Bela estranheza

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Tempestades de areia são um enorme perigo para comerciantes, já que maioria de seus itens ficam em exposição durante todo o dia, maioria deles rezam para não haver nenhum dano em suas mesas. Dessa vez, rezar não funcionou.
Havia quase meio metro de areia a mais do que deveria no chão, dezenas de itens enterrados e perdidos no meio dos grãos. Maior parte dos moradores da vila estavam do lado de fora de suas casas, avaliando danos.
Logo que saiu de casa, Ayla avistou uma senhora duas casas abaixo da sua. Seus cabelos brancos eram tantos quanto seu carinho, quando era criança, ela sempre dava doces dos mais diversos para Ayla - mesmo que a mesma nunca conseguisse se lembrar seu nome.
- Jid*, deixe me ajudar - Ayla se aproxima quando a senhora se abaixava para desenterrar algo.
- Oh querida, obrigada - A senhora sorri e aguarda pacientemente enquanto Ayla cava com as mãos a areia quente e tira de lá um frasco de cheiro, provavelmente especiaria de outro continente.
- Aqui está - A garota devolve o frasco, sentindo suas mãos calejadas arderem de leve.
- Muitissimo obrigada, Ayla. Eu bem queria poder te pagar pela ajuda - A senhora começa a pensar profundamente.
- Oh, não mesmo jid, não há necessi-
- Já sei - A senhora a corta com um sorriso adorável - Por que não fica com esse frasco? Um perfume digno de princesas.
Ayla encarou o frasco por um segundo, pensando Eu com certeza não sou princesa. Mas se eu falar isso ela vai continuar insistindo.
- Não precisa - A jovem continua a tentar, mesmo assim.
- Tome, não serve pra mim mesmo. - A senhora mexe os ombros caídos, mostrando que não se importa. - Leve.

Dessa vez Ayla aceita o frasco, o guardando em sua bolsa, sorrindo para a senhora. Se despedindo dela, Ayla segue pela vila, ajudando como podia e em troca recebendo um tempero ou vegetal. Foi um tempo satisfatoriamente bem gasto, se a perguntasse.
Um tempo depois os maiores danos ja estavam cobertos e Ayla se permitiu ficar nos limites da vila, mexendo em um dos itens que salvou da casa abandonada. Era para ser afiado, mas não parecia que tinha o objetivo de machucar alguém, infelizmente, havia muita ferrugem na ferramenta e a garota não conseguia distinguir direito sua função. Deixando pra lá, levantou os olhos e preguiçosamente observou seus vizinhos por um momento, andando pra lá e para cá, movendo coisas, gritando uns com os outros. Até que num instante Ayla viu um reflexo, ou talvez um vulto.
Se vestindo em sua maior parte de cores escuras, uma sombra andando lentamente entre os aldeões, avaliando os itens e mercadorias. Obviamente não era habitante dessa área.
Como que hipnotizada pela visão pertubadora, Ayla anda em direção ao estranho - quase seguindo a forma. Em dois minutos de caminhada lenta e focada, a garota percebe que eles estavam indo em direção geral de sua casa, essa informação a tira de leve do transe que estava, apenas para procassar a pessoa parada à sua frente, bloqueando o caminho entre o vulto e Ayla.
- Hey, você 'ta viva - A voz feminina e alta quebra completamente a concentração de Ayla no estranho, focando agora apenas na mulher a sua frente.
- Uhh... - A mente da jovem de pele bronzeada não sabia se havia entendido aquilo direito, afinal é bem incomum algo assim. A mulher revirou os olhos.
- Eu te tirei daqueles destroços ontem, na minha moto, garota. - Ayla se sentia como se estivesse levando uma bronca de sua mãe, mas pelo menos agora reconheceu a figura à sua frente.
- Ah, sim! Obrigada por sua ajuda. Realmente me salvou.
Ayla sentiu suas bochechas esquentarem ao perceber a mulher linda que havia em sua frente. Ela tinha o rosto redondo e os olhos um pouco caídos mas... Ela era absurdamente linda. Talvez pela confiança em sua postura e voz, ou pelo jeito de olhar as pessoas e como se visse seus íntimos pensamentos. O corpo baixo e cheio contribuíam com braços e pernas grandes, lhe deixando intimidadora, uma figura realmente forte, orgulhosa.
- Bom, não é todo dia que se vê uma criança perdida no meio do deserto, quando uma tempestade de areia 'ta chegando.
A mulher morena cruzou os braços em frente ao corpo, parecendo pensativa por um momento.
- Eu não estava perdida - Ayla franziu o cenho - Eu estava procurando na casas abandonadas.
- Procurando oque?
- Uh, bom... Qualquer coisa. Itens antigos, em sua maior parte.
- Deve ter dado o maior susto nos teus velhos, hein.
Ayla se pegou bem entretida na conversa com a estranha, esquecendo completamente do vulto fascinante que continuava andando por aí.
- Pois é - A garota riu sem graça - Levei a maior bronca também... Qual o seu nome?
A mulher quase deu um passo para trás, para não cair de susto. Logo se recompôs e fechou a cara.
- Melhor esquecer, mocinha. Ja estão começando a te encarar, melhor manter distância.
Chocada com a mudança drástica de comportamento, Ayla se virou para provar que ninguém se importava, mas ficou de boca aberta ao ver todos a encararem com desprezo... Não, não estavam encarando Ayla, era a mulher. Sussurrando algo baixinho, a morena se afasta rapidamente, antes que Ayla pudesse falar ou fazer alguma coisa.
Ainda um pouco pertubada com a situação,  seguiu caminho de volta para casa, onde não viu mais nem o rastro do vulto estranho. Enfim, um dia nem um pouco produtivo. Talvez um pouco, pensando nas pessoas que ajudou mais cedo, esse pensamento fez Ayla se sentir menos mal quando se jogou na cama macia durante a noite.

Jid *= Avó, em árabe.

Noites no DesertoOnde histórias criam vida. Descubra agora