- Capítulo 2

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Sabina Hidalgo
21 de setembro

(para uma melhor leitura)
Drop in the ocean - Ron Pope
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Acordo com uma luz branca nos olhos. Eu morri mesmo? Eu sentia pessoas à minha volta, ouvia algumas vozes, mas não me conseguia manifestar. É, eu definitivamente estava no céu junto dos meus avós.

Ou não.

Consigo finalmente abrir os olhos e olhar em meu redor e então vejo minha mãe dormindo numa pequena poltrona do lado da minha cama. Tento me mexer mas sem sucesso. O meu corpo dói e parece que tenho alguma coisa nos braços que também não contribui.

Logo a minha mãe acorda, se levanta rapidamente e se aproxima mais de mim.

- Você já acordou! Espera um pouco meu amor, eu vou chamar a médica ou alguém para verem você. - ela diz, e sai correndo sem nem me dando tempo para lhe responder ou perguntar onde eu estava o que tinha acontecido ou quanto tempo eu tinha dormido.

Me tirando dos pensamentos, ouço um barulho e vejo que a minha mãe está de volta, porém agora com uma enfermeira. Uau, que mulher rápida credo.

A enfermeira se aproxima de mim e retira uma máscara de ar, que até então eu nem tinha percebido estar no meu rosto. Ela tira minha febre, e aponta no pequeno fichário que tinha deixado à uns segundos atrás em cima da cama. E então ela começa a explicar tudo. Quando eu digo tudo, foi mesmo TUDO. Ela me diz que eu havia vomitado e logo de seguida desmaiado, e então ligaram para uma ambulância, e logo que ela chegou, me colocaram numa maca e me trouxeram para o hospital. Começo a relembrar as coisas que sentia até apagar e deixar de sentir e ouvir alguma coisa, a não ser os meus pensamentos ou sonhos. Pelos vistos eu não tinha morrido ainda.

Ela continuou dizendo um monte de coisas que eu não entendia nem metade então decidi a interromper.

- Desculpe eu interromper você, mas será que podia ir direta ao assunto? - ela se cala então e me olha - Pode me explicar o que eu tenho?

- Acho melhor deixar isso para a médica que está acompanhando você nesse momento. - ela diz, troca um olhar com a minha mãe, que estava do meu lado com os olhos marejando, e se retira daquele quarto branco com um cheiro intenso a hospital.

Alguns minutos se passam, a minha tinha começado uma conversa com um assunto qualquer, e ficamos conversando sobre isso até agora, quando a médica nos interrompe entrando no cômodo.

- Boa tarde menina Hidalgo. Eu sou sua nova médica, Dra. Forbes. Como se sente? - ela diz com a voz calma e serena com um pequeno sorriso no lábios.

- Bem. - respondo simples, tentando dar a intender que quero saber o mais rápido possível o que se estava a passar comigo. Ela suspira, e se aproxima de mim se sentando na cama, pega na minha mão e então diz.

- Você precisa se manter calma, ok? - ela pergunta e eu assinto. No fundo eu estava mentindo. Obvio que eu não iria estar calma, não depois dela ter pedido isso. Já me estava a preparar com uma notícia pior do que "você comeu algo que não lhe fez bem".

Só não esperava que fosse tão grave como isso.

- Foi detetado em você cancro Sabina. Você está com cancro nos pulmões. E já está num nível avançado. - ela diz, ainda segurando minha mão.

Meus olhos se abrem tanto que quase consigo imaginar eles me saltando para fora. Aquilo não podia me estar acontecendo, simplesmente não podia. Eu sempre fui uma pessoa saudável, sempre pratiquei exercício físico. Como isso foi acontecer?

- Sabina...filha. Vai correr tudo bem, okay? - minha mãe diz segurando as lágrimas nos olhos e, por mais que eu quisesse dizer que ela estava errada, por mais que eu quisesse gritar com ela, por mais que eu quisesse dizer que nada ia ficar bem porque eu ia morrer, eu não conseguia.

- Saiam...por favor. - foram as únicas palavras que saíram da minha boca, e assim elas se levantaram e saíram, me deixado sozinha naquele quarto branco do hospital.

Quando a porta se fechou de vez, eu me permiti chorar. Todos os pensamentos me invadiram, toda a dor que estava sentindo me preencheu, e eu chorei.

Chorei pelos meus sonhos não realizados. Chorei pelas minhas amigas que estiveram sempre comigo desde que me entendo por gente. Chorei pelo meu namorado, o qual foi o meu primeiro em tudo. Chorei pela minha família que me fazia sentir amada, que acreditava em mim e sempre me dizia que eu iria conseguir tudo o que eu quisesse a vida, porque eu era forte.

E, por fim, me dei oportunidade de chorar por mim, pela minha vida que nem a meio ia, pela minha morte.
E assim fiquei por horas, até o cansaço se tornar maior e me preencher por completo.

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