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Taissa

Ver a minha casa fez-me sentir mais calma e esquecer por breves momentos a mentira que estava prestes a contar a todos. Pensar nisso fazia-me querer chorar.

– Pai! – Abracei rapidamente o meu pai, que se levantou do sofá e correu até mim mal abri a porta.

– É tão bom ver-te, meu orgulho! – Ele afastou-se de mim, afagando-me os cabelos. – Evan! Finalmente conheço o homem que roubou o coração da minha filha!

Os dois cumprimentaram-se com um aperto de mão e eu engoli em seco, baixando a cabeça. Estava a ser mais difícil do que eu achei que seria, e ainda estávamos no início.

– Hey! – O James abraçou-me e eu soltei um gritinho de surpresa quando ele me levantou do chão. Embora também tivesse que lhe mentir, senti-me melhor por o ver. – Por onde tens andado, miúda? Senti a tua falta!

– Eu também! Bem que me podias ir visitar às vezes! – Brinquei, dando um pequeno murro no seu braço. Ele era como um irmão para mim.

– Eu sou o Evan. – Interrompeu-me ele todo sorridente, e eu semicerrei os olhos. – Deves ser o James!

O James passou o resto da tarde connosco. O Evan falou à minha família acerca dos negócios dele e da editora, enquanto eu apenas assentia com a cabeça quando achava que o devia fazer e tentava ignorar o nó que se formava na minha garganta ao ver a performance do Evan.

– Estou impressionado com isso, Evan! – Disse o meu pai. – Mas o que eu queria mesmo ouvir era a vossa história!

– Na verdade, há uma coisa mais interessante para contar. – Forcei o sorriso. Quanto mais rápido acabasse aquela história melhor seria para mim. Arrancar a farpa de uma vez parecia-me ser a melhor opção. Olhei para o Evan, que sorriu para mim. – Eu e o Evan vamos casar. – Anunciei de uma vez.

A minha família e o James começaram a festejar. E eu mordi o lábio para disfarçar a minha tristeza. Destruía-me o facto de ser um casamento sem amor e principalmente por estar a mentir às pessoas que amo.

O Evan pegou na minha mão e eu senti uma espécie de eletricidade percorrer a minha pele. Olhei-o e percebi que talvez ele tivesse sentido o mesmo, porque ele olhou durante uns segundos para as nossas mãos entrelaçadas. O meu coração acelerou levemente, mas eu ignorei e foquei-me na mentira.

– Eu sabia! – Festejou a minha mãe. – Eu desconfiei desse anel!

– Como foi o pedido? – Perguntou a minha avó, visivelmente entusiasmada. Ela apoiou a mão no ombro do Evan. – A forma como um homem faz o pedido diz muito sobre o seu caráter!

Fiquei atrapalhada e tentei inventar rapidamente uma história na minha cabeça, reparando, pelo meio, que a mão do Evan continuava agarrada à minha. Isto surpreendentemente acalmou-me.

– Bem. – Comecei forçando-me a sorrir. – Eu e o Evan íamos festejar o nosso primeiro aniversário de namoro e eu sabia que ele me queria pedir em casamento, por isso fui dando pistas de que também queria o mesmo porque ele tinha medo de receber um não como resposta. – Provoquei.

– Não foi bem assim! Eu já tinha tudo planeado, e inclusive já tinha a caixa com –

– Ah! Aquela caixa que me fizeste à mão! – Provoquei-o mais, tentando distrair-me da tristeza. Estava a divertir-me com a cara de indignação dele. – Ele passou horas a recortar fotografias nossas para decorar a caixa! Quando a abri fiquei ainda mais emocionada porque ele cortou também corações de papel coloridos para a encher e lá dentro tinha –

– Não tinha nada. – Ele interrompeu, e eu tive vontade de gargalhar por causa da cara hilária que ele estava a fazer. – A não ser um bilhete com uma morada e a hora. Ela –

– Eu achei que ele andasse com outra! – Dramatizei. – Mas fui na mesma ao parque da morada e lá estava ele de joelhos –

– Em pé – ele corrigiu e eu apenas continuei a história, ignorando a sua correção.

– E pediu-me em casamento. Foi lindo! – Contei.

– É uma bela história! – Manifestou-se o James. – Estou muito feliz por ti, miúda! Parabéns!

– Agora quero ver um beijo! – Eu e o Evan olhamos um para o outro, sem saber o que dizer. – Vá, vamos lá! – Pediu a minha avó, feliz.

O Evan aproximou-se de mim e eu senti mais uma vez o meu coração acelerar quando os seus lábios tocaram na minha bochecha. Senti-me corar imediatamente e mordi o lábio, nervosa.

– Vá lá, meu! – Manifestou-se o James, e eu quis matá-lo. – Na boca!

Fui surpreendida pelo Evan, que se aproximou rapidamente de mim e apenas encostou os nossos lábios. Fiquei ainda mais acelerada e bati-me mentalmente por isso. Como é que do nada eu comecei a ficar assim por aquele homem?

– Dá-lhe um beijo a sério! – Ralhou a minha avó e eu senti-me corar ainda mais. No fundo, eu também o queria beijar.

O Evan olhou-me, como se me pedisse permissão. Eu assenti levemente e eu aproximou a cara da minha. O meu coração batia tão forte que parecia que me ia saltar do peito quando ele roçou levemente os lábios nos meus. Os nossos lábios finalmente se colaram e eu senti as minhas pernas ficarem bambas. Não me devia envolver muito, mas não queria saber. O beijo ficou intenso, e eu senti a sua mão acariciar-me levemente a bochecha quando nos separamos.

Queria insultar-me a mim própria por desejar mais. Por momentos desejei que ele sentisse o mesmo. Queria conhece-lo melhor. Beijá-lo novamente. Mordi o lábio para tentar afastar os pensamentos. Ele não me amava. E eu não o podia amar.

Passei o jantar inteiro a pensar nisso. No quanto eu desejava que aquilo fosse verdade e no quão confusa me sentia por ter gostado do beijo e por desejar estar com ele. Ele sempre me fez a vida negra.  Eu sempre o odiei. Não entendia como é que um simples beijo e um entrelaçar de mãos tinha mudado aquilo.

A Proposta - Evan PetersOnde histórias criam vida. Descubra agora