Os pingos da chuva caíam como chumbo no cimento. Eu os escutava pesadamente, esperando junto a Hinata que a luz voltasse. Eu segurava em sua mão com força, para ele saber que eu nunca o abandonaria. Um raio corta o céu em dois e Hinata se encolhe na maca.
Eu o encaro, desejando que o barulho parasse também. Ele parece notar meu desconforto mesmo aparentando estar visivelmente mais abalado que eu.
— Vem aqui.
Hinata vai para o lado da maca, eu balanço a cabeça e estou prestes a contestar quando outro relâmpago reverbera pelas paredes do quarto. Estou deitado ao lado de Hinata e ele me estende a coberta, me cobrindo.
Estou respirando mais rápido e nem quero olhar em seus olhos agora. Vejo o clarão na janela e aperto as pálpebras, prevendo o tamanho do estrondo.
É alto. É muito alto.
O ruivo passa o braço por cima de mim e me abraça, se aconchegando mais em meu peito. Espero que eu consiga fazer meu coração parar de soar tão alto e rápido antes que ele perceba.
Hinata grunhe algo quando a chuva começa a bater na janela. Eu não escuto, estou atordoado demais com o temporal e com ele agarrado a mim. Não sei o que está me desesperando mais para falar a verdade.
Respiro fundo. Começo a contar até dez. Vai passar. Tem que passar.
Ele me aperta mais à medida que o som se expande por todo o cômodo, e nem sei em que momento meu braço está embaixo do pescoço dele, servindo como travesseiro.
Me sinto anestesiado e me espremo mais para perto da grade que impede nossos corpos de cair. Assim, Hinata terá mais espaço caso queira se desgrudar. Espero que ele não queira.
Meu outro braço repousa na cintura dele e por incrível que pareça, eu fecho os olhos uma última vez antes de apagar completamente.
(...)
Hinata está dormindo quando eu desperto. Ele respira pesadamente contra meu peito, e não consigo acreditar como ele não morreu asfixiado naquela posição.
Sinto meu braço formigar embaixo de seu pescoço. Pelo menos o temporal passou. Estava tudo bem. Até a mãe de Hinata entrar dentro do quarto e a luz do hospital voltar bem na hora.
Devo estar vermelho porque ela coloca a mão no peito e suspira. Até ela estreitar os olhos e me ver na maca, junto do filho dela.
— Ele dormiu? — É a incrível pergunta que faz e eu quase agradeço por isso.
Seria embaraçoso demais tentar pensar em algo que não seja: seu filho pediu para eu subir e eu obedeci. É humilhante demais.
— Sim, dormiu — digo, vendo a mãe dele sorrir aliviada. — Ele finalmente dormiu.
E deve ter se passado horas desde que caímos no sono.
— Se eu soubesse que ele dormiria agarrado com você teria te chamado antes — diz, naturalmente.
Pronto. Estou pegando fogo e tenho certeza disso.
Hinata se mexe e levanta com dificuldade, encarando a mãe.
— Mama! — ele diz, envergonhado. — Não fale essas coisas! É esquisito! E... e... e é constrangedor!
A Senhora Hinata ri, tampando a boca e se desculpando por estar rindo tanto. A única coisa que sei fazer é abaixar a cabeça e massagear meu braço adormecido.
Hinata resmunga mais algumas coisas, surtando.
Deixo um sorrisinho escapar por ele estar desse jeito.
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Era só uma doença - KageHina
Hayran KurguNunca havia visto ele assim, e o ver desse jeito só me fez pensar como sou egoísta. Só queria ser feliz como ele, mas ele não era realmente feliz. "É só uma doença", vivia dizendo. Isso com certeza me deixava irritado, mas não queria discutir, só qu...