Infância II

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Eita pêga!

Que saudade que tenho,

Do tempo que longe vai.

Quando eu era pequenininho.

Recordo-me como se fosse agora,

Os dias dos quais eu venho,

Mãe, eu inocente; Junto de papai,

No romper de nossa aurora.

Me vem aos olhos a lembrança,

Na forma dessa salgada agonia,

Revê-lo iludidos de temperança,

Do adeus que se fundia.

Lembrar de minha casinha agora,

Tão pequena, de madeira.

Cercada por um mar esverdeado,

Lá adiante, mundo a fora,

Beirando a velha estradeira.

Eu tinha o meu reinado.

Andava para qualquer lado,

Tão distinto era eu, criança.

Tão feliz nessa aliança

De inocência, mundo e grado.

Era a tardinha, mamãe preparava

Os banhos de balde e canecão.

E gritava para vir banhar, pois

O dia já se ia indo. Atarefada,

A janta que atrasava no fogão,

Titia que iria longe estudar,

E Nono vinha histórias me contar,

Dos tempos que longe vão.

Das lembranças que mais machuca...

...

Dói quando vejo a velha goiabeira

Lado a lado ao coqueiro,

Acenando com tantas saudades;

Ela era meu castelo. Traiçoeira,

Não abrigava nenhum estrangeiro,

E solícita me abraçava as tardes.

Goiabeira do tamanho do meu mundo,

Que seus galhos fortes me acolhiam,

Tão feliz, eu só sorria.

Goiabeira, tu não mais peleias

Me dói nesse peito, dá tremedeira,

Saber que não mais ladeias,

Aquela saudosa casa de madeira.

Me lembro muito bem, e sorrio,

Dos fins de tarde na rede deitado,

Aos debates com titia.

O céu, ela e eu num trio.

Eu escolhendo tão empolgados,

Em qual nuvem ao céu eu iria;

Era nosso paraíso no chão,

E éramos muito felizes;

Na roça, em casa, com as estrelas

Vivendo esse mar de amor sem fim.

Que mar é esse que canto?

Era meu sertão verde tão amado,

E que hoje está no passado

Por quem canto tão triste assim.

Esse canto descontente

Há saudade de minha alegria.

Pois o tempo mudou tudo,

Derribou o meu sertão inocente,

Destruiu a minha magia e

Fez se tristeza o mundo,

E mudamos para longe de tudo.

Ah, recordo-me com saudade,

Daquele pequeno espaço que eu tinha

Onde uma casinha de madeira,

Um quintal, uma goiabeira e poucas coisas,

Eram deverás tão grande

Quanto o universo a que provinha.

DistanteOnde histórias criam vida. Descubra agora