🌹 3. Maria MariáEu passava a piteira dourada
Entre meus dedos,
Senti uma enorme vontade de rir
Quando bati no canutilho com a ponta da unha
E o som revelou ser alumínio.
Aquela velha mentirosa disse toda a vida
Que era de ouro...
Ela não morreu de uma vez só
Morreu aos poucos.
Quando a conheci eu ainda era menina,
Fui contratada para a lida na cozinha.
Dona Rosa essa época ja era velha,
Podre de rica
Odiada por toda a cidade.
Lhe pintavam como uma bruxa,
Uma megera imunda.
Odiada porque era mulher
E não aceitava ser mandada por homem.
Odiada por nunca abaixar cabeça.
Odiada por ter dinheiro o suficiente
Para borrar seu passado de mulher dama
E forçar a igreja a fazer vista grossa.
Era bela, altiva, classuda.
Quando pegamos mais intimidade
Ela me contou historias de seu passado,
De muitos amores mas também
De muitos dissabores,
De um tempo de cabarés e sortilégios.
Me lembro de estar ao tanque esfregando as roupas
E ela ali do meu lado já um pouco encurvada
Balançando suavemente na rede no Jardim
Tecendo os contos da mocidade.
Se esperava que estivesse de xale
E fazendo tricô, mas não,
Ela mesmo velha ficava enfiada
Em nobres vestidos de seda púrpura
Cheia de joias
Sempre com o cigarro em uma mão
E o whisky ou qualquer coisa inflamável na outra.
Conheci uma de suas amigas,
Uma de mesmo nome mas que sempre usava
Uma Rosa Vermelha nos cabelos,
Haviam distintos senhores que vinham visitar também
Mas um dia as visitas cessaram.
Tomei coragem a perguntei a ela
Numa noite quando eu escovava
Seus cabelos brancos
E ela muito triste revelou que
Eles ja tinham partido, mortos,
Uns pela idade, mas a maioria por outros males.
O rosto ficava cada vez mais encovado e pálido
Os cabelos finos iam rariando,
A idade avançava sem piedade.
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Contos das Muitas Marias
RomanceA Morte é o fim da mulher e o unicio da Pombagira. Onze Contos Sobre a morte dessas Moças tão queridas por alguns, tão temidas por muitos.