Saga: entre Florença e Brogodó

O florescer do jardim

Era uma manhã belíssima. Por algum motivo, Úrsula passara a admirar a luz solar e ao sair na varanda de seu quarto sentiu a timidez do sol primaveril em sua pele:

― Ah, Itália! Buonissima Italia, come te non c’e nessuna. Herculano gostaria daqui, mais do que da França, com certeza. Imagine o encanto dele com o jardim de Boboli. – a ex-nobre suspirava ao pensar numa vida junto ao seu amado na bela Florença.

― Falando sozinha novamente, Duquesa? – a jovem ria ao abraçar a amiga pelas costas – Bom dia, minha querida.

 Celeste era como o próprio sol, a vitalidade e esperança para viver surpreendendo constantemente Úrsula. A ruiva lembrava exatamente de quando tinha visto a jovem se apresentar pela primeira vez, a voz encantadora...ela sabia que precisava leva-la consigo, o potencial era grandioso demais para ignorar. Portanto fizera uma proposta irrecusável: apresentações em todo evento de lançamento de coleção da Maestà. Sua casa de moda era uma das maiores na Europa, e a mais requisitada na Itália e a Duquesa sabia que precisava de um rosto que estampasse a elegância e delicadeza de suas peças, mas ao mesmo tempo potencializasse a força feminina e Celeste assumira esse lugar com maestria. Os clientes a adoravam e em pouco tempo as duas tornaram-se muitíssimo amigas e a prosperidade sorriu para ambas:

― Costuma ser sinal de boa educação responder os cumprimentos, Úrsula. – Celeste não conseguia ser séria perto da amiga e sempre estava fazendo alguma piada. A relação delas era marcada por sarcasmo e ironia, mas também por muito carinho e cuidado.  

― Mil perdões, cielo mio. Estou um pouco avoada hoje. Deve ser o cheiro doce das flores que estão desabrochando e invadindo todos os ambientes.

― Hm...você mente muito bem, sabe?  Pena que não consegue enganar a mim. – virando Úrsula, fitou seus olhos demoradamente – Você estava pensando nele. Eu já lhe disse que sou a favor de você ir ao Brasil e encontrar esse justiceiro ou sei lá como se chama esse tipo de pessoa.

― Não é tão simples assim, oras. Ele acha que estou morta!

― Mas você não está! Está aqui, viva, linda, uma das mulheres mais desejadas da Europa, poderia ter Reis, Duques, Condes e Generais em sua cama, mas está presa a esse bárbaro. Melhor ir e resolver isso, se não der certo, pelo menos você tentou e quem sabe assim não consegue ceder ao charme de Ettore. Ele é um homem belo, honesto e nem preciso falar da riqueza, faria de você a mulher mais feliz e amada do mundo, minha cara. – Celeste pegara as mãos de Úrsula, apertando-as levemente contra as suas.

Com o olhar tristonho e cabisbaixo, Úrsula decretou a própria sorte:

― Apenas um homem pode me fazer a mulher mais amada e feliz do mundo.

― Como você preferir, cuore. Vim lhe avisar que Filippa ligou do ateliê avisando que as moças já chegaram e estão se aprontando para fazermos o ensaio da apresentação. Você irá me acompanhar?

― Claro. Eu preciso focar nessa coleção, ela poderá abrir muitos caminhos nas Américas. Você sabe que planejo abrir um novo lugar fora da Europa e para isso é de extrema importância que a recepção para essas roupas seja positiva. – falar de seus planos enchia Úrsula de orgulho, ela nunca havia tido que trabalhar antes e percebera a importância de fazer algo para si e é claro que a fortuna que ganhava em decorrência disso possibilitara que ela subornasse um nobre de Seráfia, comprando o Perdão Real para si e Baldini. A compra do de Baldini fora mais por Cecília, a menina merecia ter a mãe e o pai presentes, mesmo que não fossem pessoas tão admiráveis assim, amavam a filha e queriam vê-la feliz, mas Úrsula também sentia que devia isso ao homem. Não acreditava nessa história de enfeitiçar, sabia que todos que deitaram em seu travesseiro fizeram por escolha, mas de qualquer forma aquilo a atormentava e após se reerguer tinha decidido ser uma pessoa melhor, assim como mãe. Desejava que Herculano pudesse ver e se orgulhar da mulher que ela se tornara, talvez assim, seria merecedora do amor de seu Rei.