Capítulo 6.

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Valentina Zenere.

Respirei fundo ao terminar de falar e desviei o olhar pro chão, mordiscando o lábio inferior nervosamente e tentando ao máximo impedir que lágrimas escorressem pelo meu rosto. Não aqui e não agora, se dependesse de mim ele não veria qualquer emoção ruim vindo de mim.

Tentei me recompor da melhor forma que pude no momento antes de voltar a encarar o mais alto, eu não tinha uma resposta clara para pergunta de porque eu simplesmente nem cheguei a me perguntar sobre isso. Porque ele? Porque eu nunca consegui seguir em frente? Talvez essa insistência toda seja mais para minha própria libertação do que pra ter ele.

— Você não tem arrependimentos, não é? Viveu uma vida perfeita só pra se tornar... isso.

Eu não queria parecer acusativa, não queria diminuir o que ele era mas eu tinha certeza que acabou saindo daquele jeito.

— Eu fui apaixonada por você por três anos, eu tentei me aproximar de todas as formas mas você nem se deu ao trabalho de notar minha presença ali.

Realmente, por três anos eu carreguei aquele peso e carrego ate hoje. Não que eu fosse admitir pra ele que existia algum sentimento ali ainda, mas eu sabia que existia.

— Você escolheu se tornar uma pedra sem sentimentos só pra servir a um Deus, e porque? Pretende ir para o paraíso quandi morrer?

Muitas perguntas retóricas que já deixavam clara a minha irritação com aquela situação, com o jeito que que ele ainda me enxergava e sobre como isso parecia não valer nada.

— Se isso é tão sujo e depravado pra você, por que não me explica de novo? Não é tão difícil.

Descruzei meus braços e me aproximei um pouco do mesmo, talvez até de mais. Mas de novo, eu não ligava pra suspeitas.

— Pode fingir ser essa pessoa que você é, mas também pode me encontrar no seu quarto em cinco minutos se quiser. Eu duvido que você deixou a porta trancada.

E com isso, me afastei dali indo em direção ao quarto. Era realmente agora ou nunca, eu iria ficar ali e esperar por ele. Talvez fosse um erro e talvez ele não viria, bom, eu tinha certeza que ele não viria. Mas o deixar tentando a descobrir as coisas já era o suficiente para mim.

Shawn Mendes.

Escutei o que disse e foi impossível não fazer uma expressão fechada. Era como se o que escolhi para ser não valesse nada. Mas eu tinha alguns arrependimentos sim, mas não me remoía por isso. Havia perdido tanta coisa que, por ser adolescente tinha curiosidades, mas vivia bem com isso.

— E sou completamente feliz sendo... “Isso” — repeti o que ela disse.

Ouvi atentamente o que disse, não era culpa era? Quase nunca percebia essas coisas, não era meu foco namoros ou nada do tipo. Nunca — quase nunca — havia sido grosseiro com ela, exceto pela vez em que a empurrei. Toda vez que ela falava comigo, ou tentava, eu respondia, confesso que até mesmo achava fofo o seu jeito e gostava de quando se aproximava. Mas não era justo ela colocar a culpa em mim.

O que disse em seguida me despertou um pouco de raiva, claro que como qualquer outro ser humano eu sentia raiva, tristeza, alegria. Eu não era uma espécie de robô que não tinha sentimentos.

— Chega Valentina! — aumentei minimamente o tom da minha voz — Eu não sou uma pedra sem sentimentos, você não sabe nada sobre o que sinto, não tem ideia de como é estar na minha pele. Se eu faço o que faço é porque gosto e quero e não pensando na minha morte.

Amargo PecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora