Capítulo 1

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Alice afastou o carro para o acostamento da estra­da e desceu.

O dia estava fantástico. O sol de verão brilhava intenso no firmamento azul e límpido. A pitoresca paisagem rural de Connecticut era de tirar o fôlego. O aroma suave das flores do campo invadia suas narinas enquanto o canto dos pássaros ecoava no ar. Ela contornou o veículo até chegar a porta do carona e inclinou o corpo para tentar um vômito na grama. Inútil. Tratava-se apenas de um enjoo por causa da gravidez. O dia estava magnífico, mas as atribulações de sua vida se refletiam nos espasmos involuntários do seu estômago. Tempos atrás, antes mesmo de ter conhecido seu atual marido Holden Seville e embarcado no papel de espo­sa de um poderoso investidor da Bolsa de Valores, os médi­cos já haviam lhe informado que ela nunca seria capaz de engravidar. E agora, após quatro anos de casamento, a au­sência de filhos comprovava a esterilidade que os médicos lhe anunciaram.

Ela endireitou o corpo e afagou o ventre por cima do teci­do fino do vestido de verão. O abdômen ainda se mantinha liso, mas a gravidez era real. Os exames a que Alice se submetera, duas semanas antes, confirmaram uma gestação de quase três meses, o que ela considerava um verdadeiro milagre. O marido não compartilhara de sua alegria, muito ao contrário: Eu não quero saber de filhos! Era o que ele havia dito quando ela lhe contara sobre a gravidez.

Na verdade, a opinião do marido não era nenhuma novi­dade para Alice Ele havia deixado bem claro quando lhe propusera casamento, um ano depois que começaram o na­moro, de que não desejava ter filhos. Crianças necessitava de atenção constante, o que seria incompatível com o esti­lo de vida repleto de festas e coquetéis que Holden adorava e que pretendia prosseguir desfrutando. Lauren não compar­tilhava do ponto de vista do marido, mas, na ocasião em que ele lhe propusera casamento, ela não contestara. Por que se preocuparia em debater um assunto irrelevante já que a pos­sibilidade de engravidar era praticamente nula? Pelo menos era o que ela acreditava. Até agora...

Outra onda de náusea a obrigou a curvar o corpo nova­mente.

— Oh, Deus! — ela exclamou e logo depois se recostou na porta do carona.

Como ela havia sido ingênua ao considerar que a determi­nação do marido se amenizaria ao saber que seria pai. E, para piorar, ele ainda teve a coragem de sugerir que ela se livrasse do bebê.

— Arranje um jeito de interromper sua gravidez! — fo­ram as palavras dele.

Sua gravidez... Como se Alice fosse a única responsável pela nova vida que começava a crescer em seu útero! E ele ainda terminou a frase com um ultimato:

— Se você não fizer isso, eu ponharei um fim em nosso ca­samento.

Então, menos de 24h após a discussão, Alice se encon­trava vagando por uma estrada da zona rural de Connecticut observando os campos e tentando acalmar as náuseas. Esta­va exausta e sentia falta de sua cama, no apartamento em que morava com o marido, em Manhattan. Ela sabia que precisa­va retornar. Havia saído de casa apenas com a bolsa e as roupas do corpo. Sentia-se magoada e desiludida e por isso precisava elaborar um plano antes de enfrentar Holden outra vez. E ela não pretendia deixar que ele lhe ditasse as regras da maneira como lhe conviesse. Afinal, ela também tinha seus direitos e os exerceria assim que conseguisse recuperar o autocontrole. E, dessa vez, seria ela quem lhe ofereceria alguns termos e condições.

— Ei, está tudo bem com você?

Uma voz masculina a assustou e ela girou a cabeça na direção de um homem que saía de uma casa de fazenda, logo abaixo do nível da rodovia, e caminhava na direção dela.

Meu Deus...! Será que ele tinha visto...? Um rubor de em­baraço corou as faces de Lauren no instante em que seus olhares se cruzaram.

— Está tudo bem, obrigada — ela gritou de volta e rumou até a frente do carro, esperando que o estranho desistisse e retornasse para a casa.

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