Padre Cassiano

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Eu acreditava no amor.
Amei meninas e meninos.
Hoje só no amor de Jesus.
Sou do Jesus pequenino.
Eu achava que ele estaria na cidade grande.
Mas ele ficou na roça.
Quando cheguei inocente,
No seminário,  com 15, acusaram-me:

- Deite aqui essa noite,
quero examinar seus lindos
olhos que Deus abençoou.

- Quanta beleza! Meu Deus quanta beleza!
Na roça eu não sabia que eles iriam querer ver meus olhos tão de perto. Eu nem sabia o que eu tinha de diferente, por que aqueles homens santos que eu queria ser parecido queriam ficar perto justamente de mim?

Eram meus olhos. Eu tinha olhos verdes.

Meus olhos, diziam os padres eram de feiticeiro.
Eu olhava para eles.
E eles viam a verdade.
Mas que verdade eu não sabia?
Cada noite alguém queria dormir me olhando.
Na roça ninguém disse que eu ia dormir sendo vigiado.

A noite o reitor passava no meu quarto,
Para ver se os seminaristas tinham tentado ir no meu quarto olhar meus olhos também.
Eles não se atreviam.
As 5:30 tocava Ave Maria de Bethoven ou de Bach.
Mas de dia tentavam.
Daí eu corria escada a baixo e tentava não sentir.
Era provocado. Como a Lacrimosa de Mozart.
Testado e quando entendi que não era meus olhos. Fugia...
Eu só queria ser padre.
Só queria servir.

Mas eles não queriam.
Eles respiravam em cima de mim,
Ofegantes,
Por que queriam me ver reagir ao 'pecado'
Mas eu não sabia nem o que era.

O padre Cassiano desistiu da vocação.
Dando uma paulada na cabeça de um seminarista.
Foi expulso.
A família nunca entendeu.
Ninguém daquela turma ficou padre.
Todos casaram com mulheres.

O padre que era reitor se enforcou anos depois.

C. p.

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