Meninas Vestem Azul & Meninos Vestem Rosa

1° dia

O 1° dia não foi lá aquelas coisas. Não aconteceu nada demais, mas pelo menos não aconteceu nada de ruim. Mas eu vou ser "calma" na explicação, para ser bem detalhado.

Depois que meu irmão cansou de me perturbar, eu fui tomar um banho, e logo depois, fui tomar café.

Enquanto eu tomava café, ouvindo música num fone de ouvido, minha mãe me lembrava de que eu teria que ir com meu irmão ao Colégio, durante o ano, mas, é claro, como eu estava ouvindo música, não dava para ouvir nada do que ela falava. E foi nesse momento, que alguém bate na porta da nossa casa. Minha mãe foi ver quem era, e chamou pelo meu nome. Obviamente eu não a escutei, e continuei tomando o meu café. Segundos depois, ela vem até mim, e tira o fone do meu ouvido:

– O Dave está aqui, ele quer te acompanhar até a escola!

– Por que?– Por mais que eu tivesse tomado banho, tecnicamente eu havia acabado de acordar, e estava bem... Resmungona. – Ano passado ele não me acompanhava, por que esse ano ele quer?

– Acordou de mau humor, resmungona?– Perguntou Dave entrando na cozinha.

– Minha mãe deixou você entrar aqui? Enfim, isso não importa... Desculpa, acordei de mau humor. – Respondi.

– Tudo bem. – Dave me perdoou. – Mas então, tudo bem se eu, à partir de hoje, começar a ir com você à escola?

– Portanto que você aguente meu irmão chato, sim, tudo bem.

– Filha, não fala assim do seu irmão para os seus amigos, o Billy é um menino muito bonzinho!– Minha mãe foi em direção a pia da cozinha, para lavar a louça.

– Isso porque ele é filhinho de mamãe... – Resmunguei, com medo de levar uma bronca.

– Bom tudo bem, vocês vão à escola juntos, com o seu irmão, e está tudo bem. – Começou a lavara a louça. –Mas seus pais estão sabendo disso, né Dave?

– Sim, senhora Pye. – Respondeu Dave.

– Ah meu filho, não me chame de Senhora, fica parecendo que sou velha, me chame pelo meu nome, ou de tia, que é como os amigos íntimos chamam os pais dos seus amigos.

Mas ela é, ela é velha. Bom, por enquanto tudo bem. Minha mãe parecia que nunca tinha visto o Dave na vida, de tanta delicadeza para conversar com ele. Mas na verdade, sempre quando tem trabalho escolar, o Dave vem aqui para casa. Acho que minha mãe não anda muito bem da cabeça.

Depois quando estávamos todos prontos, fomos à escola. O caminho até o colégio a pé é de 15 minutos, mas com o Billy tagarelando, parecia uma eternidade:

– Então o que vocês acham do meu desenho? – Perguntou Billy, se achando um artista após ter feito um desenho de palitinhos.

– Tá uma bosta... Hoje eu tive um pesadelo muito estranho... – Respondi puxando outro assunto.

– Um pesadelo antes do 1° dia? Será que é uma indireta?– Dave riu da minha situação.

– Não, acho que não. O pesadelo era bem diferente de todos os outros que eu tinha tido. Não tinha nada haver com avião caindo, ou eu caindo da cama em um universo paralelo... Era muito estranho...

– Então conta, o que tinha nesse pesadelo para ser tão diferente?– Perguntou Dave.

– Eu estava descendo as escadas, e no final, tinha uma sombra me chamando, e cada vez que chegava mais perto, ela ficava mais clara, e quando eu finalmente iria tocar nela, o sonho acabava.

– Nossa, os sonhos terminam na melhor parte, né? Qual será que é o significado?

– Significado?

– Sim. Geralmente os pesadelos têm um significado, seja do que aconteceu ou do que ainda vai acontecer na sua vida.

–Então o que vocês acham desse desenho?–Perguntou Billy, interrompendo nossa conversa.

– Ninguém quer saber dos seus desenhos, Billy... – Respondi de maneira agressiva e Billy se encolheu. – Não parei para pensar nisso. Pode realmente ter um significado!

–Mas, antes a gente teria que saber como é essa sombra... Como ela era, e qual era a altura mais ou menos?

–Billy, me dá esse caderno. – Ordenei.

– O quê? Por quê?– Perguntou Billy, assustado.

– Me dá!– Gritei pegando o caderno de sua mão. – E o lápis também.

– Vai desenhar a sombra?–Perguntou Dave.

– É né...

Comecei a desenhar do jeito que vi, não tive muito tempo, então o desenho não ficou caprichado:

– Uma sombra escura e sem rosto, mas ela parecia conhecer você, ou você parecia conhecer a sombra... Se ela ficava mais clara, essa sombra pode ser alguém que está fazendo muita falta na sua vida, mas eu nem sei, pode ser que eu esteja falando besteira... Acha que pode ser seu pai?– Perguntou Dave.

– Não sei, eu teria que pesquisar para ver o significado... Você acha que pode ser meu pai?- Perguntei.

–Nosso pai apareceu no seu sonho? Eu nunca sonhei com o papai, infelizmente. – Disse Billy, interrompendo novamente.

– Acho que sim... –Respondeu Dave.– Mas, também pode ser outra pessoa né, ou simplesmente pode nem ser uma pessoa, mas um objeto, ou algum desejo. Os sonhos têm vários significados, e os pesadelos mais ainda.

Aquilo que Dave disse daquela sombra poder ser meu pai ficou preso na minha cabeça, será que realmente era meu pai? Ou outra coisa, como algum desejo.

Chegamos finalmente no Colégio. Lotada de gente, é obvio, ninguém falta o 1° dia... Só o Dave. Quando entramos, entreguei o caderno e o lápis ao meu irmão, e ele foi até os seus amigos:

– Mas e aí Pye, como foram as suas férias? – Perguntou Dave.

– Opa, olha quem chegou! Millie Pye e seu amigo ridículo. A garota mais bonita da escola acaba de chegar pessoal! Aí Millie, você não é sinal vermelho, mas hoje, você tá de parar o trânsito!

Quem disse isso foi o Nate, ele é um garoto "esportista" como ele mesmo diz. Ele é do time de futebol da escola, e dá em cima de todas as meninas do 9° ano. E eu não sou a garota mais bonita da escola, ele sempre diz isso para todas as garotas que ele dá em cima, mas é claro que nenhuma menina "dá corda" para ele porque todas sabem que ele não vale nada.

– Essa foi péssima, Nate. – Respondi, ajeitando as minhas coisas para sair daquele local.

– Ah, tudo bem, um dia você vai achar alguma cantada minha, muito boa.

–Disso eu duvido. – Retrucou Dave.

– Vamos Dave, é melhor irmos. – Mostrei estar irritada.

–Não, tudo bem, deixa que eu vou indo... – Disse Nate, saindo com seus amigos. – Não quero atrapalhar o casal. – Completou rindo.

Sério, por que o Nate acha que algum dia, eu vou dar alguma chance dele ficar comigo? Eu nunca vou ficar com um "atleta", todo mundo sabe que os esportistas, são os mais babacas, pelo menos nos filmes, então, isso também deve acontecer na vida real. E ele também se acha "a última bolacha do pacote", não quero ficar com um garoto assim.

Mas, mal eu esperava que aquele dia só estava começando, e que iria me testar, para ver se realmente, eu me irrito facilmente.