CAPITULO 8

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O reflexo no espelho que olhava Shelby Goodkind não se parecia com aquele que ela estava habituada.
Na escola, a loira raramente usava algo além de base e rímel e nos concursos de beleza mal se reconhecia em baixo de tantas camadas de maquiagem. Mas ali estava o equilíbrio perfeito.
Seus cílios estavam perfeitamente curvados com uma generosa camada de rímel, o contorno a havia feito parecer levemente mais velha e seu boca estava com um gloss labial discreto. Ela se sentia poderosa.
Apesar disso, ainda havia alguma coisa na imagem refletida que a incomodava, algo que a impedia de olhar para o espelho e sorrir com o que via.
Shelby desviou o olhar, fuçando o porta joias da amiga atrás de algo que a agradava.  Depois de muita procura entre as joias escandalosamente grandes da amiga, escolheu um colar de coração dourado, um brinco de argola e um anel com algumas gravações aleatórias no seu diâmetro.
- Você não vai dar uma de Leah e levar minhas coisas embora né? - perguntou Fatin, olhando Shelby através do espelho. - Porque eu realmente amo esse anel. 
Shelby riu, lembrando de como a amiga surtou quando descobrira que Leah realmente tinha levado clandestinamente um de seus pijamas de seda.
- Você está linda. - disse Shelby, se levantando para ficar frente a frente com a amiga.
- Você também, vadia. - respondeu Fatin, pegando na mão da loira e fazendo ela dar uma voltinha.
Shelby usava um vestido curto que se agarrava a cada curva do seu corpo, a tonalidade clara da roupa destacava seu bronzeado artificial. A loira colocara uma jaqueta de couro comprida por cima, porque ventava um pouco lá fora.
- Vamos descer? - perguntou Leah, ajeitando seu cabelo levemente cacheado.
A loira concordou, virando-se em direção a porta, mas Fatin a impediu, segurando seu ombros para que parasse.
- Tira isso. - disse a morena, indicando a jaqueta.
Ela não esperou a resposta da amiga, passou na sua frente, descendo as enormes escadas em caracol da sua casa com uma classe invejável. A loira obedeceu, seguindo as amigas logo em seguidas.
As horas arrumando a festa haviam realmente valido a pena. As garotas tinham perdido boa parte da tarde escondendo itens de valor e empurrando móveis para abrir mais espaço.
A sala de Fatin estava inundada de adolescente e universitários, quase não dava para ouvir nada acima da música alta que saia das caixas de som estupidamente grandes. Shelby segurou fortemente na mão de Dot, sendo guiado pela mesma.
- Bebe! - disse Leah, assim que as meninas pararam ao lado da enorme mesa contendo alguns aperitivos e muita bebida.
A loira pegou a bebida amarelada, cheirando o líquido antes de levar a boca. O gosto de abacaxi com hortelã se sobrepôs ao da vodka, para a felicidade de Shelby.
- O que essa sapatão surtada tá fazendo aqui? - gritou Fatin, olhando para a porta de entrada.
Shelby seguiu seu olhar, surpreendendo-se ao encontrar Toni com suas amigas. Quase como magnetismo, os olhos castanhos foram atraídos pelos verdes. O coração da loira quase errou uma batida. Ela imaginava se a outra já havia achado o bilhete de "S", ficara frustrada ao perceber que não veria o lindo sorriso de Toni quando morena lesse.
A capitã do time de basquete estava especialmente deslumbrante aquele dia, com o cabelo castanho solto caindo em ondas. Ela vestia uma calça jeans preta que a deixava fodidamente sexy e um casaco verde musgo.
- Shel. - falou Fatin, apertando a mão da amiga suavemente.
A loira olhou para a amiga, sendo despertada do maldito feitiço de Toni Shalifoe.
- Eu não convidei ela. - continuou, captando cada expressão no rosto da melhor amiga. - Eu posso mandar ela embora. - completou, com um sorriso que deixava claro que aquele era seu desejo.
- Não, tudo bem. - respondeu Shelby apressadamente. - Vamos dançar.
A loira puxou Fatin para a pista de dança improvisada. As batidas da música pareciam fazer a casa inteira tremer, o coração de Shelby vibrava no peito com os graves que vazavam da caixa de som.
Leah começou a dançar com os olhos fechados, parecia sentir a música enquanto movia seu corpo. As amigas riram da cena, mas logo acompanharam a outra.

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A batida contagiante de Vibez, do Zayn, invadiu o ambiente. Shelby já sentia o suor acumulando na sua pele.
Ela começou a dançar mais lentamente, os quadris acompanhando as batidas da música enquanto suas mãos trilhavam caminhos difusos pelas suas curvas.
- Porra essa música me deixa excitada pra caralho! - confessou Fatin.
Shelby riu, observando a amiga erguer os braços e fechar os olhos, os quadris estreitos se movendo vagarosamente.
A loira virou uma quantidade significativa de vodka pura, a embriaguês já havia feito a bebida perder o amargor há muito tempo.
Sentiu que estava sendo observada. Olhou em volta com uma careta irritada no rosto, imaginando que deveria ser Andrew, o garoto da sua igreja que era obsedado por Shelby.
Suas feições se suavizaram quando viram a morena encostada na parede a fitando com aqueles olhos castanhos. A loira a encarou de volta, observando com um fascínio contido Toni Shalifoe levar com uma lentidão torturante seu copo aos lábios, com os olhos ainda vidrados em Shelby.
Sentindo a coragem líquida tomar conta de seu corpo, levando embora qualquer pudor que pudesse existir nela, Shelby Goodkind fixou seus olhos verdes em Toni, enquanto voltava a mexer seus quadris com uma vagarosidade provocante.
Os olhos de Shelby a queimavam, fazendo uma chama antiga acender no corpo da morena. Toni Shalifoe parecia magicamente presa no encanto da loira, enquanto ela dançava. Dançava para ela. A morena devorava o corpo da outra, seguindo com os olhos o caminho que Shelby percorria sedutoramente com as mãos, desejando desesperadamente que as suas estivessem no lugar.
A líder de torcida arregalou os olhos, repentinamente ciente do que tinha acabado de fazer. Ela olhou em volta, vendo tantos colegas de classe que frequentavam sua igreja.  Sentiu-se tonta, as paredes pareciam se fechar a sua volta. Precisava desesperadamente de ar.

                  *********************

As estrelas brilhavam lindamente no céu escuro, apesar da forte iluminação da cidade. Um vento frio soprava no rosto de Shelby Goodkind, trazendo algum tipo de sobriedade para sua mente confusa.
A loira olhou indecisa para a garrafa de vodka pela metade que segurava. Seus pensamentos estavam dando voltas em lugares sombrios demais. A garota virou um grande gole da bebida, decidida a deixar a culpa para o dia seguinte.
Fechou os olhos com força, sentindo certo conforto na dormência trazida pelo álcool. Shelby deitou nas telhas desconfortais da casa de Fatin, observando a imensidão assustadora do universo.
Ouviu a janela do quarto por onde ela tinha saído ser aberta e o barulho de alguém pisando cautelosamente nas telhas. A loira suspirou, Dot sempre acabava a achando cedo ou tarde.
- Eu sabia quase todas as constelações. Como pude esquecer todas elas? - divagou Shelby, os olhos semi cerrados concentrados na paisagem a sua frente.
- Eu não sou a melhor pessoa pra te ajudar. - respondeu a voz, que obviamente não era de sua amiga Dot Campbell.

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