Educação escassa

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O rosto redondo e moreno da mulher a sua frente lhe encarava com incredulidade. Acabou que era uma motoqueira que estava passando por ali.
- Ajuda? - Ayla conseguiu sussurrar. Sua garganta estava apertada, sem dúvidas de medo.
- Sobe aí, mocinha. - A mulher se chegou um pouco pra frente, abrindo espaço na garupa da moto, qual logo foi ocupado pelo corpo de Ayla.

Pouco depois ambas estavam à uma velocidade razoável - considerando meios de transportes mais atuais - e a vila ja estava a vista. Ayla sentiu uma onda de tranquilidade, sobrepondo os arranhões causados pela areia em sua pele.
O vento não diminiui, pelo contrário, Ayla teve de puxar seu pano mais apertado ao rosto para proteção e manter os olhos por pouco abertos. 
A moto deslizava na areia, ameaçando tombar algumas vezes, mas a mulher parecia bem acostumada com isso, lidando perfeitamente com os deslizes. Passando os braços ao redor da mulher à sua frente, sentiu que ela tinha um corpo bem mais cheio e forte do que o seu ou de sua mãe; Ayla não via muitas mulheres gordas por causa da escassez de alimento mundial, mas acabou por concluir ser genético. 
Quando a moto parou, Ayla finalmente soltou a sua respiração bem devagar, pondo em mente que agora estava segura.

- Fora - A voz da mulher estava abafada graças aos panos lhe cobrindo boa parte do rosto.
Ayla foi rápida em sair da garupa, quase caindo no chão. Olhou novamente para a mulher à sua frente - sua salvadora.
- Muito obrigada, eu-
Ayla não pode terminar a frase, com uma guinada forte e um barulho alto do motor, a moto saiu disparada para frente, mais a fundo na vila. A mulher nem olhou para trás.
A garota quase se sentiu indignada mas então se lembrou da tempestade, que a fez correr de voltar para a segurança de sua casa.
Ao abrir a porta, encontrou seus pais muito preocupados, com um holograma aberto, provavelmente contando à outros o desaparecimento da filha. Por fim, a abraçaram e lhe repreenderam, mas todos os três estavam muito contentes de que tudo acabara bem.
Naquela noite Ayla foi para cama pensando na mulher rude que lhe salvou mais cedo, mas concluiu que a adrenalina do dia exigia uma noite de sono pesado, e não lhe foi negado.

Noites no DesertoOnde histórias criam vida. Descubra agora