era pior. Ela não suportaria ver sua filha, fruto de todo amor que ela sentia, perdendo sua vida apenas para terminar o que a própria deusa havia começado.
"Isso é tudo minha culpa. É tudo minha culpa. É tudo minha culpa. É tudo minha culpa. É tudo minha culpa. É tudo minha culpa..."
Éris remoía sua mente com pensamentos de arrependimento e culpa.-Jure...Jure que fará o que eu disser para que isto não ocorra.-A pessoa se ajoelhou e colocou as duas mãos no ombro da deusa.-Faça seu voto perpétuo.
Éris olhou bem nos olhos e parou de chorar.
-Eu faço qualquer coisa...garanta que ela fique viva.-A deusa se levantou.-Dê a sua palavra que não intervirá em mais nada até que a guerra acabe.
-Dou a minha palavra...-Éris ergueu o seu dedo mindinho e fez um x em sua clavícula-...de Deusa.
O x ficou marcado em sua pele, com um brilho azulado, como um lembrete.
A figura conhecida voltou a se esgueirar pelas sombras e antes que desaparecesse por completo, ela disse:
-Já sabe o que acontecerá se quebrar o acordo...-Disse em um tom de aviso e desapareceu.
Éris ficou sozinha encarando o globo terrestre.
-Sétis...-ela se virou para um monstro marinho que parecia ser feito de estrelas-Cuide de tudo enquanto eu estiver fora.
A deusa se esgueirou pelas sombras do Tártaro e quando encontrou uma saída, se deparou com uma claridade familiar. Ela se encontrava em um beco que ela conhecia muito bem.
Ela atravessou a rua e estava com os cabelos presos em uma trança, usava um casaco de couro que sobrepunha uma blusa roxa e calças pretas. Também usava um óculos Ray-Ban para não enlouquecer qualquer mortal que olhasse para eles.
Ela parou na calçada para ler a grande placa que indicava:
Universidade de Toronto
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As crônicas do Olimpo, Livro 2: Justiça Oculta
AvventuraFaz 5 meses e aproximadamente 3 semanas desde a Batalha do Submundo. Gunnar voltou dos mortos e os semideuses estão tentando recomeçar. Os antigos acampamentos estão em ruínas; os Deuses e seus filhos enlouqueceram, o caos havia se instalado no mun...