- Capítulo 3

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Sabina Hidalgo
22 de setembro

Acordei sentindo os meus olhos pesados devido às longas horas de choro da noite anterior. Uma enfermeira entrou no quarto me entregando a bandeja com o meu café da manhã, e antes de me deixar comer aquela comida sem sabor, me tirou a febre, verificou o meu batimento cardíaco e substituiu a máscara de ar por uns fios que ficavam presos nas minhas narinas, me ajudando a respirar. Após registar isso tudo, me avisou que em alguns instantes a médica vinha ter comigo, provavelmente para me dar alta juntamente de um longo diálogo sobre o que eu devia fazer e o que não devia, e coisas do género. Então ela saiu me deixando desfrutar do meu incrível café da manhã de hospital (sentiram a ironia??).

Assim como a enfermeira havia me dito, uns minutos mais tarde a Dr. Forbes entrou no quarto fazendo exatamente o que sabia que ela ia fazer.

Quando terminou com as recomendações todas me deixou voltar para casa, e claro, me deu seu contacto dizendo, e refiro, "se precisar de alguma coisa, se estiver sentindo alguma coisa, ou outra qualquer coisa, não pense duas vezes antes de me contactar Sabina", eu assenti e então fui tomar um banho rápido, vesti umas roupas que minha mãe me tinha trazido e então voltei finalmente para minha casa.

Ao chegar em casa vejo meu pai, Joalin, Any e Pedro sentados na sala de estar me esperando chegar. Logo que seus olhos pousam em mim, eles se levantam de imediato indo a meu encontro. Me abraçam todos um a um, eu olho nos olhos de cada um, e chego à conclusão que minha mãe deixou a parte difícil para mim, dar a notícia.

Vamos até à sala, e então eu tomo coragem de falar, sendo direta.

- Detetaram nos meus pulmões cancro num estado mais avançado do que seria suposto.

Eles me olham tentando achar alguma ironia em meu rosto, algum sinal de que o que eu tinha terminado de dizer não passava de uma simples brincadeira sem noção, e ao verem que era tudo verdade e que infelizmente não era apenas uma brincadeira, os seus olhos começaram a marejar, e em uns as lagrimas descerem rapidamente pelo rosto.

Joalin é a primeira a tomar iniciativa de se levantar e vir me abraçar. Eu sabia que, apesar de ser difícil para todos, para ela seria um pouco mais. Eu e a Joalin nos conhecemos antes mesmo de sabermos nossos próprios nomes. Sempre estivemos presentes na vida uma da outra, nos conhecíamos melhor uma à outra que outra qualquer pessoa. Joalin era uma irmã para mim, ela era minha melhor amiga, meu ombro para chorar, e dona da gargalhada que me alegrava os dias ruins. Então, no momento que os seus soluços se fizeram presentes, com o seu corpo ainda abraçado ao meus, eu não consegui segurar mais essa farsa, como se não fosse nada demais, e chorei com ela.

Não sei por quantos minutos ficámos assim, mas quando nos afastamos sorrimos levemente uma para a outra, e entendemos tudo o que queríamos dizer uma á outra com apenas esse olhar. Ela se afastou e então e continuei falando tudo que a Dr. Forbes me havia dito.

Após algum tempo dessa conversa junto de lágrimas, meus pais subiram para o quarto deles, Any voltou para casa pois sua mãe a esperava para cuidar da irmã e Joalin subiu para o meu quarto, já sabendo que seria mais uma das nossas noites em que chorávamos juntas e acabávamos adormecendo assim. Fiquei, então, sozinha com meu namorado.

Olhamos os olhos um do outro. Eu esperava por seu abraço, por seu beijo, por suas palavras carinhosas, por qualquer reação que mostrava que estava do meu lado e iríamos superar isso juntos, porém, a única coisa que ele fez foi se levantar e dizer o que eu menos esperava.

- Eu quero terminar tudo Sabina.

Eu o olhava sem entender. Porquê aquilo agora?

- Você está brincando comigo certo Pedro? Por favor me diz que está. - eu digo ainda em choque.

- Não, não estou brincando Sabina, muito pelo contrário. Eu quero terminar tudo com você. - ele diz. Sua voz não era mais aquela voz calma, doce, cheia de carinho, era fria, como se eu fosse um lixo, como se nunca tivesse havido nada entre nós.

- Porquê? - minha voz sai num sussurro devido às lágrimas que desciam ferozmente pelo meu rosto.

- Sabina, você acha mesmo que eu vou perder os próximos meses, sim meses porque de certo você nem anos dura, você acha que eu vou parar minha vida apenas para te ver morrer? Você vai ficar fraca, não vai poder fazer quase nada, e então seus pulmões deixam de funcionar, não te dão mais um oportunidade para um último suspiro sequer, e aí, aí você morre. Desculpa Sabina, mas eu não me iriei prejudicar por isso.

Haviam várias frases em minha cabeça preparadas para serem ditas, desde xingamentos até pedidos para que não me deixe. Nada saía, parecia que minha língua tinha sido cortada ou minha boca cozida, e nada saía.

- Esquece esses últimos 3 anos Sabina. Me apaga de sua memória. Me esquece e aproveita seus meses finais. - ele diz e então sai de minha casa, e de minha vida. Ao fechar a porta levou consigo o resto da minha alma, o resto do que me fazia sentir viva e me fazia querer lutar contra essa doença.

Eu permaneci ali, parada na frente da porta, de pé, chorando. Eu não podia ficar ali, aquele ambiente estava me sufocando. Se estivéssemos num filme, agora eu iria para um pequeno café na cidade onde vivo, tomava um chá ou um café, e andaria depois pelas ruas frias, devido ao inverno, e ficaria apreciando a movimentação nas ruas, e por fim, iria num parque, onde ficaria a observar as pessoas felizes, os casais se beijando, as crianças correndo enquanto gargalhavam, e os casais mais idosos de braços dados se sentando num banco mais próximo. Porém, minha vida não é um filme, porque se fosse eu saberia que no final, depois de todo esse sofrimento, iria aparecer uma cura milagrosa para o cancro, eu iria encontrar um novo homem por quem seria apaixonada mais do que alguma vez e vivêssemos felizes para sempre.

Como eu infelizmente não vivo num filme, sequei minha lágrimas, peguei nas chaves do carro e quando já estava dentro dele mandei mensagem pra Joalin e arranquei logo para não correr o risco de ela vir atrás de mim.

" Pedro terminou tudo. Estou indo apanhar ar, depois falamos. Te amo"

E então segui o meu caminho até meu lugar preferido no mundo que ficava a meia hora da cidade onde eu morava...o campo de flores.

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O momento joalina foi tudo gente wdbiuwoeqvf fiquei soft sério

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