Ayla teria tido uma ótima noite de sono, se não fosse por um pesadelo. Ayla raramente tinha pesadelos, maioria das vezes seus sonhos era completamente aleatórios e quase bobos, mas era diferente com pesadelos... Acho que é basicamente o que define cada um deles, não é?
Foi assim; Ayla viu algo parecido com sua vila, mas era noite e as casas não eram muito discerníveis. Notando que sentia o vento gélido em seu rosto, Ayla se assustou, pois seria um daqueles sonhos - pesadelos - super reais; mas a garota acabou não tendo muito tempo para pensar sobre isso, já que uma enorme sombra passou por si. Por cima, por baixo, quase que por dentro dela, Ayla sentiu a sombra realmente 'passar por ela'. Quando a sensação de desconforto passou, a morena começou a andar em direção às casas, achando que talvez assim acabasse mais rápido aquilo tudo. Então, Ayla sentiu algo muito estranho; um cheiro. Mas não conseguia dizer se o mais estranho era o fato de que ela sentiu um cheiro em seu sonho, ou o fato que o cheiro era tão familiar. Como se tivesse sido abraçada por ele, confortada, e de repente todo o incomodo do pesadelo passou. Por algum motivo ainda desconhecido, Ayla sentiu vontade de chorar, ela teria de acabado em lágrimas, se não estivesse sendo chamada.Agora acordada, Ayla respirava com dificuldade.
- Ei, você me assustou por um momento, pinóqueo. - A voz de seu pai fez com que se acalmasse imediatamente e voltasse a seus sentidos. Secando o rosto molhado, de suor e lágrimas, ela sorriu para o moreno com rugas faciais cansadas à sua frente.
- Foi mal, não foi muito intencional, sabe. - Na tentativa de humor, seu pai sorriu com carinho.
- Acha que consegue voltar a dormir?
Ayla para e pensa no calafrio sendo trocado tão bruscamente por conforto, e chegou a conclusão que, por mais que não parecesse assim, não era uma combinação tão boa.
- Acho que não. - Suspirando ainda cansada de tanta adrenalina, a adolescente se joga de volta na cama suspensa.
Seu pai lhe chama a atenção dando tapinhas em seu braço.
- Eu bem tava afim de um copo de leite quente - Ele diz, saindo do quarto - Você vem?
Um sorriso iluminou no rosto da garota, que pulou da cama em direção à cozinha.
Quando já estavam se servindo, algo surgiu na mente da garota.
- Duas perguntas. Primeiro: por que você 'ta acordado?
O homen tomou um longo gole de leite antes de responder.
- Organizar as coisas da tempestade foi exaustante, e você não faz ideia do quanto sua mãe 'ta roncando.
Ambos riem da situação, pensando o quanto amam aquela mulher deitada no quarto.
- Qual era a segunda pergunta?
Ayla prendeu os lábios juntos, pensando em como iria formular aquilo.
- Hoje eu tive a chance de conversar com a mulher que me salvou na tempestade. Eu agradeci, é claro, mas quando começamos a realmente conversar, ela saiu de perto de mim.
- Algumas pessoas não curtem uma conversa, pinóqueo. - O homem dá de ombros.
- Mas não foi isso, foi diferente - Ayla suspira pesado, olhando o copo vazio em sua frente - Ela disse que eu devia ser vista falando com ela, que as pessoas começariam a encarar.
Ayla viu de perto os olhos do homem ficarem de repente mais alertas.
- E... Como era? Essa mulher? - A pergunta estava cheia de cautela, talvez até receio.
- Huuh, morena, um lenço no cabelo... Ela era muito bonita!
Os dois ficaram em silêncio por um momento.
- As pessoas costumas ficar incomodadas com coisas que não entendem ou concordam, pinóqueo, talvez tenha sido melhor assim - Suas palavras soavam devagar e foram pronunciadas com cuidado.
- Não concordam que eu esteja conversando com alguém de fora? - Ayla não se dava o trabalho de disfarçar a sua confusão, mas seu pai já parecia distante da conversa, pois apenas balançou a sua cabeça e sussurrou algo sobre Ayla dever voltar a dormir.
A garota não estava contente com a resposta que recebera, mas não conseguia exatamente perceber oque parecia tão errado. Indo para o quarto, sentou perto da parede e ativou por voz o modo janela, que transformou meia parede em vidro, mas que se olhado pelo lado de fora não conseguiriam ver seu quarto. Ayla não conseguia dizer o que realmente se passava em sua cabeça nesse momento, além de confusão, a morena decidiu apenas deixar a mente vaguear enquanto observava a bela luz da lua refletida na areia que, algumas horas atrás fervilhava, agora chegava a temperaturas congelantes. Morava nesse deserto a sua vida inteira e ainda sim nunca conseguiu realmente capturar o momento em que a dualidade de clima se tornava tão evidente. Quando o sol parava de esquentar? Quando a areia não queimava mais? Como podia ficar tão frio à noite se de dia era tão quente, ás vezes insurportável?
Ayla não pôde fazer muito mais do que suspirar com tais pensamentos. Perguntas bobas e que não a levariam a lugar nenhum. Talvez devesse mesmo esquecer tudo estranho que aconteceu hoje, como seu pai sugeriu.
Com esse pensamento, Ayla se levanta e volta para cama, desligando o modo janela do quarto; logo antes de uma sombra coberta se esquivar pelos cantos das casas, observando tudo e a todos.
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Noites no Deserto
General FictionQuando uma suposta guerra nuclear acaba com 1/4 do território terrestre, há varias ideias para se reconstruir. Qual ideia venceria, a de uma jovem que não aguenta mais ver injustiça e dor ou do gênio traumatizado que acredita que aqueles que realmen...