🌹 7. A Dona da Casa
Eu vi ela morrer.
Ali a alguns passos de mim
Mas não fiz nada.
Por décadas fui contrariada
Por sentimentos que hora me
Acusavam de covardia e hora
Me dizem que assim foi certo.
Maria Quiteria foi a numero um,
Ela que comprou aquele casarão
E fez ali o cabaré.
Era portanto a dona e chefe
De todas as moças.
Eramos todas muito novas
Porém uma ou outra
Ja se destacavam.
Maria Padilha era a que mais brilhava,
Tinha dezoito anos apenas,
Deslumbrante e sedutora.
Me Lembro daquela noite
Como se fosse hoje,
Quitéria em pé perto do bar
Com a vista atenta sobre as moças
Que entretiam os homens
Sentados nas mesas do salão.
Eu fui até ela informar que
Ana ia subir para o quarto
Com um cliente
Mas ela não me ouviu,
Repeti e ainda assim ela ficou imóvel.
Olhei para seu rosto e ela estava
Com os olhos arregalados e as sobrancelhas
Erguidas, o maxilar trincado
Em uma expressão de fúria.
Segui seu olhar, caia direto sobre
Um homem alto e louro
Que aparentava aproximadamente
Quarenta e poucos anos e que tinha
Padilha sentada no colo
Rindo de algo que ela dizia.
Quitéria me ignorou completamente
E com muita pressa subiu as escadas,
Ouvi o baque da porta
Quando ela se trancou no quarto.
Isso se repetiu todas as vezes
Que aquele homem veio até o cabare.
Uma manhã eu estava passando
Pelo corredor e ouvi vozes exaltadas
Vindo do quarto de Quitéria.
Me aproximei da porta e ouvi
Ela falanda gritando
"Aquele porco alemão! Ele foi a causa da minha desgraça! Você vai fazer o que eu mandei!"
Padilha estava lá, a ouvi responder
Com a voz cheia de medo
"Eu sei, eu sei que foi ele que te fez cair na vida, mas eu não sou uma assassina, eu não posso matar um homem."
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Contos das Muitas Marias
RomanceA Morte é o fim da mulher e o unicio da Pombagira. Onze Contos Sobre a morte dessas Moças tão queridas por alguns, tão temidas por muitos.