Capítulo Um

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2 ANOS ATRÁS


- Argh! Seu... - Zayn balança a cabeça, negando, remoendo o assunto que lhe consome a alma, a cor das bochechas passeando do alaranjado para vermelho vivo. - Você não pode ter controle sobre tudo, Louis! Ninguém pode!

- Quer apostar? - Digo, implicando um pouco mais antes de abrir um sorrisinho cretino, o arremate perfeito para uma piscadela marota.
Quero ver de que cor seu rosto pode ficar. Sinto um ligeiro aperto no peito. Sentirei falta disso...

- Cabeça-dura! A vida ainda vai te mostrar e... - Vejo a resposta atrevida dançar em seus lábios, cambalear no ar e ser levada pelo vento.

Zayn olha para cima de repente, distraído pelas pinceladas de luz que fazem desenhos sinistros no céu, e acelera em direção ao parque de diversões de segunda categoria.

- Quando eu disse "uma noite de despedida" não era para ter levado ao pé da letra, Zayne . - Faço uma careta de pavor assim que ultrapassamos o decrépito arco de boas-vindas, uma guirlanda de letras desbotadas, bordas corroídas pela ferrugem, pendendo perigosamente sobre nossas cabeças.

Se a entrada já está assim...

- Ouvi ótimos comentários sobre este parque.

- Onde? No obituário da cidade? Dá uma olhadinha no ótimo - faço aspas com os dedos - estado da roda-gigante e do carrossel. Olha! Só sobraram os esqueletos dos pobres cavalinhos. E a montanha russa então? É, no mínimo, da época dos faraós!

Zayn revira os olhos, ignora minhas piadinhas e aperta os passos pela fileiras de barracas de algodão doce, tiro ao alvo e pescaria. Tento parecer imune, mas o ambiente decadente me gera um estranho mal-estar. Os rangidos do velho maquinário parecem uivos aflitos de correntes sendo arrastadas, e estão por toda parte. Sombras ganham vida, engolem as luzes às minhas costas, crescem no canto do olho e, sorrateiras, desaparecem em meio às pinturas descascadas e ao crepitar dos brinquedos. Um ruído estridente, de dor, emerge o galpão do trem fantasma e arranha meus tímpanos e nervos. Um arrepio percorre meu corpo inteiro.

- Deve ser aqui por perto - matuta ele.

Folhas secas rodopiam num balé mal coordenado ao nosso redor e são levadas para longe pelas incessantes rajadas de vento.

- Não tem nada aqui por perto além deste palhaço aí nos encarando com um sorriso psicopata. - Mostro o banner pendurado no poste a nossa frente. - Ele é a cara daquele boneco assassino. Qual era mesmo o nome...? Ah sim... Chucky!

- Quer parar com isso? - reclama Zayn. - Vou perguntar a alguém.

- Na boa, amigo... Tá todo mundo indo embora. Até os vendedores ambulantes já se mandaram. Vai cair um temporal! - Confesso meu desejo colocando a culpa no céu carregado de nuvens passadas. - Por que não voltamos outro dia? Mais cedo, de preferência.

- Não! - retruca ele, mais enfático do que nunca. - É a última noite do parque na cidade. Preciso encont... Ah! Achei! - Zayn vibra ao se virar para o kamikaze.

- Ah, não. Se não cairmos espatifados lá de cima, na certa morremos de tétano - resmungo com os olhos arregalados ao avistar o brinquedo onde meia dúzia de corajosos (ou loucos de pedra!) berra e camufla o ruído pavoroso da casa de máquinas.

- Não é nada disso, seu tonto! É ali. - Há algo travesso em seu olhar quando levanta o queixo e indica uma tenda amarela atrás do kamikaze.

- Madame Nadeje? - Se estou com a testa franzida, não é porque tenho que forçar a vista para ler o letreiro em péssimo estado. - Uma cartomante? Você me trouxe aqui por causa... disso?

- Luke afirmou que a vidente é um assombro, que acertou absolutamente tudo e nos mínimos detalhes. A mulher falou sobre coisas íntimas e que...

Treze - { Larry }Onde histórias criam vida. Descubra agora