7 anos depois da guerra
2 de Maio de 2005
Uma vez me disseram que quando você ama alguém, você é capaz de tudo para fazê-la feliz. Nunca acreditei nisso, até o dia que me envolvi com a minha pior inimiga. Uma amizade cheia de farpas evoluiu para um namoro e, por um ato de coragem, um noivado, contudo, cada lembrança eu apaguei de sua memória.
A culpa tece minha vida hoje, mas eu sabia naquela época que se não fosse assim, se eu não me tornasse seu inimigo, ela jamais conseguiria vencer essa guerra. Sem pensar, ela teria arriscado tudo para livrar meu pescoço, porém, ele já não era mais meu. Minhas vontades não me pertenciam, meus pensamentos eram tão vigiados quanto meu respirar.
Apagar minha existência foi uma das melhores escolhas que já fiz.
Não era como se eu fosse algo significante nesse mundo. Não passava de um grão de areia incômodo, aquele que todos queriam que o mar levasse para o fundo do oceano. Esse era eu. Draco Malfoy.
Avistei o céu, suas nuvens tingidas de laranja, roxo, rosa e um leve vermelho. Pareciam que enquanto o sol dava seu último adeus, alguém pintava com pinceladas gentis as nuvens.
O mar revolto batia com força contra o penhasco em que estava. Aquela era uma excelente vista. Dei uma risada amarga. O cheiro de whisky impregnou minha narinas lembrando-me da garrafa vazia jogada na grama perto da pedra. Aquela maldita pedra. Aquela que marcamos nossas iniciais... Como eu gostaria de jogá-la longe, mas não tinha forças para fazer isso, ela era o que restara de sentimentos dentro de mim mesmo. Não seria fácil recuperar eles, exigiria um grande esforço. Um que eu não tinha mais. No dia que ela deu-me aquele convite, foi o dia que o pequeno fio que me prendia a vida rompeu, largando-me no vazio.
Observei aquele maldito papel em minhas mãos. Quantas vezes tentei rasgá-lo ou queimá-lo, não conseguia contabilizar. Era assim. Eu estava morto, mas ainda sentia-me vivo ao lembrar de cada momento com ela. As lembranças recuperam minhas forças ao mesmo tempo que as esvaia. Aqueles olhos âmbar tão quentes quanto brasa, aqueles cachos esvoaçando contra o vento, o nariz arrebitado e seus lábios finos tão rosados quanto suas bochechas ao rir. Aquela mulher era minha perdição. Hermione Granger era minha maldição.
Fora ela quem me dera sentido, uma razão para continuar e por ela quebrei-me em mil. Ainda assim, mesmo que soubesse de como iria acabar, faria novamente. Era melhor que eu estivesse quebrado, sendo uma casca viva e oca, do que ela estivesse morta.
Observei as ondas furiosas mais uma vez baterem contra a rocha e a espuma branca subir antes de retornar a água. Se eu continuasse naquele mundo, meu coração fraco jamais deixaria que eu não fizesse nada e não poderia estragar sua felicidade. Dói saber que o fato de se esquecer de mim apagava seus sentimentos por mim, mas também me dá clareza. Eles nunca foram reais.
Quando mais uma onda bateu contra a rocha, a água pareceu vibrar e então ela apareceu translúcida na água. Ela me chamava, aquele âmbar quente igual brasa olhava para mim e não para ele. Me chamava em vez dele. Então atendi ao seu chamado. Talvez estivesse bêbado demais ao ponto de alucinar e ceder a meus instintos suicidas quando dei aquele passo para fora do penhasco. Minhas veias pareceram transbordar em calmaria no instante que senti o vento contra o rosto. Fechei os olhos. Eu ia ao encontro dela. Poderíamos ficar juntos assim.
Por toda eternidade.

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Obliviate
FanfictionDRAMIONE Memórias são as coisas mais preciosas que temos. Elas nos tornam quem somos. Mas e se alguém apagasse sua memória e você se recordasse delas no pior momento possível? Ir ou não atrás para tirar satisfações ou recuperar o tempo p...