8

836 77 4
                                    

Taissa

Não tive grande oportunidade de falar com o Evan depois do anúncio do casamento. A minha mãe e a minha avó encarregaram-se de me raptar imediatamente para me levar a provar o vestido.

Quando me olhei ao espelho, senti vontade de chorar de felicidade e de tristeza ao mesmo tempo. Felicidade porque me senti uma verdadeira princesa com aquele vestido. Era lindo, com detalhes em renda lindos. A minha avó tinha casado com aquele vestido, e customizou-o para mim. Tristeza porque sabia que muito provavelmente ele não sentia o mesmo que eu sentia por ele e por estar a mentir aos meus pais.

– Estás linda. – Comentou a minha mãe, limpando as lágrimas a um lenço. Eu sorri, contendo as lágrimas.

– Uma princesa. – Disse a minha avó, igualmente emocionada. – Tenho só que o apertar um pouco nas costas. Quando casei era mais gordinha que tu! – Brincou.

Não aguentei e deixei que as lágrimas corressem pela minha face, soluçando alto. A minha mãe rapidamente veio em meu auxílio, enquanto a minha avó me acariciava as costas.

– Que se passa, filha? Aconteceu alguma coisa?

– Não. – Menti. – Estou só preocupada com a costura do vestido. E tenho medo que amanhã não esteja pronto.

– Oh! Tontinha. O James está a tratar da decoração da capela já. E a tua mãe já o vai ajudar a tratar do almoço e de tudo. Vai estar tudo perfeito. Agora anda, despe o vestido que eu ainda tenho que ir ver o fato do Evan!

[…]

Evan

Enquanto me olhava ao espelho senti-me estranhamente bem. O fato assentava bem, e eu estava certo de que amava a Taissa. No entanto, receava o facto de ela não sentir o mesmo e de eu a estar a privar de encontrar alguém bom. Mas, se não levasse a proposta adiante, ela ia afastar-se de mim. Aquela era a única maneira de a ter ao meu lado. Egoísta, eu sei.

– Lindo! – Elogiou a avó Mary, tirando-me dos meus pensamentos. Eu sorri para ela.

– Muito obrigada, Mary!

– Vim ver se era preciso arranjar algum pormenor no fato, mas ele assenta-te muito bem. Então só me resta dar-te algo!

Fiquei confuso. Ela foi à mala, retirando de lá um velho relógio de bolso dourado.

– Era do meu marido. – Explicou. – O meu pai deu-lho a ele quando ele se casou comigo, e agora é a tua vez de o receber.

Fiquei surpreendido. Eu já não sabia o que era ter alguém que nos desse relíquias de família. Fiquei emocionado com o gesto dela e admirei o relógio na minha mão.

– Nem penses em recusar. -  Ela continuou. – Os avós adoram dar estas relíquias aos netos. Faz-nos sentir que continuamos a fazer parte da vossa vida.

Eu não consegui recusar. Apenas abri um sorriso e deixei algumas lágrimas escaparem. Naquele momento entendi o porquê de ser tão tortuoso para a Taissa mentir para a família. Tinha-me esquecido de como era ser amado.

          
Taissa

Encontrei-me com o Evan num parque pequenino, com um pequeno lago. Mal o vi, corri até ele e enterrei a cabeça no seu ombro, chorando. Ele pareceu surpreendido, abraçando-me de seguida.

– Que se passa? – Perguntou preocupado.

– Dói tanto ter de lhes mentir. – Desabafei. – Se a minha avó descobrir vai ter um ataque cardíaco! – Separei-me dele, puxando os meus cabelos com as mãos.

– Tu achas que eu não sei? – Ele disse. – Calma. Eles não vão descobrir. Não dramatizes!

– Eu não estou a dramatizar! Estou a desabafar contigo porque és a única pessoa que sabe do que se passa. Desculpa se quero que corra tudo bem!

– Ages como se tudo fosse culpa minha. Estás nisto porque queres! – Ele elevou um pouco o tom de voz, e eu ri ironicamente.

– Claro! Agora a -

Eu estava tão desnorteada que pisei o gelo fino que cobrir o lago e, quando dei conta, estava a mergulhar na água gelada, que se parecia com facas a cortarem a minha pele. Rapidamente lutei para voltar à superfície. Ouvi o Evan gritar o meu nome e senti uma mão puxar o corpo ajudar-me a chegar à tona, trazendo-me para a margem.

– D…desculpa. – Enrolei-me em mim própria para me tentar aquecer. – Eu n...não vi o gelo.

Ele rapidamente retirou o casaco grosso e o gorro, vestindo-os em mim.

– Va…vais congelar assim. – Resmunguei.

Ele ignorou-me e sentou-se comigo num banco, levando-me para junto dele. Abraçou-me e esfregou rapidamente as mãos nos meus braços, na tentativa de me aquecer.

– Estás bem? – Interrogou, acariciando-me a face. A pele dele parecia fogo em comparação com as minhas bochechas geladas. Eu apenas assenti afirmativamente. – Vamos, tenho que te aquecer antes que fiques doente.

Segui com ele até casa, e ele manteve-se sempre abraçado a mim e às vezes esfregava os meus braços com as suas mãos.

Ao entrar no portão de casa, o meu pai veio ter connosco muito sério.

– Venham comigo, por favor. – Ele pediu. – Preciso de falar com vocês. E a tua mãe e a tua avó não podem saber de nada disto.

Engoli em seco. Aquele tom não era normal. Havia algo de errado. O meu coração quis saltar-me do peito quando vi o senhor Guilbert, do serviço de imigração. Ia falar, mas o meu pai interrompeu-me.

– Recebi uma chamada do senhor Guilbert, que me disse que se estiveres a mentir, e ele tem uma forte convicção de que estás, te manda para a cadeia, Taissa. Por isso trouxe-o cá para resolvermos isto de uma vez.

– Felizmente tenho uma exceção para si, Taissa. Vai fazer uma declaração e admitir que o casamento é uma fraude. Desta forma safa-se da pena de prisão e o senhor Evans volta para o Canadá sem confusões. Ouvi dizer que amanhã se casam, por isso vou esperar até ao momento do “sim”.

O olhar do meu pai era de reprovação. O Evan parecia irritado. Provavelmente com a ideia de eu admitir a verdade toda.

– Quer uma declaração? Eis a declaração. – Falei, irritada. - Trabalho para o Evan há três anos. Apaixonamo-nos e começamos a namorar. Ele pediu-me em casamento e eu disse que sim. – Olhei para o meu pai. – Vemo-nos no casamento.

Segui para casa, seguida pelo Evan.

– Taissa… – Ele começou.

– Não te preocupes. Eu não vou deixar que sejas expulso do país. – Interrompi, e deixei-o especado no corredor de boca aberta.

Deixar o cargo de chefe da editora seria um pesadelo para ele, pelo que percebi. Então eu estaria disposta a enfrentar a dor de ter que mentir a todos por ele.

............................................................
N/A: Está quase a acabar! :D

A Proposta - Evan PetersOnde histórias criam vida. Descubra agora