Capítulo Nove

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Escuto o barulho estridente de cadeiras sendo arrastadas, palavrões berrados e confusão vindos da cafeteria adiante, e, de repente, minha mãe surge correndo pelo corredor do saguão de embarque, os saltos dos sapatos chocando-se com força no lustroso piso de granito e reverberando ruidosamente nas janelas de vidro, nas respirações das pessoas e no meu espírito atordoado. Dois cachorros ferozes a perseguem quando ela passa pela área onde estou, e os policiais em seu encalço gritam ameaças. De repente um rosnado altíssimo, um berro de dor e, em seguida, ela desmorona.

O aeroporto paralisa, tão em choque quanto o meu coração.

Gritos de pânico, desordem e correria. Comandos para que as pessoas se acalmem são reiteradamente repetidos pelos policiais que surgem aos montes no recinto. Os alto-falantes comunicam que está tudo sob controle e que todos devem retornar aos seus lugares, que os embarques prosseguirão normalmente.

Mas o caos reina.

Algumas pessoas berram, apavoradas, outras tentam fugir a qualquer custo.
Uns loucos parecem se divertir com a desgraça alheia e filmam tudo, ávidos por compartilhar o escândalo na internet em primeira mão, o que fica cada vez mais difícil em meio à multidão que tenta se aproximar do local onde o suposto criminoso foi interceptado.

A criminosa: minha mãe.

Pálida, a funcionária da companhia aérea torna a estender a mão em busca do meu bilhete. Encaro-o, e a promessa arde em meus dedos. Eu fiz um juramento. Não olhar para trás. Seguir com o plano. Mamãe faria o mesmo, ela...

- O cartão de embarque, por favor - pede a atendente com urgência.

Desorientado, volto a vislumbrar o tumulto, o círculo de policiais envolvendo um corpo combalido no chão.

O corpo da minha mãe.

Meus olhos queimam como nunca, e uma dor terrível se alastra pelo meu peito. O que estaria acontecendo com ela neste exato momento? Teria sido gravemente ferida pelo cachorro? Quase como um robô, estendo o bilhete para a mulher, que o destaca e me deseja boa viagem enquanto, sem demora, chama pelo próximo passageiro. As lágrimas da covardia pesam em meu rosto e me denunciam. Abaixo a cabeça e caminho feito um sonâmbulo pelas rampas de acesso ao avião, entro na aeronave, localizo meu assento e desabo, um morto-vivo. Percebo que sou um dos últimas a entrar, que a maioria dos passageiros nem imagina a confusão que acaba de ocorrer lá fora, que minha mãe foi presa, que talvez ela esteja...

O comandante pede desculpa pelo atraso, comunica que decolaremos em poucos minutos, avisa que serão iniciados os procedimentos para decolagem e então...

É a minha vez de surtar!

- NÃO! - Meu berro estridente reverbera em todas as janelas da aeronave.

Disparo pelo corredor do avião, empurro uma comissária que aparece no meu caminho e saio feito um louco pela porta, veloz como uma flecha, de volta ao saguão do aeroporto, para os braços da minha mãe.

Ela voltaria por mim. Claro que voltaria!

Seu discurso sem um pingo de hesitação é uma grande mentira, sua maneira de me tornar forte. Ela não partiria sem mim. Jamais faria isso. E eu também não a deixaria para trás. Estou colocando um ponto final nos meus sonhos, futuro e liberdade, selando a minha condenação, mas não vou abandoná-la. Ela saberia que eu retornei por ela, que retornaria sempre que fosse preciso.

Chego ofegante ao saguão. O tumulto está relativamente controlado graças ao reforço no número de policiais. Eles fazem uma espécie de cinturão de isolamento ao redor do pequeno círculo onde minha mãe se encontra, afastando a massa de curiosos inoportunos. Entre empurrões e cotoveladas, vou me aproximando do epicentro da confusão. Há rastro de sangue no chão.
Escuto um policial falando pelo rádio, e, a seguir, paramédicos irrompem no local com uma maca a tiracolo. O cerco se abre para dar passagem. Não consigo enxergar os detalhes, mas capto os movimentos. Por um momento, o coração na boca, capto todos os movimentos. Até não conseguir captar mais nada.

Treze - { Larry }Onde histórias criam vida. Descubra agora