11• Fire & Gasoline

50 2 0
                                    

Na sala de Tony, sentados à mesa principal, estava Clint, com uma das mãos no rosto e os cotovelos apoiados na mesa, pensando nos seus filhos e em como seria se o mesmo morresse e os deixasse. Natasha, com as costas na cadeira, os braços cruzados e o olhar fixo no chão, pensava que poderia ter sido ela, apesar de Bella ser o alvo. Pensava que poderia ter notado alguém do lado de fora. Benner, como sempre, suspirava alto e rapidamente, pensando no que haviam se metido e que não conseguiam ficar muito tempo sem se meter em algum problema. Tony, com a fúria iminente em sua expressão, estava inconformado sobre como haviam entrado ali. Como quinze homens haviam entrado em sua torre e em como havia falhado. Como haviam atirado em um dos seus.
Steve estava do lado de fora da sala. Os pensamentos atropelando uns aos outros. Pela primeira vez em muito tempo, Steve se sentiu perdido. Notou que não se sentia assim desde que a mulher chegara a torre. E que essa sensação agora o levava a ela, de qualquer maneira. Devia ter impedido. Devia ter imobilizado o homem assim que o viram naquela maldita sala. Assim que dirigiu a palavra a ela. No fim, não sabiam de nada. Nem quem eram, nem como conseguiram entrar e nem de onde surgiram. Apenas o que queriam. Pelo menos, o resto da equipe não sabia. Steve era inteligente demais para não perceber o que estava acontecendo ali. Algo maior do que podem controlar estava vindo à tona. Isabella havia lhe falado do Soldado Invernal e uma das perguntas sobre o assassinato do Agente Stanley fora respondida. Porém, se o mataram, havia algo a mais por trás disso. Morgan sabia de algo importante, algo que não poderia ser vazado de maneira alguma e que custou a vida de mais um agente da SHIELD. E era óbvio: quem estava escondendo esse segredo que de alguma forma Morgan descobriu, achava que a filha dele também sabia. Por isso precisavam dela. Precisavam elimina-la também. Toda e qualquer tragédia que poderia acontecer com a mulher sem a sua presença por perto assombrava o soldado. Seu instinto de proteção era maior que todo e qualquer sentimento que poderia identificar na sua mente bagunçada.

Ele viu o medo nos olhos de Stanley. O pedido de ajuda quando a mesma iria desabar ao chão depois do disparo. Steve também sentiu medo, talvez mais do que ela mesma. As mãos soavam dentro dos bolsos de seu jeans surrado, e a perna batia em constante ansiedade. Faziam duas malditas horas que Bella estava na sala de cirurgia e a ansiedade estava o deixando maluco. Precisava vê-la. Precisava olhar nos olhos da mulher, sentir aquele arrepio na nuca sempre que a encarava. Se desculpar pela discussão que ainda não tiveram chance de falar sobre. Quebrar o clima ruim que estava claramente instalado entre os dois, e, de repente, voltarem a conversar como amigos. Quem sabe até falar para a mulher como ela é importante para ele. Sentindo que isso estava prestes a acontecer, Rogers levantou o olhar em direção ao homem que saía da sala de cirurgia onde Bella se encontrava, esperançoso que o mesmo iria lhe dizer que ela estava bem e que queria vê-lo.
Ao contrário do que pensou, o homem grisalho passou reto, entrando na sala onde estava o resto da equipe. Confuso, o loiro vai até a sala, esbarrando com o doutor, que tinha Tony em seu encalço. Estava mesmo acontecendo? Bella havia acordado e pedido ao doutor para ver o Stark? Se sentindo estúpido por alimentar tantas esperanças, o soldado apenas segue os dois com os olhos até entrarem na outra sala.

Lá dentro, Bella se encontrava acordada e aparentemente saudável, bebendo um suco ruim e amargo de laranja que a enfermeira havia lhe dado. Havia acordado meia hora antes achando estar no inferno, pois acreditava que iria pra lá depois de morrer, apesar de achar céu e inferno uma grande besteira. Assim que acordou, pensou em chamar Steve. Queria ter uma longa conversa com o soldado, contar todos os seus medos e sentimentos sobre tudo que aconteceu com ela apenas horas atrás. Mas antes de encarar aqueles olhos azuis e fazer um monólogo sobre tudo, precisava fazer uma coisa.
- Me sinto lisongeado. De verdade, superar o Rogers sempre me anima. Não importa o que seja - Stark fala com o humor de sempre, entrando na sala, dando a volta na cama onde a mulher estava e se sentando na poltrona do seu lado. Isabella apenas revira os olhos, vendo Tony lhe encarar como se perguntasse se ela estava bem. Afirmando com a cabeça, Tony retribui o aceno. Com poucos dias de convívio com Stark, apesar de estar na sua torre a um tempo, era esse o diálogo deles de sempre. Curto e discreto. Tiveram pouquíssimas e curtas conversas sobre Engenharia Elétrica, na qual sempre acabava em discussão em apenas duas ou três frases dos dois. Diferentemente de Bella e Steve, completos opostos, Stanley e Stark eram iguais: ambos orgulhosos, narcisistas e extremamente teimosos. Mas gostavam um do outro.
- Preciso de um favor seu. E mais do que isso, prefiro que não conte ao Rogers. - ela é direta, arrancando uma sobrancelha erguida de Stark e uma expressão confusa.
- Sou todo ouvidos. - ele se aproxima da cama, enquanto Bella toma coragem para começar a falar. Como todo e qualquer assunto que já teve dentro daquela torre, esse também tocava em feridas profundas e que ainda não se cicatrizaram.

- Na verdade, preciso de mais de um. Preciso que marque um encontro com Fury sem ele saber que sou eu. Diga que vai no meu lugar. E, antes disso, preciso do acesso a J.A.R.V.I.S. por pelo menos uma tarde. Vai ser o suficiente para o que eu preciso fazer - ela fala de uma vez, mais direta do que nunca. Alguns segundos se passaram com Tony apenas a encarando, e, depois de um tempo, uma leve risada saiu de sua garganta.
- Quer que eu minta para o diretor de uma agência ultra-secreta para que se passe por mim e que eu lhe dê controle do meu sistema de inteligência artificial? - Stark fala descrente, rindo nos intervalos de suas frases. A mulher a sua frente estava pedindo coisas fora de seu alcance como Homem de Ferro. A confiança em Isabella era mínima pra fazer tudo que a mesma pediu, e Tony ainda não tinha nenhuma garantia de que ela não lhe passaria a perna. Talvez tinha a garantia de que Rogers confiava nela e Tony até que confiava em Rogers. Mas não o bastante para isso.
- Stark, eu preciso que faça isso por mim. Eu sei de coisas sobre a morte encoberta de um agente da SHIELD, e é covardia do Fury não me contar e me fazer descobrir tudo sozinha. Eu preciso confronta-lo. Mas antes disso eu preciso de todos os fatos para não falhar dessa vez. Qual é, Stark. Você tem a faca e o queijo na mão. Não que seja uma grande pregada de peça nele, mas sei que não vai com a cara de Fury tanto quanto eu. - ela se senta com dificuldade na cama, na esperança de convencer Stark a seu plano maluco, porém, compreensível. Tony continua firme.

- E por qual razão a senhora acha que vai conseguir a minha ajuda? - ele rebate, esperando Isabella gaguejar ou não saber o que responder. Mas ao contrário do que pensava, Stanley também tinha suas cartas na manga. E sabia onde pisar.
- Por que você entende a minha dor tanto quanto eu. - Isabella da a cartada final. Ela viu o homem a sua frente se desestabilizar como achava que iria. Stark a encarava com um pesar no peito. Anthony sabia exatamente do que Stanley dizia. Tony havia perdido os pais, ambos de uma vez, em um acidente de carro quando era mais novo. Um lado de Stark queria o convencer que a mulher apenas havia tocado na ferida para conseguir o que queria com o mais velho. Mas outro lado, o que provavelmente pesava mais em sua consciência, era que o assunto que rodeava Isabella desde que a mulher chegou ali era a morte de seu pai. Era por ele, não por ela. E Tony não a deixaria na mão, por mais que quisesse.
- Golpe baixo, criança. - ele se levanta depois de um bom tempo em silêncio, esfregando a palma das mãos na calça de moletom nova. Stanley esbanja uma expressão satisfeita, pois não saberia o que fazer caso Tony negasse seu pedido caso sua única garantia falhasse.
- Você sabe que atacaram minha torre por sua causa, não sabe? Conseguiram quebrar todos meus protocolos de segurança por causa de uma criança - a frustração era evidente na voz de Stark. E, Bella sabia que ele estava certo. Já havia causado muitos problemas desde que chegou, e, com o maior deles no seu encalço, começou a perceber que seu tempo estava se esgotando. Precisava acabar com isso.
- Eu não sou muito mais nova do que você, vovô. - acostumada com Tony sempre tirando uma com a sua cara, a mulher continua.
- Eu sinto muito Stark. Nunca quis que isso acontecesse... Em minha defesa, nunca vi aquele homem na minha vida - ela começa a se desculpar, porém a mão de Tony se levanta como sinal de que ela não precisava se explicar e nem continuar a falar. O mais velho sabia o que fazer, apesar de o fato do ataque ter acontecido ter o enfurecido, Tony tinha seus estepes.

- Marco uma reunião com Fury o mais cedo possível... e J.A.R.V.I.S vai esperá-la na sala de pesquisas restritas na tarde de amanhã. - ele começa a ir em direção a porta, sem ao menos olhar para a mulher. Não queria demonstrar nenhum tipo de compaixão pela estranha, mesmo que a sentisse. Colocando a mão na maçaneta, Stark sente um choque leve na mesma se virando na direção de Bella.
- Tony, não deixe que Steve descubra. Por favor. Não quero causar mais problemas do que já causei - ela diz, com uma das mãos levemente suspensas no ar.
- Eu não vou. - ele encara a mão de Bella, como se repreendesse a mesma por ter lhe atacado pelas costas, mesmo que fosse na inocência. Ele tenta abrir a porta mais uma vez, porém Stanley o chama novamente.
- Quer uma suíte com banheira? Ingressos para um show? - Anthony se irrita, bufando e se virando na direção da mulher, mais uma vez.
- Obrigada, Tony. Te devo uma. - ela sorri pela primeira vez para o homem, e o mesmo revira os olhos para finalmente sair daquela sala com cheiro de hospital. Na cama, Isabella sorria de lado por saber que Stark simpatizava com ela mais do que ela pensava, mesmo com o seu jeito irritante de ser. Do outro lado da sala, Tony balançava a cabeça de forma negativa, enquanto um sorriso de lado também escapava de seus lábios. Bella lembrava ele quando era mais novo. Destemido e, na sua melhor versão, altruísta. Se entendiam, mesmo que por pouco tempo. Como fogo e gasolina.

Energy Onde histórias criam vida. Descubra agora