CAPITULO 4

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A professora de educação física estava, como sempre, atrasada. Toni sentava-se no topo das arquibancadas, observando de longe Martha rindo com algumas amigas de Shelby.
A loira estendeu a mão e colocou delicadamente uma mecha do cabelo de Martha atrás da orelha, ela falou alguma coisa para sua melhor amiga que a fez sorrir amorosamente para a líder de torcida. Fatin colocou a mão na sua perna e sua voz animada ecoou na quadra:
- Anjo, suas redes sociais vão bombar de pirocas, você vai ver!
As meninas gargalharam e Shelby olhou para Fatin com os olhos arregalados, dando um tapa no seu braço logo em seguida.
Elas estavam falando de meninos, óbvio. Toni revirou os olhos, sentindo um ciúme doentio preencher cada átomo dela. Ela odiava se sentir assim. Odiava como perdia o controle tão facilmente.
- Hmm, você está adotando um tom estranhamente verde. - brincou Nora, percebendo o ciúme da amiga.
- Eu poderia estar morrendo agora, mas se Shelby chegasse sorrindo Martha nem iria ligar para mim.
Rachel revirou os olhos e deu um sorriso de canto, decidida a implicar com a sua capitã.
- Quanto drama! Qual é seu signo mesmo? - ela sabia que a amiga estava a um passo de explodir.
- Quem se importa? Deus! - gritou Toni, levantando-se em um pulo e caminhando a passos pesados para longe das gêmeas.
                 

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- Acho que fica mais junto, não? - perguntou Shelby, fitando primeiro a professora de educação física para depois analisar a reação de suas colegas.
- Tudo bem. - concordou a senhora Klein, parecendo não se importar muito.
Gretchen Klein havia escolhido Toni e Dot Campbell para serem as líderes das equipes no jogo de queimada. Toni já havia escolhido Martha na sua equipe quando Goodkind  propôs que o último escolhido que decidiria o próximo integrante do time.
A morena revirou os olhos no mesmo momento, tendo plena certeza que Martha a escolheria.
- Shelby! - gritou sua melhor amiga, animadamente.
A loira abriu um sorriso gigantesco, indo saltitante em direção a Blackburn. Ela abraçou a nativa americana de lado, ficando assim até o final da divisão das equipes.
Toni examinou pela primeira vez naquele dia a rainha da beleza, reparando como a legging apertava seu corpo estrutural, chamando atenção para sua bunda avantajada. Fatin passou ao lado da loira, deixando um tapa estalado na nádega da sua amiga antes de ir para o seu lado da quadra. Toni desviou o olhar, repentinamente incomodada.
Shelby caminhou até o limite entre as equipes, ficando de frente com Dot, elas se provocaram    entre risadas para depois virarem as costas uma para a outra e seguirem cada uma para suas posições.
A partida começou de forma acirrada. Fatin era realmente agressiva e Dot tinha ótimos reflexos. Shelby acabou se revelando uma ótima jogadora, o que surpreendeu Toni. Ela era rápida e desviava facilmente das bolas.
Entretanto, Fatin estava de marcação em cima da amiga e depois de muitas tentativas acertou a loira.
- Fatin! - reclamou Shelby, massageando sua coxa esquerda, que com certeza ficaria marcada.
- Desculpa, vadia. Não tem amizade na queimada. - brincou, recebendo um apito da professora pelo xingamento.
Shelby foi para o final da quadra junto com os outros queimados, que ficavam atrás do time oponente. Ela passou ao lado de Toni, reclamando baixinho sobre o músculo ferido.
A líder do time a encarrou. Alguns fios de cabelo haviam escapado do seu rabo de cavalo durante a partida e gotas de suor infiltravam-se para dentro do seu top, escorrendo entre seus seios. A quadra lhe pareceu repentinamente mais quente.
Toni desviou o olhar, sendo quase magneticamente atraída por aqueles olhos verdes vibrantes. Shelby sorria para ela, as bochechas avermelhadas por causa do esforço a deixaram encantadora. O desespero com a possibilidade de ter sido pega secando Shelby fez Toni a olhar com desprezo. A morena observou com certa culpa o sorriso da outra murchar. Para, Toni, ela deve ser uma daquelas fanáticas religiosas homofóbicas, pensou, tentando afastar aquele sentimento corrosivo.
Só haviam sobrado Toni e mais duas meninas do time de basquete na sua equipe. Enquanto no adversário haviam Fatin, Dot e Rachel ainda implacáveis apesar do cansaço.
No final da quadra, Shelby parecia rir de algo que Martha disse. As duas olharam rapidamente para Toni, sendo tapadas pela silhueta de Fatin logo em seguida. A morena sentiu o ódio preenchendo repentinamente seu ser, segurou fortemente a bola, decidida a descontar sua raiva no jogo.
Tudo pareceu acontece muito rápido na cabeça de Toni. Em um momento a violoncelista estava bem na sua frente e no outro, ela já havia desviado e a bola traçava uma parábola perigosamente rápida em direção a Shelby, que estava distraída demais para perceber o desastre iminente.
A bola acertou em cheio no rosto da loira, que caiu sentada com o impacto. A treinadora deu um apito longo.
- Shelby! - gritou a culpada, correndo em direção a menina para conferir o estrago.
Suas amigas já estavam do lado dela e quando Toni chegou mais perto, se desesperou ao perceber o líquido escarlate que escorria do nariz da líder de torcida.
- Está quebrado? - ela perguntou para Leah, com um tom de desespero na voz. A atingida arriscou-se a tocar no ferimento, fazendo uma careta de dor com o toque.
- Não! - berrou Leah, negando freneticamente com a cabeça. - Nem da pra notar. - continuou, com os olhos azuis arregalados e um sorriso assustador.
- Você tem que erguer a cabeça pra parar de sangrar. - interviu Fatin, movendo a cabeça de Shelby.
- Não. Ela tem que abaixar. - contrapôs Dot, ajustando a cabeça da amiga.
- É claro que não! Tem que erguer. - gritou Fatin, movendo novamente a cabeça da loira.
A treinadora apitou. Chamando a atenção das duas amigas que discutiam.
- Chega! - ordenou Gretchen com a voz impaciente. - Toni leve Shelby para a enfermaria.
Toni se aproximou lentamente, fazendo menção de ajudar a loira a levantar, mas ela se esquivou rapidamente.
- Eu realmente prefiro ir sozinha. - ela disse, sem nem olhar para a menina que a oferecia ajuda.
Shelby se levantou, virando o rosto na direção contrária a de Toni e seguiu seu caminho para fora da quadra em silêncio.

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Assim que Shelby Goodkind cruzou a porta de saída três pares de olhos furiosos encararam Toni.
Fatin foi a primeira a se aproximar. A postura ereta e altiva, fizeram a capitã crer que acabaria levando um soco. Não que eu não merecesse, pensou.
- Você fez de propósito. - a menina rosnou, tão próxima de Toni que ela podia sentir sua respiração acelerada.
- É claro que não! - berrou. Odiava quando a acusavam.
Fatin se moveu tão rápido que Toni só processou a ação quando suas unhas compridas já estavam fincadas no pulso fino da menor.
- Você acha que a gente não percebe a forma que você olha pra ela? - ela elevou o tom de voz, chamando a atenção de todos na quadra. Um silêncio sepulcral se instalou no recinto. A atmosfera de tensão já era quase palpável. - Se você ao menos soubesse.... - a frase morreu em sua boca. Fatin se afastou, olhando Toni dos pés a cabeça com completo desprezo. - Mas você não merece a verdade.
Ela virou as costas para a jogadora, pedindo a permissão da treinadora para sair antes de deixar a sala.
  
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A aula de educação física prosseguiu sem muitas emoções após a saída das duas amigas. Embora Toni pudesse sentir o ódio emanado de Leah e Dot, elas não se aproximaram para confronta-la.
A capitã podia ver a decepção nos olhos de Martha e sabia que o incidente renderia uma discussão com sua melhor amiga. Mas a cabeça de Toni só conseguia pensar na loira sentada a alguns metros dali na enfermaria. Desde que tudo acontecera seu corpo parecia agir no automático, enquanto sua mente ensaiava um milhão de coisas para falar para Shelby Goodkind. Ela não conseguia parar de pensar no que a amiga da líder de torcida havia dito para Toni. Saber o que?, questionava-se Toni.  O que Fatin sabia que poderia mudar a visão da capitã sobre a Goodkind? E pela primeira vez em anos, Toni se perguntou se talvez não tivesse sido precipitada em julgar a loira. Talvez ela não seja o que eu idealizei, refletiu.
- Martha! - Toni chamou, assim que a aula acabou e a nativa americana virou as costas sem esperar a amiga.
- Não, Toni. - Martha virou-se para a capitã, os olhos brilhando com decepção. - Você não pode mais fazer isso. Você machuca as pessoas.
Toni viu lágrimas se formarem nos olhos castanhos da melhor amiga. Ela ia embora, mas pareceu pensar melhor e voltou-se para a outra novamente.
- Você já cogitou a possibilidade de Shelby ser a "S"? - perguntou Martha, com aqueles olhos julgadores. - O que você faria? Se fosse ela e você tivesse acabado de machucar uma pessoa que sempre diz coisas tão gentis pra você. Você nem conhece a Shell, Toni. E sempre a tratou tão mal. Talvez se você deixasse de lado esse seu ódio sem sentido você pudesse ver.
- Ver o que? - perguntou Toni, rindo com indignação por todo o mistério que circundava aquele maldito dia.
Martha não respondeu, só deu as costas para a amiga.
- Porra! - a capitã berrou, socando o primeiro armário que encontrou.
As perguntas rodeavam sua mente tão rápido que Toni mal podia processa-las. Sentia-se tonta e cansada, sabia plenamente que devia desculpas a Shelby Goodkind. Mas aquele dia já havia tido emoções demais para a morena, que decidiu voltar para casa e deixar a conversa para segunda.

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