- Capítulo 5

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Felizmente - ou infelizmente - reparo no que estava prestes a acontecer e logo trato de me afastar, dando um simples sorriso e dizer:

- Está ficando tarde, tenho de ir antes que fiquem preocupados comigo e lancem um anúncio dizendo que desapareci. - ele ri levemente

- Tudo bem. Vá com cuidado Sabina. - ele diz com a voz calma me transmitindo uma tranquilidade que nem este lugar me transmitia.

- Eu irei.  Até um dia Noah! - digo com um sorriso. Mais um dos mil sorriso que lhe dei e nem havia percebido antes.

- Até um dia Sabina.

Logo que ele acaba de falar eu passo por ele indo embora, e antes que me afaste, sinto ele tocar minha mão, a entrelaçando rapidamente com a minha. Sinto meu coração quase me sair pela boca, mas então ele as separa, me fazendo continuar a andar para voltar para casa.

Me sento no assento já dentro do carro, encosto minha cabeça no encosto do banco do condutor e respiro fundo. Me olho pelo retrovisor e vejo que ainda estou sorrindo. Soltou uma risada nasal e começo a dirigir até casa.

Lá chegando, entro, fecho a porta, me dirijo até o meu quarto, fecho a porta do mesmo encostando, de seguida, minhas costas nela, suspiro novamente ainda sorrindo e de olhos fechados.

Abro os mesmo ao ouvir a voz da Joalin.

- Finalmente a princesa decidiu aparecer. Você não tem telemóvel para atender minhas chamadas ou responder minhas ligações? - ela me repreende sussurrando devido às horas é meus pais já estarem a dormir.

- Desculpa Joalin, eu te avisei que ia sair. Eu coloquei o telemóvel no silencioso. Eu precisava de sair e respirar, me acalmar.

- Pois, vejo que se acalmou bem. Ou alguém te acalmou. - ela diz com um sorriso ladino que eu já conhecia bem.

- Não começa com histórias Joalin, eu sai, respirei ar puro, e me acalmei. Perdi a noção das horas e quando vi que já tinha escurecido decidi voltar.

- Hm sei - ela diz ainda não convencida - Me conta, o que aquele animal fedorento te disse?

- Podemos falar amanhã? Estou cansada. - ela assente me compreendendo.

Me deito ao seu lado na minha cama, ela me abraça pelos ombros e eu deito minha cabeça no seu peito e adormecemos. Por mais que ela às vezes possa ser chata e um pouco intrometida, ela será sempre meu porto seguro, meu pontinho de paz. E eu serei-lhe sempre imensamente grata por isso.

Sabina Hidalgo
27 de setembro

Quase uma semana havia se passado. Quase uma semana que eu sabia que estava a morrer. Eu sei que isso acabaria por acontecer, mais cedo ou mais tarde, e neste momento eu devo ter menos de 1 ano de vida.

Desde então ainda não tive mais consultas nem ido ao hospital, quase que parecia que tudo isto não tinha passado de um horrível sonho, um pesadelo. Quase, porque a falta de ar que sentia às vezes me perseguia e me fazia lembrar que não é uma coisa pequena, muito pelo contrário, é uma coisa que pode se espalhar pelo resto dos meus órgãos e me matar mais rápido ainda.

Mesmo assim eu não parei minha vida. Não podia deixar que o cancro me fizesse parar de viver. Já bastava que me iria - muito provavelmente - tirar a vida, não podia deixar que ele tivesse o prazer de me estragar os meus últimos meses de vida, e por isso, decidi fazer uma lista de coisas para fazer antes desta doença estúpida me impedir. E bem, eu estava tentando começar a realizá-la. Óbvio que existiam coisas nela que eu não iria conseguir realizar, mas não custa tentar nem sonhar. E por isso, eu consegui um dos melhores empregos que poderia existir no mundo - dar aulas de dança.

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