Ruggero on: Estou deitado no sofá, olhando pro teto, e pensando em como vai ser minha vida daqui pra frente. Em como vou seguir. Levanto e vejo o apartamento todo encaixotado, e solto um suspiro. Vou até uma caixa excêntrica, a única de madeira. Ela é pequena e branca, e dentro está cheia de fotos. Fotos dela. Nossas. De quando éramos crianças, com uns 6 anos de idade, na escola. De quando tínhamos 12 anos, na nossa primeira festa de "grandes". De quando tínhamos 14 anos, abraçados, na Times Square. Da nossa primeira vez juntos, um dia depois da melhor noite da minha vida. Noite que vai ficar na minha lembrança pra sempre, pois nunca vai se repetir.
Hoje fazem exatamente 14 dias desde o vídeo do desafio. Ela não me perdoou. E amanhã eu pego o voo pra Boston. Tentei de tudo. Liguei mais de 400 vezes, mandei mensagem até por e-mail, fui até sua casa, mandei bilhetes, e nada adiantou. Até as garotas já cederam um pouco comigo, por pena, acho. Eu só queria que a Karol me ouvisse. Mas também queria ficar com ela pra sempre, e querer não é poder.
Não tenho mais tempo, ela já sabe da minha faculdade em Boston, mandei um bilhete para ela (na verdade, joguei por debaixo da porta), na esperança de que dessa forma, ela falasse comigo. Recebi silêncio em resposta. Então faço a última coisa que me resta, algo que eu estava evitando há uns dias, pois sabia que se fizesse seria definitivo: Uma carta. De explicação. De despedida.
Karol on: Estava pronta para a faculdade, minha casa estava -finalmente- organizada, graças a ajuda de Lina e Valen, e tenho uma entrevista de emprego marcada para semana que vem, em um hospital. Posso conseguir um estágio na ala de pedagogia ou pediatria, e se isso desse certo, seria uma oportunidade perfeita para meu futuro, além de conseguir um dinheiro. Tenho administrado muito bem meu tempo, não paro um segundo. No fundo eu sei que estou assim pois não quero pensar no Ruggero, e se mantenho a cabeça ocupada, não farei isso. Porém, naqueles 5 minutos antes de dormir, é ele que aparece em minha mente, e meu subconsciente quase diz para ligar. Para conversar. Entender. "Não há nada para ser entendido" -meu cérebro grita de volta. Acho que o meu pior momento foi quando soube que ele vai para Boston. Naquele dia, quase fui atrás dele. Cheguei a entrar no carro, mas uma ligação de minha mãe fez com que eu parasse.
Hoje faz 14 dias desde a festa, então percebo que amanhã ele estará partindo. Parte de mim fica aliviada. A outra parte fica desesperada. Sou uma idiota. Como, eu ainda gosto dele? Não é possível. Sim, é, sua pateta. Ao terminar meu café da manhã, pego minhas correspondências. Contas, contas, contas, -uma carta. Sem remetente. E um embrulho. Ao passar 5 minutos analisando, decido ler a misteriosa carta. De imediato reconheço a letra. Eu deveria rasgá-la e jogá-la fora, mas não faço. Eu continuo lendo. Eu precisava disso.
"Karol,
você lembra daquele dia que fomos juntos para a Times Square, de noite, e nos beijamos no meio da rua, em frente aos prédios iluminados? Foi nosso primeiro encontro. Foi tão importante que meu pai até me deu dinheiro pro táxi -pois é, Uber ainda não era popular por aqui. Foi lá que eu te disse que te amava pela primeira vez, e você também. Passamos horas apenas olhando para os prédios mudando de cor, de propaganda, de luzes... foi bom. Lembra da nossa primeira briga? Você gritou comigo porque eu não te escolhi primeiro na equipe de vôlei, e escolhi o Agustin. Mais depois te comprei uma barra de chocolate, e você me perdoou. Hoje em dia somos adultos, e os problemas são mais complicados, e mais difíceis de serem perdoados. Se você nunca mais quiser olhar na minha cara, eu vou te entender. Eu só preciso que você me ouça, bom, nesse caso, leia. Na oitava série, eu te amei de uma forma que nunca amei ninguém. Sempre achei que era porque você foi meu primeiro amor, mas hoje percebo que não. No dia do nosso primeiro beijo, eu imaginei minha vida com você. Era um pirralho, mas imaginei tudo. A gente ia casar na praia de Cancún, pois assim seus familiares não iam precisar viajar para o casamento. A gente ia viver no campo, e eu ia te comprar um cavalo. Preto. E íamos ter 4 filhos, dois meninos e duas meninas. As meninas você poderia escolher os nomes, mas os meninos tinham que ter nome de jogador de futebol. Idiota, eu sei. Mas imagina um menino loucamente apaixonado, recebendo a notícia de que você ia embora para outro país? Eu não suportei isso, Karol. Quando você foi, demorei pra acreditar que não ia voltar. Continuei a guardar seu lugar por dois meses, achando que a qualquer momento você entraria pelas portas da escola. Mas você não veio. Eu afundei num poço depois disso, cada vez mais fundo. Não conseguia subir de jeito nenhum. Até perceber que minha popularidade estava aumentando, então era convidado para festas e garotas se interessavam por mim. Dessa forma consegui criar um escudo para mim mesmo, uma proteção, uma máscara. Era como se tivessem pego meu coração despedaçado, e remendado. Não estava curado, mas estava bom. Aceitável. Um ano depois da sua partida, cheguei a conclusão de que tinha te esquecido. De que você nunca mais me machucaria, que nunca mais te deixaria entrar na minha vida. Quando soube que você estava voltando, eu tive uma crise de pânico. Eu fiquei sem ar, precisei de remédios. Eu não sabia como lidar com você, Karol. E naquele momento eu percebi que nunca tinha te esquecido. Mas eu disse pra mim mesmo que não deixaria você me dominar de novo, pois isso me deixava fraco. E por isso aceitei o desafio. Fui um covarde, um menininho. Quando te vi novamente, tudo dentro de mim mudou. Todo o meu escudo, minhas promessas, minhas ideias, tudo foi por água abaixo. Pois naquela noite, olhando no fundo dos seus olhos eu soube: eu te amo. Ou melhor, eu ainda te amo. Intensamente. Eu ainda quero casar com você na praia, ainda quero morar no campo, ainda quero ter 4 filhos. E quando nos aproximamos, eu percebi que você ainda sentia algo por mim também, e tive esperanças. Senti algo dentro de mim que estava apagado há mais de quatro anos, e só você poderia ser capaz de reascender. Tudo o que aconteceu entre nós, foi real. Cada palavra, cada toque, cada chama e sentimento. Tudo foi sincero. Eu fiquei com medo de te perder caso falasse da aposta. Como já disse, fui um covarde. Não existem palavras o suficientes pra me redimir, sei o mal que te causei, e você não merece um cara como eu. Não estou te pedindo para esquecer tudo e voltar pra mim, não mereço isso. Só peço teu perdão. Pode levar tempo, eu sei, mas eu vou estar aqui te esperando. Estou indo para Boston e não vou te incomodar mais, nem com mensagens, nem com ligações. Quero te dar o tempo que precisar. Não importa se passe 5 anos, continuarei esperando. Sou seu, Karol. Sempre fui seu.
-Rugge.
P.S.: Achei que ia gostar de ficar com isso."E no embrulho, está o balde de pipoca que compramos na nossa primeira ida ao cinema, e uma foto nossa na Times Square.
Puta que pariu, Pasquarelli.
Capítulo gigante hoje, mas precisava colocar tudo nesse pra não ficar confuso. Vamos ver o que vai rolar agora...
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Desafio
Fanfic"Eu sabia que estava encrencado, desde a primeira vez que te vi." Karol Sevilla sempre viveu acostumada com a perda, pelo fato de seu pai ter um cargo militar importante, e precisar constantemente trocar de país. Porém isso muda ao completar seus 18...