- Capítulo 10

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Sabina Hidalgo
15 de outubro

Termino a carta, enrolo e então a coloco dentro de uma garrafa de vidro.

Tudo que disse naquela carta foi sincero. Sem lágrimas, sem rancor. Só e apenas a minha opinião que devia ser a opinião de muitos mais.

Entro no carro e me dirijo à praia mais perto de onde vivo. Lá chegando me descalço, sentindo a areia nos meus pés e a brisa mais fresca vinda do oceano e então um sentimento de paz me consome.

Vou lentamente me aproximando do mar e suspiro ao sentir a água fria como a neve nos meus pés. Seguro a saia do vestido para não a molhar e vou me aproximando mais e então, finalmente, atiro a garrafa o mais longe que consigo, deixando o vento e o oceano conduzirem-na.

Já só faltam 98 coisas para fazer. Eu consigo.

Bem, acho que posso fazer mais uma coisa já que ainda estou na praia.

Me afasto do mar e então me deito na areia, fecho os olhos e fico ouvindo as ondas arrebentarem nas rochas. Fico assim por longos minutos até sentir alguém se deitando do meu lado. Me mantenho de olhos fechados e sinto a pessoa se aproximar mais de mim, encostando sua cabeça na minha. O cheiro dela começa a entrar nas minhas narinas e logo de seguida sinto a pessoa entrelaçar nossos dedos e aí eu tenho certeza de quem se trata.

- Não sabia que gostava de vir à praia sem motivo. - digo ainda de olhos fechados

- Porque acha que estou aqui sem ter um motivo? - a voz grossa e rouca dele soa pela primeira vez fazendo me arrepiar, o que pode ser confundido por frio por estarmos no outono e eu não estar vestida devidamente agasalhada para este tempo.

- Bem, não é verão então só há dois motivos para você estar aqui. Ou colocou em mim um localizador sem eu saber desde a última vez que nos vimos ou então está aqui sem motivo nenhum. - ele dá uma risada nasal.

- Parece que você descobriu meu plano. Enquanto você estava dormindo do meu lado eu fiz um corte em sua pele e coloquei dentro de você um localizador. - dou um pequena risada e olho para ele pela primeira vez naquele momento e me deparo com seus olhos que já me olhavam e logo depois reparo que ele estava sorrindo.

- Não sabia que você era um perseguidor.

- Há muitas coisas que você não sabe sobre a minha humilde pessoa, Sabina.

- Então acho que eu deveria tomar mais cuidado.

- Sim, você devia. - sorrio para ele e noto que o mesmo começa a analisar meu rosto e então me lembro do meu estado devido à quimioterapia e, imediatamente, desvio o olhar do seu e me sento na areia, mas já era tarde demais. Ele já tinha percebido que algo estava errado.

- O que você tem? - ele se senta e tenta voltar a me analisar novamente e eu desvio a cara. - Sabina, você pode falar comigo. Aconteceu alguma coisa? Se estiver doente e for contagioso eu não me importo, vale a pena se isso querer dizer que estive um pouco na sua companhia. - mordo o meu lábio inferior para tentar controlar as lágrimas. Ele tinha que falar logo em doenças?

- Não é nada Noah, não se preocupe. - digo ainda com a cara virada para o lado oposto dele.

- Claro que eu me preocupo. O que aconteceu Sabina? - a voz dele começa a ficar com um tom mais preocupada mas eu não lhe respondo.

Fecho meus olhos ainda mordendo meu lábio. Eu não podia chorar agora na frente dele. Um silêncio se instalou entre nós e por momentos pensei que ele tivesse ido embora, até que o sinto de frente para mim segurando com cuidado meu rosto me fazendo o olhar.

- Tudo bem, não precisa dizer. Apenas quero que saiba que estou aqui para o que precisar. - ele diz fazendo um carinho suave no meu rosto com uma mão e com a outra colocando meu cabelo para trás.

- Eu queria te dizer Noah, mas eu não posso. Não agora. Ainda não estou preparada para perder a sua amizade. - meus olhos começam a marejar e então ele faz uma cara confuso.

- E porque razão você perderia minha amizade? Isso nunca iria acontecer Sabina, nem que você tivesse matado alguém, eu iria confiar em você porque eu sei que você é boa pessoa. Você é incrível. Nada neste mundo me faria deixar de ser seu amigo. Nunca. - algumas lágrimas já saíam dos meus olhos e então o abraço.

Ele retribui o abraço no momento e me aperta forte, mas sem machucar, contra ele. E ali, nos seus braços, eu me sinto segura como nunca antes senti.

Ali eu sinto-me segura, protegida, como se ele fosse me proteger de todos os males do mundo. Sinto-me em paz, como se ele fosse meu ponto de luz depois de uma grande escuridão. Sinto-me amada, como nunca antes me senti.

Nos afastamos e ele encosta nossas testas uma na outra, limpa minhas lágrimas e diz:

- Eu vou estar sempre aqui Bina. - meu coração dá um pulo com a alcunha que ele me chamou.

Ele me beija na testa e então se levanta e estende a mão para me ajudar a levantar.

- Vamos dar uma volta. - diz e então logo seguro sua mão e ele volta a entrelaçar nossos dedos me conduzindo de volta para perto do mar e começamos a caminhar enquanto a água batia em nossos pés.

Apenas nós dois. Sem ninguém à volta. Sem nenhuma conversa. Apenas nós e o som das ondas irem e virem. Ficamos assim por algum tempo até que começo a sentir mais frio e ele nota e entrega seu moletom para mim. Quando eu ia negar ele diz:

- Eu estou bem, não se preocupa. Não quero que fique doente. - mal ele sabe que eu já estava. Sorrio agradecendo e visto o mesmo que me chega até a metade das coxas.

Continuamos a caminhar por mais algum tempo e logo voltamos para onde estávamos antes. Nos sentámos novamente, eu entre as suas pernas encostando minha cabeça em seu peito enquanto seus braços me abraçavam. E ali ficámos, em silêncio, observando o sol se pondo.


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