Capítulo 1.

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Valentina Zenere.

Seattle City College, 3 anos atrás.

"Seattle, uma cidade pequena com bastante conhecimento, mas também com seus valores e história. Em cada casa, em cada morador e em cada metro cúbico. Era o tipo de lugar ideal pra pessoas amarguradas que tinham uma chance de reiniciar suas vidas. Era calmo, tinha confraternizações amigáveis e ótimos colégios. E um deles Seattle College. Um dos mais antigos já existentes no local."

Essa era uma pequena parte do rascunho que eu planejava para o último dia de aula, pro último trabalho que eu sabia que ninguém além de mim ia fazer, afinal, não valia nada para as notas ou qualquer coisa do tipo. Daqui a dois dias seria o baile de formatura e todos tinham seus pares, quer dizer, eu não me incluía nesse grupo. Recebi alguns vários convites de vários garotos mas não quis ir de acompanhante de ninguém, bom querer eu queria mas de alguém em específico. As garotas convidavam os garotos do time de basquete e os garotos convidavam as mais bonitas, isso me incluía eu acho, por mais que eu fosse super tímida, eu era consideravelmente bonita, mas meus olhos eram apenas para ele, o garoto que eu não conseguiria tirar os olhos o desde que coloquei os pés nesse lugar.

Ele não era ninguém menos do que a pessoa mais bonita, educada e gentil que eu conheci. Mas eu tinha consciência de que esse garoto não sabia da minha existência e estava bem com isso. Eu talvez não estava em todos os padrões de beleza, ou de corpo talvez, sempre fui muito tímida e não me achava tão linda, mas sempre fui loira dos olhos azuis com algumas sardas no rosto - típico de garota americana, mas meu corpo nao era dentro dos padrões, sempre fui muito magrinha sem peito ou bunda grande como das garotas que eram líderes de torcida. Porém eu sabia que não tínhamos o poder de escolher de quem gostávamos ou quem odiava os e se eu pudesse escolheria não sentir nada por ninguém. Como dizem, tudo que começa no ensino médio sempre termina.

...

Esses dois dias se passaram tão demorados quanto segundos, eu planejava algo nesse baile. Eu não tinha companhia mas a roupa ideial pois minha mãe escolheu para mim, mas eu não planejava entrar exatamente no salão aonde tudo acontecia. Eu apenas queria ver uma pessoa antes de ir em bora de vez da cidade, e por isso eu estava ali, encostado no muro do lado de fora enquanto olhava o pedaço de papel na minha mão. Sempre existia a tradição de assinar o livro no final do ano, e bom, mesmo que eu não falasse com ninguém tinha pessoas gentis o sufiencite para assinar livros aleatórios como o meu. E quando eu abri vi a assinatura dele, minha primeira reação foi arrancar cuidadosamente aquele pedaço pequeno de papel e guardar, foi o mais perto que chegamos de qualquer interação.

Já estava tarde, ele estava atrasado pro baile. Mas quando olhei para frente, respirei um poço mais aliviado ao ver ali. Infelizmente acompanhado. Era apenas Katy, eu sabia que era uma das garotas que frequentava a mesma igreja dele, e sabia também que eles não estavam juntos mas ainda sim isso me incomodava. Ela também era uma boa pessoa, já tinha falado comigo algumas vezes no corredor e isso me fez sentir um pouco menos insegura sobre chegar até ele e pedir licença para ela por alguns segundos. E quando fiz isso ela aceitou com um pequeno sorriso no rosto e saiu em direção aonde acontecia a festa.

Pela primeira vez, lá estava eu criando coragem para falar o que estava preso por certa de dois anos. E mais do que tudo, eu esperava uma resposta positiva. Então, comecei a falar do primeiro momento até o último e eu sabia que ele estava em choque, quem não estaria? Mas isso não me amedrontou, continuei até que não sobrasse mais nada pra falar e por fim, apenas perguntei se a gente poderia de conhecer melhor. Mas tudo que eu ouvi foi um:

"Não, eu acho que não."

Seguido dele andando apressadamente até o lado de dentro, mas rapidamente seguinte seu braço em uma tentativa de me desculpar, insistir ou ignorar meu coração que se estilhaçava aos poucos.

Quando ele se virou, claramente nervoso, apenas senti suas mãos me empurraram com certa força me fazendo cair no chão. Eu apenas o vi olhar para mim com uma mistura de raiva e pena, e então se afastar. Eu sabia que tudo tinha ido por água a baixo e por minha culpa.

Com uma dor que eu pensei que nunca mais iria passar e um corte profundo no braço por ter caído alguma coisa pontiaguda, fui direto ao hospital e tomei os pontos necessários. Depois, fui para casa e perdi a conta de quantas semanas passei chorando no travesseiro. Tanto por ele, pela solidão e pelo divórcio conturbado dos meus pais

Por meses eu pensei que nunca sairia daquela situação.

Seattle City, Dias atuais.

Eu estava distraída, sentada no banco da igreja aconchegante e consideravelmente cheia. Todos estavam ali por uma única pessoa, o tão falado padre da cidade, que é tão puro e pregava uma mensagem tão linda quanto de um livro nunca lido. Eu estava ali por um motivo e certamente não era busca de salvação. Eu já tinha desistido a anos.

Faltavam apenas três minutos para o início do seja lá o que eles iam fazer, certamente eu não era religioso e isso era óbvio pelo conhecimento zero sobre o assunto. Minha maior distração era a pequena cicatriz em meu braço, aquilo nunca foi em bora assim como as lembranças.

Quando todos pararam de falar e voltaram sua atenção para a frente da igreja, demorei um pouco ate levantar o olhar, mas quando eu olhei foi como se toda raiva, melancolia e saudade do mundo se transformasse em uma só emoção so e entrasse em mim. Por minutos eu não consegui desviar o olhar, fiquei observando e o ouvindo falar.

Ouvi atentamente cada uma de suas palavras, são realmente lindas, mas quando por fim acabou a tal missa, fiquei no banco esperando todas as pessoas irem em bora até só sobrar nos dois na igreja

Até que ele me vou, e também não conseguiu desviar o olhar.

Shawn ainda sabia quem eu era.

Amargo PecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora