Conto 8: Despedidas a Dama da Noite: As Pedras Cessaram

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🌹 8. As Pedras Cessaram

E então ela morreu,

E dessa vez foi de verdade.

A porta de vidro da sacada estava trancada,

Ela trancou por fora.

Eu empurrei, bati,

Cheguei a quebrar alguns vidros 

Mas ela apenas olhou para mim e sorriu.

A taça na mão, ela girava como uma bailarina

Em pé sobre o parapeito

Sem se dar conta do enorme perigo.

Ela olhava para a lua e movia os lábios,

estava dizendo algo

Mas não entendi.

Bati mais, chutei a porta inumeras vezes 

Mas então aconteceu.

No auge da bebedeira ela perdeu o equilíbrio.

Seus cabelos revoaram para trás,

A camisola se encheu de vento esvoaçando 

Como a cortina da sala nos ventos de verão

E diante dos meus olhos ela desapareceu.

Desci as escadas rapidamente, 

Corri sentindo meus pés latejarem

Sobre os sapatos de salto alto.

Lá em cima ela voou como uma gaivota, uma águia 

E o que encontrei no jardim

Foi nada além de um corpo, casca vazia.

Ela despencou mais de quinze metros,

Velha demais para resistir 

Ao baque do solo.

Ela já não estava bem fazia muito tempo.

Eu tinha quarenta anos quando cheguei lá,

Rosa Vermelha notando que a minha jornada

Dentro do Cabaré estava no fim

Me ofereceu esse oportunidade,

Ser acompanhante de uma velha louca.

Quando cheguei na mansão 

Mal acreditei,

Era um Palácio.

Estátuas de mármore ladeando portais,

Taças de cristão veneziano,

Sofás forrados com pura seda chinesa.

Mas quando conheci a tal mulher 

Me surpreendi muito.

Conheci sim Madame Helena, a senhora 

A qual eu cuidaria.

Mas nela eu reconheci uma outra pessoa,

Uma mulher que mais de vinte 

Anos atrás foi uma prostituta 

Do mesmo cabaré que eu,

Uma mulher chamada Dama da Noite.

Tinha pra lá de sessenta anos,

Os cabelos brancos como algodão,

O corpo miúdo mas com boa postura.

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