Capítulo Quinze

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Harry

Não, Harry! Dá carona para o garoto e desaparece!

Vai embora antes que se arrependa amargamente, cara!

Você sabia que arrumaria confusão quando resolveu sair da cafeteria para ir atrás dele. Você pressentiu que havia algo errado e resolveu bisbilhotar, mesmo tendo jurado nunca mais se envolver com os problemas alheios, seu idiota!, berra sem parar a voz da razão dentro da minha cabeça dolorida. Sei que estou nervoso e que acabei de quebrar uma regra importantíssima. Devia ter mantido a calma acima de tudo. Não podia ter entrado naquela briga e muito menos ter levado um soco no rosto. Meu estômago embrulha só em pensar que o coágulo podia ter estourado naquele instante, que corri risco de vida desnecessariamente. Não é verdade!, grita outra voz dentro de mim. Ela afirma que minha atitude foi por uma causa nobre, que aqueles babacas iam violentar o garoto.

Eu não podia deixar nada acontecer a ele...

Tento parecer calmo, mas estou pilhado. Louis também está tenso, e não quero piorar sua condição. Seu olhar é amedrontado e o tremor nas mãos denunciam o pavor que ele está sentindo. Estou com pena. Quero confortá-lo, mas me afasto. Não posso constrangê-lo ainda mais. Sei me manter afastado.

Aliás, sei fazer isso muito bem.

- Obrigada. De verdade - sussurra.

Em seguida sua voz trêmula me confidencia onde mora.

- Quer uma tortinha de maçã ou um bolo de fubá? O cupcake de chocolate com morango é ótimo para aliviar o estresse.

Aponto para a parte de trás da caminhonete abarrotada de guloseimas da cafeteria. Ele abre um discreto sorriso, mas rejeita a oferta. Ligo o motor e aumento a potência do aquecedor. Passo com o carro próximo aos corpos desacordados dos dois marginais. Olho para o garoto tão ferido ao meu lado. Instantaneamente minhas costas ardem, minha cabeça lateja e sou tomado por outra onda de fúria.

Piso no freio.

- O que você vai fazer? - Louis arregala os olhos quando abro a porta e saio feito um foguete.

- Espera aqui um instante.

Vou até o carro deles e procuro pelas algemas e cordas. Em seguida removo completamente a roupa dos dois e, apesar de não querer admitir para mim mesmo, sinto um prazer demoníaco com isso. Quero que os covardes experimentem do próprio veneno. Primeiro arrasto o careca até o carro e depois faço o mesmo com seu amiguinho cheio de músculos que só servem de enfeite. Jogo seus corpos frouxos, um sobre o outro, no banco traseiro do Toyota, prendo um ao outro com as algemas e amarro suas pernas com a corda. Fico imaginando a cara dos infelizes quando acordarem e se depararem com a primeira pessoa que aparecer. Bato a porta e arremesso as chaves longe.

- Por que demorou? O que você fez? - pergunta ele, preocupado, assim que retorno à caminhonete.

Ao ver que estou segurando as roupas deles, Louis fica de boca aberta e sem piscar nem uma única vez.

- Sinto muito, mas eu precisava...

- Foi... perfeito! - Há um sorriso de satisfação iluminando seu rosto perfeito.

Percebo que meus lábios parecem um espelho e se levantam apenas para aparecer minhas covinhas, ao menor sinal do sorriso estonteante dele. Apesar da baita enxaqueca, estou flutuando.

***

A chuva diminui, e o percurso até o prédio dele é tranquilo e rápido. Até demais.

- Eles não vão aprontar outra. Pelo menos, não tão cedo - digo, tentando acalmá-lo. - Mas acho que você deve procurar a polícia.

Ele sorri, mas seu sorriso não alcança os olhos.

Treze - { Larry }Onde histórias criam vida. Descubra agora