Açúcar

3.2K 106 9
                                    

Sempre fui uma pessoa de palavra, aprendi cedo com minha mãe que se eu disser preciso fazer, não importa os meios.

Sempre segui a risca e dessa vez não foi diferente quando prometi não abrir mais a cortina, eu realmente não abri mas não  lembro de ter prometido algo sobre fechar a porta na sua cara caso ele aparecesse na minha casa.

— Você poderia me emprestar um pouco de açúcar?

A voz aveludada me faz despertar, envergonhada por estar parada a um bom tempo aperto o trinco da porta com força.

Seus olhos que agora consigo enxergar com nitidez são verde esmeralda com pintas castanhas, ele é mais alto do que pensei e como imaginei seu perfume é forte ao ponto de me sufocar. Desço lentamente meu olhar para seu corpo vendo que é ainda mais bonito pessoalmente, em sua mão tem uma xícara padrão vazia me fazendo lembrar novamente do porque ele estar aqui, açúcar, ele só quer açúcar.

— Claro — Respondo ainda aérea. — Tenho mascavo e cristal qual você prefere?

— Cristal. — Estica a xícara para mim.

— Quer entrar enquanto isso? — Pergunto eduacada pegando a xícara.

— Adoraria. — Sorri.

Quem o vê  sorrir tão doce e gentil como está fazendo agora não imagina o quanto sádico ele pode ser.

Caminho até a cozinha escutando seus passos atrás de mim, por um momento achei que ele não iria entrar, é oque qualquer pessoa normal faria ao ir na casa de alguém pela primeira vez ainda mais quando pede açúcar!

— Faz tempo que mora aqui? — Pergunta entrando na cozinha.

— Alguns meses. — Abro a lata de açúcar ignorando seu olhar direcionado para a louça suja da noite passada. — Esse tanto é o suficiente para o senhor? — Mostro a xícara já cheia.

— Sim. — Responde — Sou tão velho assim para ser chamado de senhor?

— Ah, não — Sorriu sem graça — É só costume.

— Senti sua falta, é mais interessante quando você está olhando. — Se aproxima me encurralado no armário.

— Não sei do que está falando. — Minto desviando meus olhos do seu.

— Sabe sim, não me importo que olhe só não chame a polícia outra vez. — Pega a xícara da minha mão.

— Já tem seu açúcar, já pode voltar para sua casa — Falo tentando soar o menos grossa possível.

Algo na sua presença me deixa desconfortável, é como seu eu fosse uma criança que acabou de fazer uma travessura e será castigada.

— Se você fosse minha já teria perdido essa língua atrevida.

— Mas não sou. — O empurro levemente caminhando até a porta de entrada. — Não me envolva nas suas brincadeirinhas sádicas vizinho.

— Vai se arrepender disso vizinha. — Diz rindo ao passar pela porta. — Ainda vai implorar para ser como elas.

— Não sei se tem capacidade para isso vizinho — Falo no impulso me arrependendo logo em seguida quando vejo sua carranca, a mesma quando me olha quando está na janela.

— Veremos.  — Murmura saindo sem olhar para atrás.

Fecho a porta e a tranco por precaução, não sei onde estou me metendo mas a sensação de provocá-lo mesmo sabendo do que ele é capaz é excitante.

VIZNHOS Onde histórias criam vida. Descubra agora