4. Menina Julia
Aquela noite foi tão estarrecedora
Que marcou como a mais nitida das lembranças.
Quando os soldados a trouxeram o
E um deles a carregando no colo
Todas nós tivemos a noção
Do que ela realmente era...
Uma criança.
Júlia chegou no cabaré no início do ano
Veio maltrapilha e com marcas
De violência nos braços.
Algumas das moças
Tentaram enxotar ela dali
Mas era muito teimosa
E fez pé firme até que a levaram
para falar com Dona Maria Padilha.
Ninguém deu muita atenção,
Era uma fedelha miuda
Mal tinha seios.
A princípio ela jurou ter dezoito anos
Mas ninguém sustenta mentiras diante
Da expressão seria de Maria Padilha
Então acabou confessando ter quatorze.
Por ser tão nova a apelidaram de Menina
E era assim que era chamada.
Dona Padilha a aceitou na casa.
Todas as moças foram chamadas
Para saber desta novidade
E juntas no salão ouvimos Padilha anunciar
Menina como mais uma de nós.
Houveram contrariedades,
Rosa Vermelha discordava com veemência
"Não, que Cabaré é este que põe uma infanta como prostituta? Isso é errado!"
Padilha ouviu a todas
Mas após muita discussão
Encerrou a conversa ao responder:
"Se eu não aceitar essa Menina aqui ela vai acabar se vendendo em alguma esquina ou no Porto para os marinheiros, com certeza algum criminoso vai fazer mal a ela. É mais seguro que fique aqui. Sei que se vender não é coisa pra criança mas o mal ja foi feito, agora o que posso fazer é deixar que ela faça isso sob as minhas vistas."
Menina caminhou timida até o Centro do salão
Com seus cabelos em cachos delicados
Trajando um vestido Rosado
E sorriu para todas nós como um pedido silencioso
De aceitação.
Muitas desviaram o rosto, era horrível.
Menina era extremamente bonita
Mas era sim absurdamente horrível
Olhar nos olhos dela
Pois naquele olhar nós que já eramos velhas
Reconhecemos aquele fundo amargo
No olhar de uma mulher
VOCÊ ESTÁ LENDO
Contos das Muitas Marias
RomansA Morte é o fim da mulher e o unicio da Pombagira. Onze Contos Sobre a morte dessas Moças tão queridas por alguns, tão temidas por muitos.