Capítulo 1: Entre conversas e pretendentes

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   "Hoje completou 20 anos desde o fim das Guerras dos Astros, os piores dois anos que nossa população já enfrentou. Graças a ajuda de vocês, conseguimos enfrentar o reino de Lunares e bani-los para sempre. Por isso é de extrema importância que vocês, cidadãos de Solária, permaneçam longe dos limites do reino, pois só assim, conseguiremos manter todos a salvo. Como todos já estão avisados das precauções necessárias, que comecem as festas! "

Esse foi o discurso que minha mãe, rainha de Solária, usou hoje mais cedo para iniciar as festividades. Hoje é uma data importante, mas não é apenas um festival local, e sim a comemoração do meu aniversário de 20 anos, o que significava que faltava pouquíssimo tempo para eu descobrir meu poder e assumir o trono.

Todos os jovens do reino iriam comparecer ao baile organizado pela minha mãe hoje a noite. Ela está muito empenhada em conseguir um novo pretendente para mim, mesmo sendo lei do Solaria que: "Quando o primogênito estiver sujeito ao trono, aos 20 anos, sendo ele homem ou mulher, poderá assumir as responsabilidades como rei ou rainha de Solária mesmo sem ter um pretendente." - Foi o que eu disse para minha mãe que estava com um aparelho de projeção apontando para parede do meu quarto mostrando os prováveis pretendentes que apareceriam no baile hoje a noite.

- Você diz esse artigo pra mim desde os 16 anos. - Minha mãe disse enquanto passava com o controle remoto para o próximo candidato. - Uh! Esse daqui é interessante. - Ela disse ao olhar para um rapaz no projetor.

- Ele tem quase trinta! - Eu falei me sentando ao lado dela.

- Idai? Você já é maior de idade! Eu e seu pai tínhamos 8 anos de diferença.

- Não, mãe. Passa para o próximo. - Ela passou e o seguinte nem era tão ruim.

- Lohan, 21 anos, poderes de terra, mora na província de Sunshine.

Ela virou a cabeça para o lado analisando-o melhor.

- Eu gostei desse aí! - Disse minha amiga, Helena, ao sentar do meu lado com um pote de pipoca. - Ele é um gato!

Corei.

- Helena! - Disse a empurrando com o ombro. - Tenha modos.

- Eu concordo com sua amiga. - Minha mãe a apoiou escondendo um sorriso.

A olhei com cara feia, que logo se desfez com uma gargalhada. Aquelas duas eram impossíveis juntas!

- Tá! - Admiti. - O Lohan é um gato. Satisfeitas?

- Muito! - Helena disse passando o braço pelos meus ombros.

Ficamos olhando mais e mais pretendentes durante quase uma hora. Não aguentava mais ficar encarando meu futuro marido que, diga-se de passagem, nunca tive uma conversa sequer.

Como poderia casar com alguém que eu nem conheço? Como eu poderia "obrigar" alguém se casar comigo sendo que ele poderia encontrar seu amor verdadeiro se não fosse por mim?

- Então... - Helena começou. - Você vai mesmo se casar no começo do ano que vem?

Corei novamente.

Mesmo pensando sobre o assunto, falar sobre ele em voz alta era muito diferente. Eu mal completei 20 anos e já querem me empurrar para um altar.

Eu sei que não sou obrigada a casar, mas se eu não o fizesse, magoaria minha mãe de tantas formas que eu nem sei explicar. Ela QUER que eu case. Mesmo EU, Eclipse, tentando fugir desse pedido de minha mãe desde pequena.

- Helena... eu... Eu não quero pensar nisso agora! - Falei me levantando.

Minha ansiedade voltou e minha respiração ficou difícil e rápida.

Fui para a sacada.

Eu não estava pronta pra casar. Não estava pronta para ser rainha... Na verdade, eu não queria. Minha mãe fala disso desde os meus 10 anos. Dizendo como eu seria uma boa governante como meu pai foi, como minha mãe é.

Ela não quer que eu governe sozinha, mas eu nem sei se quero governar, quem dirá com alguém que serei obrigada a casar sem nem conhecer direito. Sem ter um relacionamento...

- Eli, - Disse Helena tocando no meu ombro. - Você está bem?

Minha mãe estava logo atrás dela com o olhar culpado.

- Sim. - Eu disse olhando para minha mãe, que desviou o olhar e voltou para dentro do quarto silenciosamente.

- Você não tem um desses a muito tempo. - Ela disse esfregando a mão pelas minhas costas de modo reconfortante.

- Eu sei. - Menti.

Eu tinha um ataque de ansiedade pelo menos uma vez a cada dois dias.

- Esse foi um ataque de ansiedade. - Continuei. - Não se preocupe. Nunca mais tive um ataque de pânico. - Isso pelo menos era verdade.

- Bem, agora me dê suas mãos. - Ela disse tirando o braço de trás de mim e colocou as duas mãos juntas para que eu lhe entregasse as minhas.

Eu entreguei com hesitação. Já sabia o que ela planejava.

Helena viu minhas mãos balançando a cabeça negativamente.

- De novo com isso, Eclipse? - Eu olhei para baixo envergonhada.

Ela olhava a palma das minhas mãos que estavam cheias de cortes feitos pelas minhas unhas. Eu tinha o costume de apertá-las contra minha mão quando nervosa ou ansiosa, ou seja, 90% do meu dia.

Helena virou minhas mãos analisando meus dedos. Estavam cheios de bolhas causadas por estresse.

- Você precisa se controlar, Eclipse. - Ela disse agora olhando para os meus olhos. - Já conversamos sobre isso. Você não pode descontar em si mesma.

Minha amiga continuou a me encarar, até que de repente me puxou para um abraço.

Era muito bom tê-la ao meu lado. 

Crônicas do dia e da noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora