Capítulo 10.

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Valentina Zenere.

Ao ouvir seu pedido, fiquei alguns segundos procurando as palavras certas. Todas passavam na minha cabeça mas nenhuma parecia ser o suficiente, dessa vez era só um pedido calmo e sincero e o que eu podia fazer além de obedecer? Eu jamais forçaria alguém a fazer alguma coisa que não quisesse, e com ele não seria diferente. Minha presença não era tão bem-vinda aqui e eu lidaria com isso do meu jeito, pelo menos tentaria ignorar a sensação horrível que se apossou do meu peito.

— Eu prometo.

Prometi concordando com a cabeça, eu iria cumprir essa promessa. Pois sei que esse lugar é importante para ele, a sua imagem também e sua vida com Deus. Eu não iria o obrigar a pecar aqui dentro da igreja, isso jamais. Porém eu o deixaria na escolha de pecar ou não, sem o obrigar, será por conta própria porém não hoje, ou pelo menos não por aqui.

— Quer ir pra outro lugar?

Minha pergunta saiu baixa, não tinha necessidade de nenhum barulho ali além da chuva batendo contra as janelas. De primeira o quarto dele parecia a melhor opção, era mais perto e mais "escondido". Mas ir até a minha casa não será um problema, até prefiro na verdade.

Shawn Mendes.

Concordei lentamente com a cabeça. Ficava feliz por ela prometer, adoraria que ela cumprisse com sua promessa, claro que não confiaria muito antes de vê-la cumprir.
Talvez Valentina não entendesse o que aquilo tudo significasse para mim, talvez para ela a igreja fosse só mais um lugar, mas comigo não. A igreja era muito mais do que um lugar para ir aos finais de semana, tanto que todos os dias da semana estava ali. Não tinha um dia que eu não estava aqui. Mas, não esperava que ela entendesse aquilo para mim. Talvez por isso sua promessa para mim não passaria de palavra.

A olhei com atenção e concordei com a cabeça. Não fazia ideia se ela pensava que eu morava ali ou sei lá. Me afastei dela e fui até a janela que tinha ali e fechei a cortina. Logo voltei para perto dela e semicerrei meus olhos.

— Você não acha que eu moro aqui, acha?

Perguntei a olhando e logo balancei a cabeça indicando para sairmos dali. Assim que ela saiu, tranquei a porta e fui até a parte de dentro da igreja, pegando minha mochila e logo saindo dali, peguei também um guarda chuvas.
Tranquei a igreja completamente e caminhei, junto a ela ao lado de fora da igreja para sairmos. Abri o guarda chuva e esperei que viesse comigo ou não.

— Para onde vamos?

A olhei curioso e pendei minha cabeça para o lado. Não tinha certeza se a queria levar para minha casa, não me parecia muito certo isso. Mas de qualquer forma ainda assim a queria por perto, Deus, que tipo de confusão tinha se formado em minha cabeça?

Valentina Zenere.

— Sei que você não mora aqui, mas sei que é o seu lugar.

Mesmo com tudo aquilo, ainda me restava um pouco de sensatez para entender que a igreja era quase a casa dele. O lugar que ele mais amava e gostava, eu sabia que nunca chegaria nem aos pés disso e isso ao mesmo tempo que era hilária me deixava um pouco magoada por dentro, mas nada que fosse impossível de esconder.

— Podemos ir para minha casa.

Avisei e caminhei junto a ele até o lado de fora do local, a chuva forte já tinha se transformado em pingos finos e gelados e eu sabia que isso provavelmente me causaria uma gripe forte no dia seguinte, mas a minha mente só conseguiu chamar um táxi e eu nem mesmo me importava a medida que minhas roupas ou cabelo iam molhando, já ele estava debaixo de um guarda-chuva mas não quis entrar debaixo do mesmo, por não saber se ele queria ou não. Eu nem sabia se o que escorria pelo meu rosto era só água ou lágrimas. A cidade estava escura e ficava assustadora a essa hora, a iluminação pública estava basicamente desligada e a maioria das coisas era iluminada pela luz da lua. Mesmo que a minha maior vontade fosse segurar a mão do maior ou simplismente o abraçar me contive da melhor forma que pude até o carro chefar, isso me fazia lembrar que eu realmente precisava comprar um carro próprio.

Entramos lá e o caminho foi em um silêncio pesado, mas rápido. Quando notei já estávamos na frente da minha casa e eu tinha quase certeza que aquele taxista já me conhecia, por certa coincidência ele ja me levou em lugares mais de uma vez, isso era uma coisa mais próxima que eu podia chamar de amizade nesse lugar. Então, eu paguei ele e busquei pela chave de casa, entrando ali e dando espaço pro outro entrar.

Era simples, talvez um pouco bagunçada e com um cheiro forte de tinta fresca, talvez eu estivesse derramado em algum lugar mas não me lembrava. Porém era aconchegante ao mesmo tempo, o lugar que eu podia chamar de meu depois de todos os dias ruins. Eu pelo menos esperava que Shawn gostasse também.

Tirei a jaqueta molhada e uma corrente de ar fria passou pelo meu corpo, mas decidi deixar pra lá e me virar para o homem atrás de mim. Por um momento minhas palavras faltaram de novo, eu tinha a necessidade de falar muitas coisas mas nada saia, e agora eu também não sabia exatamente como demonstrar a felicidade por estar ali perto dele.

— Sabe que não precisamos... fazer nada hoje. Ficar perto de você já é o suficiente pra mim.

Tentei explicar da melhor forma que pude enquanto me aproximava um pouco mais, selando demoradamente nossos lábios. Eu ainda não entendia o motivo de amar ser tão errado, ser um pecado para ele. Tudo que eu queria era fazer ele enxergar que as coisas não eram bem assim, pelo menos não na minha realidade que eu queria que ele fizesse parte.

— E eu também não vou te forçar a ficar, mesmo que eu queria muito que você fique.

Shawn Mendes.

Quando ela sugeriu que fossemos para sua casa, concordei com a cabeça. Não entendia o porquê dela não estar no guarda chuva junto à mim. Eu poderia a chamar para vir junto comigo, mas ela estava molhada o suficiente para provavelmente recusar a minha tentativa de convite. Eu olhava com atenção a loira e mesmo que a única luz que tinha era a do poste que tinha ali perto e de alguns faróis dos carros que passavam eu podia a ver com atenção, não completamente mas ainda sim conseguia ver o mínino dela e confesso que gostava.

Quando o táxi chegou, fechei o guarda-chuva e esperei que ela entrasse, entrei em seguida e soltei um suspiro leve, olhando para fora, não sem antes cumprimentar o motorista. Adorava ver a cidade num tempo chuvoso, ela parecia mais limpa embora parecia também triste e eu me sentia melancólico sempre nesses tempos.
Desviava meu olhar para o lado de fora e Valentina, nenhum de nós falou exatamente nada durante o caminho e isso parecia uma sessão de tortura, ainda mais para mim que sempre fui tão falante.
Ao por fim chegarmos, desci e a acompanhei até o lado de dentro da casa.

Minha primeira e única reação foi notar cada mínino detalhe da casa e eu poderia dizer que tudo ali combinava com Valentina. Tudo parecia ser tão a sua cara. O cheiro de tinta denunciava que ou ela era artista ou havia pintado recente qualquer canto dali.
Logo minha atenção foi para ela e eu sorri minimamente.

Eu nunca havia passado por qualquer experiência igual a que estava passando com Valentina, tinha curiosidades sobre muitas coisas, principalmente em perguntar o que _éramos,_ tudo era completamente novo para mim e ela teria que me ensinar, o que era engraçado até. Mas não deixava de ser uma verdade absoluta.

Logo então senti seus lábios tocarem os meus e sorri quando afastou, passei lentamente a língua entre meus lábios e em seguida, os prendi um ao outro e soltei um suspiro a ouvindo.

— Valentina, se eu não quisesse ficar, não teria vindo até aqui com você, não acha? — a olhei e soltei um suspiro e levei minhas mãos até seu rosto e fiz uma carícia ali — Vá se secar para podermos conversar, tenho muitas perguntas.

Falei soltando uma risada e dessa vez, foi a minha vez de selar nossos lábios. Sentia as famosas borboletas em meu estômago quando nossos lábios se tocavam e por incrível que pareça, eu sempre tive essa curiosidade de como era sentir isso. Eu devia isso à Valentina.

Amargo PecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora