Memória romântica

24 2 0
                                    

― Ah, capitão... - Herculano mordia sua mandíbula, raspando a barba em seu rosto - Desse jeito eu não resisto às suas investidas.

Úrsula encontrava-se presa pelo corpo do rei do cangaço, sentindo o colchão afundar cada vez mais com o peso dos dois, começou a desatar o nó da gravata, enquanto elevava o quadril que ia ao encontro ao do homem. Porém quando foi abraça-lo, ele a segurou fortemente pela cintura, sentando-a na cama:

― Eu disse que tu vai ser minha rainha essa noite - e dando um sorriso gentil passou para as costas da mulher. Úrsula sentiu um arrepio quando os lábios de Herculano tocaram seu ombro direito, enquanto suas mãos desatavam habilmente seu corpete.

Existia ali um calor diferente, um sabor próprio, um gemido novo surgia, e ela inteira ressoou por dentro com um arpejo. Seu corpo parecia anestesiado e ela sabia que não mais conseguiria viver sem aquele homem, ali residia o seu ponto final. Com um fervor recém-descoberto, virou-se numa busca desesperada pela boca de seu amado e ele, abrasado pelo calor da diaba, entrou no tango de línguas. Herculano observava atentamente a expressão de deleite da mulher quando ela, após desabotoar sua calça e tirar a cueca, se deparou com o membro semiereto. À medida que colocava o membro em sua boca - subindo e descendo, alternando as sugadas - aumentava o calor de seu corpo e o olhar dela era brasa pura, fazendo com que todos seus órgãos rogassem por ela. Quando já estava próximo do orgasmo, o capitão segurou fortemente o cabelo dela, pedindo um beijo exigente. Os corpos suados pareciam estar numa dança própria, dança que apenas Úrsula e Herculano conheciam os passos. Ele rapidamente deitou-a na cama, foi beijando gentilmente o corpo da mulher que ele chegou ao monte de Vênus. A duquesa não conteve o gemido quando o capitão sugou seu clitóris, agarrando a cabeça dele e prendendo a cabeça com as pernas. Entre gemidos e suspiros, ela chegou ao ápice.

― O que foi? - ela perguntou ao perceber o olhar risonho de Celeste.

― Meu deus, você realmente precisa ver esse homem. O que é preciso para te convencer disso, mulher?

― Ah, agora deu para estar insana? Francamente, cielo... - o rubor subia rapidamente pelo pescoço de Úrsula, atingindo suas bochechas em velocidade olímpica.

― Você é caidinha por um bárbaro e a insana sou eu? Mas já que a loucura está comigo hoje, me responde: todos esses suspiros apaixonados não são consequência de uma memória romântica?

― Com sinceridade - ela virou o corpo para a amiga, num gesto de total desconsolo - eu não sei o que tem acontecido comigo. Não consigo parar de pensar nele.

― Você só engana a si mesma tentando reprimir e fingir que esse sentimento não existe, querida. Acho que devemos fazer uma viagem ao Brasil, você não quer abrir uma loja nas Américas, a capital brasileira seria um lugar perfeito! Se acabarmos tendo que ir ao Nordeste por um acaso do destino...bem, sorte a nossa - terminou com uma piscadela maliciosa.

― Eu não sei...tenho medo da reação dele e não sei se é justo voltar assim, depois de tanto tempo, ele já deve ter se acostumado e aceitado a minha ausência.

― Não finja ser algo que você não é, Úrsula. Você sabe muito bem que - e enfatizando a probabilidade - se ele tiver aceitado é porque a morte é um caminho irreversível. Eu duvido que ele ficaria bem sabendo que você está viva e longe dele. Oras, o homem, pelo que você me disse, lhe tem um apreço gigantesco.

― E você sabe o que eu fiz, não é? Menti, fugi e não sei mais o que, ou melhor eu sei muito bem, simplesmente trai o homem que amo. Eu não mereço esse final de conto de fadas que você imagina, Celeste.

― Acho que o que falta é você se perdoar e para isso acontecer precisa ir ver esse homem, mesmo que seja para colocar um ponto final nessa história.

O mero pensamento de ser rejeitada por Herculano fez os olhos de Úrsula encherem de água. Ela não suportaria saber que ele não a ama mais, melhor deixar como está, vivendo em devaneios amorosos e memórias doloridas.

― Eu não posso, Celeste. Simplesmente não posso. Sei que é uma atitude covarde, mas essa é minha decisão final. Herculano jamais conheceria a felicidade ao meu lado, de qualquer forma. E eu também não conseguiria ser feliz tendo que abandonar tudo para viver ao lado dele no cangaço.

Com uma expressão irritada no rosto, Celeste abrira a boca para responder com furor desconhecido por Úrsula, porém antes que pudesse emitir qualquer som, foram interrompidas por Filippa:

― Sra. Úrsula, eu disse que a senhora está com o dia cheio, mas o senhor Ettore disse que é urgente - a assistente respirava pesadamente, o rosto estava vermelho como um tomate.

Olhando desconfiada para Celeste, decretou:

― Pois mande ele entrar, não é do feitio de Ettore ser inconveniente, a coisa deve ser realmente emergencial e peça para enviarem uma bandeja com chá e biscoitos, por gentileza.

― Essa conversa não terminou aqui, Úrsula - alertou Celeste antes de sair e fechar a porta do gabinete.

Saga: entre Florença e Brogodó Onde histórias criam vida. Descubra agora