Capítulo Sete

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- Louis, o café está na mesa - grita mamãe lá da sala.

Estou com os olhos abertos desde a véspera, insone e estranha. Sempre fui cético. Mamãe me criou sem religião, livre de qualquer tipo de crença, leia ou dogmas. Depósito minha fé no dinheiro e nas portas que só ele é capa de abrir. Divindades são formas de poder criadas pelos homens para nos castrar. Creio naquilo que posso ver e tocar. Portanto, a sorte e o azar para mim não existem. Sai estados de espírito criados pela nossa mente, energia pulsante que nos rodeia e atrai o que é inconscientemente ordenado pelo nosso pensamento. O amor, no sentido amplo da palavra, não existe. Trata-se de um sentimento mesquinho e egoísta, criado para aprisionar os amantes. Se o amor disse bom, não prenderia, mas sim libertária. Quem ama deveria dar sem pedir nada em troca. E todo mundo quer algo em troca. Todo mundo...

Não acredito nas pessoas, mas, para abalar como as minhas convicções, existem os... atos de bondade!

E a maldita cartomante percebeu!

Os atos altruístas endraquequem as minhas crenças e, por mais que eu resista, insistem em me surpreender. Preciso ser mais determinado em relação a eles. Mamãe diz que logo serei capaz de contornar este defeito, que é apenas questão de tempo e de maturidade. Não posso contentá-la porque ela nunca errou. Desde a morte de meu pai seus julgamentos e apostas sai certeiros. Tenho inúmeras provas, em diversos momentos, que confirmam tudo que ela diz. Sei que tem uma visão diferente do mundo e da vida. Não me importo que esteja fazendo de um um garoto apático, e não fico nem um pouco preocupado com a opinião dos outros. Gosto de ser do meu jeito. Não fantasio relação, eu as crio quando desejo e as elimino assim que se tornam desnecessárias oi cansativas.

Em breve serei senhor do meu tempo, dono das minhas horas, o meu próprio relógio. Não ficarei preso a convenções. Serei livre para ir e vir de onde quiser e quando desejar. Chega de abaixar a cabeça para os ponteiros desta vida repetitiva que somos forçados a ter. Nada mais de obrigações, horários a serem cumpridos que não sejam aqueles que eu bem entender. Fiz o básico nos estudos porque, mesmo com a vida que levamos, mamãe acha essencial para minha proteção. Sei que muitos a consideram uma pessoa estranha e amarga. Mas para mim ela é forte, destemida. Mamãe não acredita nas pessoas e em suas ações despretensiosas.

Eu também não acreditava.

Até conhecer Zayn, meu único amigo, dono de um coração gigantesco.

O que me remete de volta ao assunto dos atos desinteressados...

Mamãe diz que é questão de tempo, que logo Zayn também será contaminado pela vida e que acabarei me decepcionando com suas ações. Sinto um aperto terrível no peito toda vez que ela diz isso porque não quero aceitar. Meu coração afirma que Zayn é bondoso e que assim continuará.

E então surge em cena a tal Madame Nadeje.

Suas premonições ainda ricocheteiam em minha mente. Como ela sabia sobre nosso plano para hoje?

Assim que cheguei em casa, liguei para Zayn tirei a conversa a limpo. Ele jurou por tudo que é mais sagrado que não deu um pio sobre mim. Tinha contado, entretanto, que a cartomante lhe perguntou se ele acreditava em alguma divindade, Zayn confessou ser cristão fervoroso e, diante disso, foi orientado a fazer orações para mim e para minha mãe, em especial. A senhora pediu ainda que ele nada sobre a sessão, afirmando que o destino se encarregaria do restante e que os danos poderiam ser ainda maiores caso ela desse com a língua nos dentes, o que acabou acontecendo de qualquer maneira. Primeiro porque Zayn ligou os pontos e supôs que a mulher estava se referindo ao golpe e, com isso, não aguentou de tristeza e desabou, segundo porque eu ameacei acabar definitivamente com a nossa amizade caso ele não me revelasse toda a conversa.

Treze - { Larry }Onde histórias criam vida. Descubra agora