Capítulo 9

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Hinata enfraqueceu completamente do dia para a noite. Como se toda sua vitalidade tivesse sido sugada. Vivia cansado demais e não abria a boca para comer nada e nem beber água. Seus braços estavam todos agulhados, recebendo soro. Yachi veio o visitar no dia em que minha irmã ficou doente, no caso, ontem. E em um dia, isso acontece.

— Você é incrível — afirmei, tirando alguns fios de seu cabelo alaranjado do rosto.

— Você também é — sussurrou, os olhos estreitos perdidos em devaneios de sua mente.

— Não tente ser gentil...

Suspirei, me jogando contra a cadeira.

— Estou sendo sincero, Tobio.

É a primeira vez que meu nome ressoa de seus finos lábios. Estremeço, tentando conter a animação.

— Te acho uma boa pessoa, Shouyo, mas você nunca mereceria alguém como eu. Eu sou um desastre.

Hinata solta um risinho de escárnio.

— Acho que seria o oposto, não? Você merece coisa melhor. Deveria gostar de alguém saudável, não alguém doente.

Me agitei na cadeira.

— Sabe que eu tenho razão nisso. Quero te ver feliz independente de como ou com quem. Não me ajuda saber que você está preso a mim aqui. No final... de tudo isso, o único que vai sofrer será você.

— Para de pensar essas coisas, boke! — me exalto, sentindo o sangue fervilhar. — Quem me faz feliz é você! E vir aqui me faz feliz! Eu não vou sofrer no final de nada, porque você está melhorando!

Hinata se cala, encarando o teto. Pequenas gotículas circulam ao redor de seus olhos e ele estica a mão, tentando me alcançar.

Eu não deixo. E ele recolhe a mão.

— Me desculpa, Tobio.

— Não.

Ele funga.

— Não queria... eu não quero pensar nisso. A ansiedade me corrói cada dia mais e a única coisa que anda me acalmando é você. Então, por favor, aceite minhas desculpas...

— A gente exagerou.

— A gente exagerou — repete, virando a cabeça para me olhar. — Yachi me trouxe uma coisa ontem. Pode pegar ali naquela sacola?

Eu obedeço, levantando e indo até a mesa. Há remédios enfeitando o tampo de madeira, e eu engulo em seco reconhecendo o nome de alguns que estão presentes. Meu avô tomava eles.

Deixo a sacolinha em cima da maca e ele quase a derruba.

— Pega o que tem dentro.

Eu faço isso. Colocando a mão e sentindo algo redondo. Quando puxo e abro minha mão, um chaveiro com uma...

— Tangerina?

Ele mexe a cabeça, confirmando.

— Feliz aniversário, Tobio. Obrigado por cuidar de mim todo esse tempo, e apesar de tudo, ficar ao meu lado. Obrigado.

Encaro mais uma vez o chaveiro e o aperto junto ao meu peito. Não me recordava do meu próprio aniversário e em pensar que seria lembrado por Hinata Shouyo é ligeiramente irônico visto que ele esquecia até como vestir a própria roupa adequadamente às vezes.

Me inclino sobre a maca e beijo sua bochecha por impulso. Entrelaço nossos dedos e faço um singelo carinho com meu polegar. Isso faz Hinata recuperar a cor do rosto e o brilho no olhar, abrindo um largo sorriso tímido. Eu estou imitando ele.

— Desculpa eu...

— Não pede desculpa. Eu gostei. — E ele se aninha mais na maca, pronto para descansar aparentemente. — Talvez você devesse fazer isso mais vezes.

Ele se aconchega, movendo a nuca pelo travesseiro e espalhando o cabelo pela fronha. Está feliz, e fechando os olhos para dormir.

— Não me abandone, Tobio.

— Jamais faria isso, Shouyo.

Hinata fecha os olhos.

E eu me permito soltar o ar preso em meus pulmões. Droga, eu o amo. Essa sensação é tão estranha. Eu realmente estou apaixonado por ele. Estou apaixonado por Hinata Shouyo. E não sei como me expressar, não sei como dizer com ele acordado. Quando ele fecha os olhos, a força de vontade aparece para dizer.

— Ei, Hinata...

As pálpebras dele se apertam e eu paro de falar. Mas ele está respirando pesadamente, o que significa que está dormindo.

— Sabe, eu... esse tempo todo...

Que droga eu estava dizendo, afinal?

— Eu construí um muro ao redor de mim. Um muro alto. E é engraçado pensar que mesmo com esse seu tamanho você conseguiu passar por ele. É só uma doença. Se você conseguiu quebrar a muralha alta ao meu redor, conseguiria suportar isso. Você já suporta Shouyo.

Sorrio de canto, analisando levemente o monitor cardíaco.

— Eu nunca disse isso pra ninguém antes, e tenho certeza de que se estivesse acordado você iria me zoar muito agora.

Não sei por que as lágrimas estão escorrendo do meu rosto. Não sei por que estou insistindo em prestar atenção no monitor cardíaco.

— Eu amo você, Shouyo.

Intercalo meu olhar de novo com o monitor e me amaldiçoo por isso.

Por que seu coração tá tão acelerado? Seu inconsciente está absorvendo o que falo, certo? E é por isso a reação do seu corpo?

Eu congelo por um instante, parecendo sentir o mundo parar. A chuva lá fora não iria fazer isso. Não poderia simplesmente parar? Sinto que um raio caiu bem em cima do hospital, por isso a queda de luz. O trovão ressoa pelas paredes, fazendo o vidro da janela balançar.

Meu coração se acelera e minha respiração está descompassada.

Não posso deixar o pânico tomar conta de mim desse jeito. Respiro fundo e analiso o rosto sereno de Hinata. Ele está sorrindo sem mostrar os dentes. É fofo.

Mais um trovão.

E lembro do dia em que nos esprememos na maca. No dia que eu me espremi na maca e Hinata grudou em mim. Como ele se acalmou mesmo com medo. Ele se acalmou ouvindo meu coração.

Eu me abaixo para fazer o mesmo, colocando a cabeça em seu peito para me acalmar. Mas não os escuto.

Não escuto o coração de Hinata.

Meu olho se arregala e mais um raio, mais um trovão. A chuva batendo na janela. O monitor cardíaco retoma a vida e começa a apitar em linha reta.

— Shouyo? — eu o chacoalho, na esperança que acorde e me dê um tapa. Que acorde e mostre um sinal de vida, mas isso não acontece. Não acontece. — S-Shouyo! HINATA!?

Era só uma doença - KageHinaOnde histórias criam vida. Descubra agora