Capítulo Quatorze

17 1 0
                                    

Esse capítulo contém cenas explícitas sobre abuso, caso for sensível ao assunto, por favor, não leia.

***

Aperto o passo e protejo o rosto do vento e da chuva enquanto desvio das poças no caminho. Sei que, se diminuir o ritmo, minhas pernas vão congelar. Não de frio. De pavor. Durante o trajeto tento me convencer de que será apenas um encontro, com sexo casual. E sexo nunca foi problema para mim.
Era esperar por uma transa ruim e pronto. Apenas isso. Não quero imaginar que talvez haja violência ou atos sem meu consentimento.

Não, dá! Não vou fazer isso! Vou pegar meu carro e me mandar daqui!, resolvo, determinado, e saio correndo. De repente, travo. Acabo de lembrar que havia estacionado meu carro em uma vaga perto do Instituto de Ciências Exatas para a aula de economia na véspera. O mesmo lugar onde os dois canalhas estariam esperando por mim. Droga! Eles já sabiam disso! Não posso ir para lá! Desisto da ideia e decido voltar para a casa a pé. Não tenho dinheiro para táxi. E, mesmo se tivesse, de nada adiantaria. Não há uma alma penada no lugar, nenhum segurança, ônibus ou carro circulando pelo campus da universidade. A chuva ininterrupta e a temperatura em franco declínio se encarregaram de expulsá-los. Tentando não tropeçar na rua de pedras desniveladas e fugindo das áreas alagadas, ajusto o capuz do casaco e volto a correr. Atordoado, acelero o máximo que consigo. Fujo do óbvio e faço caminhos alternativos com a intenção de despistar os cretinos caso resolvam vir atrás de mim, e, sem me dar conta, acabo me embrenhando por ruas ladeadas por muito mato, locais ainda mais desertos e desconhecidos do imenso campus universitário. Perco a noção de onde estou e que direção tomar. A chuva cria uma cortina fantasmagórica, envelopa tudo e deixa a visibilidade péssima. Droga!

Entre escorregões, taquicardia e dor abdominal, meu celular toca. Não é Zayn nem Galib, as únicas pessoas que têm o meu número. Há um alerta em minha mente. Teria Davi conseguido meu número? A ideia me congela mais que o ambiente ao redor. O celular insiste, e, deixando a covardia de lado, eu atendo.

- Alô - digo, ofegante.

- Louis? - A voz hesita do outro lado e perco a linha do raciocínio.

Os uivos do vento não ajudam em nada.

- Quem está falando?

- Sou eu. Stan.

- Stan - balbucio seu nome, aliviado. E feliz. - É você mesmo?

- Por que está ofegante? - Sua voz gentil começa a falhar e interrompo a corrida antes que a ligação caia. - Está tudo bem?

- Sim. Eu... - começo, quando, repentinamente, um farol cresce feito um raio.

- Achei você, delícia! - A fala arrastada faz cada vértebra da minha coluna se transformar em um bloco de gelo, sinto a bile subindo.

Acho que vou vomitar.

- O que está havendo? - Escuto a voz de Stan, agora distante, chamando por mim do outro lado da linha. - Louis? Alô!

De repente a porta do passageiro se abre e o tal Lúcio pula em cima de mim feito um bicho raivoso. Caímos os dois na calçada. Sinto uma fisgada aguda na perna esquerda enquanto assisto a meu celular voar e desaparecer em meio ao gramado mal-aparado.

- Me solta!

Minha respiração fica presa. Borrões enegrecem minha visão.

- Vai se arrepender por ter bancado o espertinho, hacker. - Davi vem ao encontro do comparsa. Ele afunda os dedos na minha pele e, com semblante assassino, ajuda Lúcio a me arrastar. - Seria um de cada vez, para não te maltratar muito, mas agora... - Há veneno escorrendo em meio às palavras.

Treze - { Larry }Onde histórias criam vida. Descubra agora