Capítulo 5: Entre diálogos e apelidos.

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Eu acho que estou ficando louca.

É o terceiro dia seguido que acordo no meio da noite com o mesmo pesadelo. As imagens que apareceram no cristal voltam para os meus sonhos, só que dessa vez acompanhado de vozes, muitas vozes, mas não consigo entender nada.

Olho para o relógio. São 3:00 horas da manhã. Resolvo me levantar de uma vez, sei que se dormir de novo vou sonhar, e eu não quero sonhar.

Coloco um roupão e desço para o primeiro andar. Preciso relaxar a cabeça. Desde o dia da cerimônia, eu não consegui relaxar. Foram entrevistas, fotos, mais entrevistas... não consegui nem falar mais de um bom dia para os lunareanos.

Vou descendo as escadas olhando para baixo, e continuo assim até virar a esquina para a cozinha e me esbarrar em alguém.

- Ai, Desculpa. - Digo me virando para a parede para procurar o interruptor. Depois de um tempo achei e acendi as luzes do corredor.

Olho para o lado e vejo o Lluc cutucar as unhas despreocupadamente.

- Nossa, dessa vez você se superou. - Diz sem se preocupar em me encarar.

- Do que você está falando? - Pergunto.

- Essas palavras foram adicionadas ao dicionário: Princesa Eclipse para lunareanos. Até agora só tínhamos o "bom dia". - Ele fala sarcasticamente, mas está certo. Não troquei nem uma frase sequer com eles.

- Você tem razão. - Digo. - E peço desculpas por isso.

- Não precisa se desculpar, princesa. - Olha para mim. - Estava brincando com você. Não brincam com vocês aqui? - Diz com um sorriso sarcástico.

- Claro que brincam! - Estava me sentindo insultada, não sei porquê. Acho que é o jeito provocante dele falar. - Bom, o que você está fazendo acordado? - Digo e começo a caminhar para a cozinha, ele me acompanha. 

- Deveria fazer a mesma pergunta para você, princesa.

- Por favor, não me chame de princesa. Não gosto de títulos.

- Você prefere que eu te chame como então?

- Sei lá, me chame como quiser. - Digo e logo me arrependo, pois um sorriso malicioso aparece em seu rosto. Ele pensa um pouco, mas logo responde:

- Vou te chamar de Puppy. - Diz satisfeito.

- Puppy? Tipo filhote em inglês? - Pergunto surpresa.

- Sim, filhote em inglês. - O jeito que ele não liga para as coisas me irrita.

- Por quê?

- Por que você é pequena que nem um filhote. - Meus 1,50m não estão caindo muito bem agora.

Fico vermelha.

- Não sabia que você estudava inglês. - Digo para mudar de assunto. - É uma língua morta.

- Sim, é uma língua morta. - Ele repete o que eu falo. Isso está me irritando. - Então por que você estuda?

- 1: porque eu fui obrigada quando mais nova; 2: quando eu descobri que os romances em inglês eram muito bons, eu resolvi aprender de vez.

- Você tem razão. - Ele diz. - Os romances em inglês são incríveis. - Olho para ele surpresa. - É por isso que aprendi inglês.

- Nossa... uau. Que legal. - Penso um pouco e depois respondo. - Vou te chamar de bear.

- Urso? - Ele levanta uma sobrancelha. - Estou na duvida se isso é original ou não.

- Claro que é original! - Digo sorrindo. - Olha para o seu tamanho. - Aponto para ele da cabeça aos pés.

Ele solta uma gargalhada e sua cabeça vai para trás. 

- Certo, certo. É original. - Nós chegamos na cozinha, ele para na porta enquanto eu entro e abro a geladeira.

- Você quer comer o que? - Pergunto com a cabeça enfiada dentro da geladeira.

- Quando foi que eu disse pra você que queria comer alguma coisa? - Ele arqueia uma sobrancelha novamente.

- Não disse. - Digo chegando perto dele com duas maçãs. - Eu concluí isso sozinha. - Entrego uma para ele que examina e depois dá uma mordida.

- Boa, não é? - Digo terminando de mastigar com a mão na frente da boca. - Essa daqui é do pomar do castelo.

Percebo que ele está realmente fascinado com a maçã e pergunto:

- Você já tinha comido uma maçã antes?

- Já, mas não tão gostosa. Não temos sol em Lunares, não sei se você sabe. - Sorri. - As plantas não crescem sem o sol.

Me senti uma burra. É claro que em Lunares não havia plantações como aqui em solária.

- Não temos sol, - Ele continua. - mas há uns 15 anos conseguimos criar um pomar artificial e temos frutas, verduras e outras coisas do tipo, mas como elas não "vieram do sol" não é tão gostoso.

Ele dá outra mordida e sorri.

- Eu preciso voltar para o meu quarto. - Digo. - Daqui a pouco os funcionários começam a acordar e eu não quero que Nair me veja aqui. Ela vai contar para minha mãe e eu também não quero explicar o motivo de eu estar acordada.

- Bom, é aqui que nos despedimos. - Ele diz. - Meu quarto fica ao sul. - aponta para o corredor oposto ao que vou. - Princesa puppy. - Faz uma reverência e sai.

Me permito sorrir. Ele não parece ser uma pessoa ruim.

Crônicas do dia e da noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora