10• HYDRA

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As mãos de Morgan Stanley tremiam como nunca. O mix de nervosismo e raiva invadiam seu corpo e corria em suas veias. Atravessou todo o corredor principal do Triskelion com passos longos e firmes, com as pastas de arquivos confidenciais nas mãos, e algumas folhas caindo pelo caminho. Enquanto sussurrava palavrões baixinho como "Ah, seu filho da... Cretino, canalha!", e batia a perna constantemente em ansiedade, o elevador em que entrou se abre dando vista a um corredor longo com apenas uma porta no final e um segurança trajado com uniformes da SHIELD.
- Com licença senhor, essa ala é proibida pelo diretor. - o homem toma frente de Stanley, que apenas revira os olhos e sussurra um "imbecil".
- Nicholas não disse que eu viria? As margueritas o fazem perder a memória. Permita - me. - Morgan fala ironicamente, mas é interrompido pelo barulho da porta automática se abrindo.
- Deixa ele entrar. - a voz do diretor da SHIELD fora ouvida. Morgan Stanley esboça uma carranca para o segurança, que fecha a porta atrás de si. A sala era imensa, com armários minimalistas encostados na parede, um tapete preto no centro da mesma que dava destaque a longa mesa de vidro que trazia consigo uma placa escrito Diretor Nicholas Fury Jr. A vista belíssima de Washington nas alturas quase amenizava as coisas para o lado do diretor. Quase.
- Você não toma jeito, não é? - o agente fala alterado, enquanto joga os arquivos com força em cima da mesa do diretor. Fury revira os olhos, enquanto afasta os arquivos do caminho com seus pés que estavam em cima da mesa.
- Você sabia. Sabia de toda a história do cara que matava seus agentes E TAMBÉM sabia quem ele era - Stanley gesticula com o dedo apontado para Nick, a voz falhada devido ao esforço e cansaço que tivera nos últimos meses. Os meses que estudava naquele caso.
- E não me contou. - ele finaliza, enquanto o diretor permanece quieto.
- Bucky Barnes não morreu, não foi? - ele dispara contra o diretor, que retira lentamente os pés da mesa, como se uma tempestade chamada Agente Morgan Stanley não estivesse se formando em cima de sua cabeça. - Ele caiu daquele trem e quase não sobreviveu a queda. Sabe por que? É óbvio que já sabe. Por que a HYDRA o achou. - o agente grita de volta, inconformado pelas mentiras do homem a sua frente. O homem que lhe deu o caso achando que nada seria feito com ele. Que achava que o caso voltaria a ser um caso arquivado do nível 9 Confidencial.
- Morgan, por favor. - Nicholas começa, tentando acalmar o amigo. Stanley ri descrente.
- Você realmente achou que esconderia isso de mim me dando todas essas informações? Achou que eu não iria descobrir? Que tipo de agente acha que eu sou, Nicholas? E, aliás, quantas mentiras mais vai esconder de mim? - o agente devolve, cansado. Onze meses. Era o tempo que havia gastado dando a vida para desvendar o caso do Fantasma. Com pouquíssimas informações, dia e noite, 24 horas por dia, sua cabeça estava baixa nesse caso. Caso no qual Nicholas Fury Jr. já sabia o desfecho.
- Você perdeu doze... Doze agentes pra esse cara. Na verdade, duvido que você tenha perdido algo. Ou sentido. Doze famílias perderam alguém e você não da a mínima pra isso! - sem deixar o homem terminar, Fury desfere um soco contra a mesa, irritado com as palavras do agente.
- Você não sabe nada, nada sobre mim, Agente 53! Não havia nada que eu pudesse fazer. Então abaixa essa bola que você acha que tem comigo, se não quiser uma advertência ou exoneração. - o tom de Fury havia mudado da água pro vinho em um instante. Odiava ser taxado de desalmado, única coisa que Morgan fez desde que chegou ali. Mas no fundo ele sabia que o agente estava certo. Aliás, não dava pra acertar sempre. O diretor percebia que um de seus melhores agentes estava perdendo o brilho de sempre, quase que no fundo do poço. Deu o caso sem solução para Morgan por que queria ver seu agente bem outra vez. O agente que sempre viu lutar por todo e qualquer coisa que acreditava. Então Fury sabia que tinha pisado feio na bola. Além de, óbvio, alguém além dele mesmo ter descoberto o segredo do tão temido Soldado Invernal. Confiava em Morgan, mas o conhecia o suficiente pra saber que o homem com raiva a sua frente não era o mesmo que seu amigo de anos.
- Escute, Stanley - o diretor suspira, cansado. Exercer a mesma função desde sempre era fantástico, pois era o diretor de uma das agências secretas mais renomadas do mundo inteiro. Mas ainda assim, Fury era humano. E o cansaço da idade estava finalmente começando a vir a tona. - Ninguém mais pode saber sobre isso. Causaria pânico e a minha vida iria virar um inferno, não que ela já não seja. Então por favor... não seja tão medíocre. Nunca quis magoar seus sentimentos. - o diretor termina, com o mesmo tom sarcástico de sempre que nunca o abandonava. Stanley chegou mais perto.
- Você é podre - ele dispara, e as palavras não fazem efeito na parte de fora de Fury. Talvez tinha tocado em um ponto dentro dele, mas por fora, a expressão continuava a mesma: intocável. - Você brinca com as pessoas como se apenas o seu nariz importasse. Sinto pena de você, por que é tão, tão vazio, que precisa sempre estar na frente de todo mundo pra se sentir bem por dentro. Eu realmente espero que alguém um dia consiga estourar essa bolha que você chama de ego. - as palavras saem instantaneamente, e o agente não se esforça em impedi-las de saírem. Precisava daquilo. Nicholas precisava daquilo.
- Aliás - Morgan começa a andar em direção a porta - Falando em estourar... não vejo a hora de quando Rogers souber do seu segredinho. Aposto que ele vai adorar, já que a política da SHIELD o agrada tanto.
- Você não ousa, agente...
- Não sou mais seu agente, Nicholas - ele aponta para o distintivo da SHIELD e da pistola que havia deixado na mesa do diretor sem que o mesmo visse. 
- Pra trabalhar para você, preciso que confie em mim para eu poder confiar em você. O que me leva a perguntar: quais são os segredos que você ainda esconde?

Nos dias atuais

O teto do imenso hospital passava voando sobre as vistas de Isabella. A maca do hospital voava diante os corredores, seus sentidos conseguiam identificar passos rápidos do seu lado, além da dor aguda em seu abdômen e um constante incômodo na cabeça. Apesar de tudo isso, conseguia sentir uma mão segurando a sua. As luzes do hospital piscavam enquanto a mulher tentava se fazer acordada, falhando miseravelmente algumas vezes porém abrindo os olhos quando ouvia um resmungo ao seu lado.
- Não ouse fechar esses olhos - a voz de Romanoff era audível a direita de Bella. A mão,  que sentia no aperto forte da sua, era maior e estava do lado esquerdo.
- Eu morri? - Isabella pergunta, um lado da mulher tentando descontrair e o outro coberto de verdade. Estava morta ou apenas nesse caminho?
- Não ouse dizer isso outra vez - a voz suave de Steve foi ouvida a sua esquerda. Bella sentiu algo beliscar sua pele no braço direito e outro belisco no lado esquerdo.
- É morfina e anestesia. Precisamos levá-la pra sala de cirurgia o mais rápido possível, se ela perder mais sangue... - as vozes se misturavam em sua cabeça e estava impossível organizar seus pensamentos.
- Leve ela agora - Stanley sentiu os olhos pesando e o corpo ficando mole. O desespero lhe invadiu, apertando a mão que provavelmente era do soldado ao seu lado.
- Vai ficar tudo bem. Eu prometo a você. - ele olha para ela pela última vez, passando a mão em sua testa em direção ao seus cabelos. Bella sentiu uma lágrima escorrer pelo seu rosto.
A pequena Coulson se pegou lembrando do dia em que seu pai lhe ensinou a andar de bicicleta. Depois de cair mais uma vez, batendo no joelho ralado da última queda, Bella lembrou de chorar como se tivesse perdido uma das pernas. Morgan, agachado ao seu lado, passou a mão em sua testa na direção de seus cabelos.
Vai ficar tudo bem, pequena. Eu prometo.
Foi seu último pensamento antes de apagar completamente.

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