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Dulce María Saviñón || 😎😈

A parede foi uma grande rede de apoio para as minhas costas no momento em que coloquei os pés para dentro do quarto. Eu ainda tentava processar tudo o que havia acontecido desde a confissão dele. Do Luís, o Professor Uckermann. Cada detalhe da nossa conversa no casebre voltava à tona de forma tão vívida que meu corpo reagia antes mesmo que eu pudesse controlar. O jeito como ele apertou meu tornozelo, o toque que deveria ter sido casual, mas que acendeu algo dentro de mim. E aquele perfume... Meu Deus! Como sou patética!

Sua voz masculina sussurrando perto do meu ouvido, no auge da tensão. "Não. Não, não, não!" balancei a cabeça, tentando afastar o calor que subia pelo meu corpo só de lembrar do maldito belisco que ele me deu. Inferno! Revirei os olhos, irritada comigo mesma por saber que esse tipo de pensamento só iria me complicar ainda mais. E não importava o quanto eu tentasse afastar essas lembranças, elas se infiltrariam em cada canto da minha mente, dominando tudo.

Aquele Luís que eu conhecia antes estava diferente; ele parecia mais maduro. Seus traços, agora mais marcados pela idade, o tornaram ainda mais atraente. E mesmo que eu não quisesse admitir, ele continuava um Deus.

Desde o primeiro dia em que ele atravessou a porta da nossa sala de aula atrás daquela anta, algo na sua aparência me chamou a atenção. Era como se eu já tivesse visto aquele rosto em algum lugar, mas, presa na minha missão de planejar uma fuga do colégio, não dei tanta importância e logo comecei a implicar com ele, como fazia com todos os novatos.

Enquanto esses pensamentos intrusivos me atormentavam, não pude deixar de notar que a Zoé estava recostada na cabeceira da cama, concentrada em um livro sob a luz suave do abajur. A cena era tranquila, mas, em contraste, Dani estava em seu milésimo sono, completamente apagada, com a coberta quase cobrindo toda a cabeça. Como ela conseguia dormir assim, sem sufocar, era um mistério para mim.

Respirei fundo, tentando me afastar das lembranças de Luís e focar no presente. Olhei novamente para Zoé, que parecia tão absorta em sua leitura, e desejei poder encontrar um pouco daquela paz mesmo que eu a destestasse na maior parte do tempo.

—  Nem vi você entrar! — disse Zoé, levantando o olhar por cima do livro. — Achei que já tivesse ido embora.

Fui dando passos em direção à sua cama, que ficava ao lado da minha, mas não me sentei.

— Não deu. — Encolhi os ombros. — Infelizmente fui pega antes de sair.

Ela torceu o nariz.

— Com certeza foi um daqueles dois idiotas que me deduraram para o professor. — Cerrei os punhos, só de imaginar o que faria com os dois na manhã seguinte.

Zoé, estranhamente, tampou o rosto com o livro e não disse nada, apenas fechou-o e apagou o abajur, me desejando boa noite  sugerindo que eu fosse tomar banho, já que, segundo ela, o meu odor não era dos melhores.

Ainda assim, não a obedeci. Comecei a sacudi-la até que abrisse os olhos e me encarasse. Eu precisava conversar com alguém, e ela tinha que me escutar.

— Zoé, preciso desabafar. Aconteceu tanta coisa...

— Me deixa dormir, porra! — ela bradou furiosa, afastando minhas mãos bruscamente.

— Você está estranha. Não está me escondendo nada? — perguntei, cruzando os braços, determinada a descobrir o que estava acontecendo.

Mais uma vez, ela ficou muda, não me dando a resposta que eu precisava. A expressão dela dizia tudo; Zoé sabia de algo e não queria  me contar.

𝑂𝑑𝑒𝑖𝑜 𝑎𝑚𝑎𝑟 𝑣𝑜𝑐𝑒 -𝑉𝑜𝑛𝑑𝑦. Onde histórias criam vida. Descubra agora