Capítulo 4.

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Valentina Zenere.

   Quando acordei no dia seguinte, minha cabeça doía e a claridade que vinha da janela incomodava de uma forma absurda, eu sabia que tinha compromissos importantes hoje mas me faltava vontade de realizar eles. Se as coisas fossem um pouco mais fáceis talvez eu pudesse ficar deitado o dia inteiro, mas infelizmente não é assim e nunca foi assim.

   Respirei fundo e me sentei no sofá, com uma dor insuportável no pescoço por conta da posição ruim. Eu precisava mesmo começar a organizar melhor a minha vida, em todos os sentidos. Mas depois de ontem minha mente só conseguia pensar em uma pessoa e em como eu queria ir até o final com aquele plano extremamente mal planejado, mas que me trouxe um sentimento tão bom e ruim ao mesmo tempo que eu nem sabia descrever.

— Tudo bem, hora de começar.

   Me apressei em ir até o banheiro e tomar um banho rápido, eu já estava atrasada e ainda precisava comprar alguma coisa pra comer antes de ir até a igreja. E dessa vez nem era pra ver quem eu tanto queria ver, apenas pra ajudar em um evento. E não era bem porque eu era uma pessoa generosa, mas porque estavam pagando bem pra cuidar dos desenhos do lugar e talvez ajudar vez ou outra, eu não entendia direito mas era uma festa pra comemorar alguma coisa. Talvez a idade da igreja, eu não sabia mesmo. Não estava prestando atenção quando me falaram.

   Peguei tudo que eu precisava antes de sair de casa e olhei a hora uma última vez, ainda não estava tão tarde. Passei em uma cafeteria antes e optei apenas por café, não era a coisa mais saudável do mundo beber aquilo puro de manhã mas era o suficiente pra me deixar de pé. Ainda mais em um dia frio como esse, pelo tempo uma tempestade estava prestes a começar.

   Quando cheguei na igreja, tinha apenas algumas pessoas pendurando decorações do lado de fora, e o lado de dentro mesmo estava completamente vazio. Eu sabia que não devia sair entrando assim mas só precisariam de mim mais tarde, eu tinha tempo. Caminhei em passos lentos onde supostamente deveria ser os aposentos do padre, e eu estava certo. A porta estava destrancada e era uma sala pequena e aconchegante, com uma cama no canto e sem muita decoração. Uma outra porta estava fechada e eu tinha certeza que lá era o banheiro por conta do barulho do chuveiro, e em cima de uma mesa estava uma Bíblia aberta em uma página que eu não fiz questão de ler.

   Me sentei na cama e puxei o celular do meu bolso, ainda terminando de tomar o café. Talvez não fosse a coisa mais elegante do mundo esperar alguém daquele jeito mas seria no mínimo interessante, e é claro, eu tinha notado como ele ficava na minha presença e como quase realmente me convenceu de que era uma pessoa boa. Quer dizer, ele não ter se deitado com ninguém? Amaldiçoado ninguém? Eu duvido disso. Os poucos padres que eu conheci eram piores do que as próprias pessoas que assumiam os pecados.

Shawn Mendes.

Sentia a água em meu corpo e tinha vontade de ficar lá, não querendo sair dali. Gostava de tomar banhos relaxantes, poderia ser mais se eu não estivesse dentro da igreja.
Após estar completamente limpo, peguei minha toalha e me sequei.
Eu não me considerava alguém complemento puro e santo, até porque como qualquer ser humano eu errava. Errava tanto que toda vez que me olhava no espelho conseguia ver meu pequeno pecado que me acompanhava.

Antes de me tornar padre, fiz uma tatuagem, uma borboleta em meu braço esquerdo. O motivo de ter feito? Um quadro que minha vó tinha em casa, queria a eternizar em mim. Como ela havia falecido, eu por alguma razão não conseguia ver sentido em mais nada, já não planejava continuar com a ideia de ser padre então a fiz, nunca havia me arrependido de ter feito. Mas sabia que aquilo não me afastaria do meu caminho. Claro que ninguém nunca havia a visti, essa era uma das razões por eu usar apenas camisas sociais. Não mostrava essa parte de meus braços, até porque quem ficaria numa paróquia na qual o padre tinha uma tatuagem? Era um pouco hipócrita já que alguns membros possuíam também.

Enrolei a toalha em minha cintura e passei o desodorante ainda no banheiro, passando a mão em meu cabelo. Abri a porta e saí do banheiro.
Andei até a cama até conseguir ver que eu não estava sozinho, qualquer pessoa sabia que era proíbido entrar ali. Mas claro que a única pessoa que não ligava para isso era Valentina.
Engoli em seco antes de falar qualquer coisa, nenhuma outra pessoa havia me visto como estava naquele momento. Além da toalha, não tinha mais nada em meu corpo. Nada.

— O que você está fazendo aqui? Você não deveria estar aqui... Você poderia por favor sair daqui?

Falei um pouco nervoso, Valentina me deixava assim, o que eu não entendia o porquê. Mas sabia que deixava, ontem foi o necessário para saber isso.

Amargo PecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora