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Evan

A noite foi uma tortura. A avó Mary quase suplicou para que eu e a Taissa cumpríssemos a tradição de ficar longe um do outro no dia antes do casamento. Acabei por ceder e dormi no sofá.

Durante a noite cedi à tentação e fui até ao quarto da Taissa. Acabei por não entrar, mas consegui ouvir claramente os seus soluços chorosos, e isso doeu. Depois disso quase não dormi.

Foi um pesadelo remoer aquele sentimento de culpa durante toda a noite, porque tinha sido eu a causar aquilo.

E ali estava eu: no altar da pequena capela local, a aguardar a minha noiva. Estava nervoso, não o podia negar. Num mau sentido.

Comecei a pensar em tudo o que poderia de facto correr mal. Em primeiro lugar, estava a impedir a Taissa de seguir com a vida dela e de ser amada por alguém que de facto a merecesse. Depois, estava a fazer com que ela mentisse a todos, o que a magoava. O facto de eu me ter apegado à família dela, e principalmente à avó Mary, também era algo mau. Até eu me senti mal por lhe mentir e por fazer a neta dela sofrer.

O meu olhar cruzou-se com o de um convidado inesperado: o senhor Guilbert. Ele entrou e apenas se sentou no último banco da igreja, olhando continuamente para mim. Apenas devolvi o olhar severo e tentei ignorar a presença dele ali.

Quando a marcha nupcial tocou, a minha respiração falhou ao ver a Taissa. Ela estava linda. Não tinha palavras para descrever o que senti. Sorri abertamente, e ela retribuiu com um sorriso lindo, enquanto caminhava de braço dado com o pai.

Tentei que o meu sorriso não desaparecesse ao fazer contacto visual com o senhor Anthony. Ele olhava-me com um olhar reprovador, e eu não o condenava. Eu estava a habilitar a Taissa à prisão. Meu Deus. Isso ia destrui a vida dela. Ela podia ir presa se as coisas corressem mal.

Ela chegou finalmente ao altar, e eu agarrei na sua mão, apertando-a suavemente e fazendo pequenos círculos com o dedo nas costas da sua mão, na tentativa de a confortar.

– Estás muito bonita. – Sussurrei, e ela sorriu.

– Tu também, noivo. – Ela brincou e eu ri.

O padre começou a cerimónia, mas eu não conseguia tirar os pensamentos ruins da minha cabeça. Eu amava-a. Não queria saber se ia ficar sem o cargo de chefe ou se eu ia ser expulso do país. Ela não podia arriscar-se a ir parar à cadeia. Eu não a podia fazer sofrer mais.

Ergui a mão, fazendo sinal ao padre. Ele parou de falar e eu virei-me para os convidados. A Taissa copiou o meu movimento. Os convidados estavam todos surpreendidos com o sucedido.

– Evan. – Ela sussurrou, com lágrimas nos olhos.

– Bom dia a todos. – Comecei. O pai da Taissa fuzilou-me com o olhar e o senhor Guilbert ergueu uma sobrancelha, cheio de si. – Antes de mais, muito obrigado por terem vindo. Há algo que eu vos quero contar. – Mais uma vez corri os olhos pela igreja, e vi que a mão da Taissa conversava animada com a avó Mary, que olhou para mim e juntou ambas as mãos à frente da sua barriga, simulando uma barriga de grávida. O facto delas pensarem que se tratava de algo bom deixou-me ainda mais magoado. O James estava impassível, e eu não consegui compreender o que ele pensava.

– Evan, o que é que estás a fazer? – Mais uma vez a Taissa sussurrou, com lágrimas nos olhos prestes a saltarem. Ia doer-lhe, mas ia ser melhor para ela assim.

– Eu sou Canadiano, e estava prestes a ser deportado, e como não queria deixar este país porque sou um egoísta ambicioso que queria continuar com o cargo de chefe na editora, obriguei a Taissa a casar comigo.

– Evan, para! – Ela pediu, novamente, e eu ignorei. Controlei-me para que as lágrimas não caíssem e continuei a falar. O senhor Guilbert parecia cada vez mais animado com a situação. Canalha.

– A Taissa sempre foi muito competente no trabalho, sempre se esforçou muito para atingir os seus objetivos, e eu sabia que, se ameaçasse destruir os seus sonhos, ela aceitaria. Portanto eu chantageei-a para vos mentir a todos. – A mão da Taissa estava chocada, sem reação. A avó Mary tapava a boca com a mão e chorava. – Pensei que ia ser fácil, mas não foi. Vê-la sofrer com isso destruiu-me por dentro. Ela é a melhor pessoa que eu conheço, e vocês são uma família como aquela que eu sempre sonhei ter. Eu não tenho o direito de arruinar isso. – Dirigi-me à família dela. – Peço imensa desculpa.

A Taissa chorava ao meu lado. Virei-me para ela.

– A culpa foi minha. Não me conseguiria perdoar se te destruísse ainda mais. Vi isso tarde demais. Desculpa.

Caminhei até ao senhor Guilbert, que já se encontrava em pé à porta da igreja.

– Vou estar à sua espera no aeroporto. – Falei, saindo da igreja e deixando a minha noiva para trás.

Taissa

– Qual era a tua ideia? – Interrogou a minha mãe, zangada.

– Mentiste-nos! – Acusou a minha avó e eu apenas consegui chorar.

– Eu… preciso de assentar as ideias… - Funguei, limpando as lágrimas. – Eu explico tudo mais tarde.

Virei costas e corri até casa, ficando desiludida ao ver que ele já não estava lá. Em cima da cama estava apenas um bilhete e o relógio de bolso que a minha avó lhe tinha dado.

“O nosso contrato acabou, mas eu vou promover-te na mesma a editora. Não porque foi parte do nosso acordo, mas sim porque o mereces. Nunca o fiz antes porque sabia que, ao fazê-lo, te perderia como assistente. E eu não te queria perder. Não só como assistente, mas como pessoa.

            Desejo-te uma vida maravilhosa, porque tu, mais do que ninguém, mereces.

            Amo-te, Taissa.

            Evan”

– Foi um dia de loucos. – Comentou o James, entrando no quarto e vindo abraçar-me. – Estás bem?

– Não. – Admiti. – Ele põe-me completamente fora de mim! Entendo que ele me tenha deixado plantada no altar. O casamento era uma fraude. Mas o problema é que ele me amou este tempo todo! E deixou um bilhete porque não foi capaz de o dizer na minha cara! – Quase berrei, e o James sorriu.

– E vais deixar que ele se vá embora?

Sorri, e ele entregou-me uns ténis brancos que eu tinha espalhados no quarto. Troquei rapidamente os meus sapatos pelos ténis e saí a correr, mesmo vestida de noiva.

– O tempo tinha mesmo que arrefecer, também! – Queixei-me, parando de correr para respirar um pouco.

– Vai a casa num instante! Tem um casaco branco que era suposto teres usado com o vestido. – Suspirei, nervosa. Assim não iria chegar a tempo de impedir o Evan de ir. – Vai. Eu vou indo para a capela e vou preparar o carro para sairmos a todo o gás atrás desse noivo! Congelada é que não vais a lado nenhum!

Obedeci, e corri para trás. De seguida fui à capela ter com a minha família. Não queria que odiassem o Evan.  Eu amava-o. Precisava de ir ao encontro dele.

Estava uma confusão. Muitas pessoas que não tinham sido convidadas tinham aparecido para ver o “escândalo”, e eu lutei para passar por elas e chegar até à minha avó e aos meus pais.

A minha mãe e o meu pai estavam agitados a falar com alguns convidados, enquanto o James tentava acalmar a minha avó.

– Mãe! – Chamei. – Eu…eu tenho que ir -       

– Ai! – Queixou-se a minha avó, agarrando-se ao peito. – Eu não me estou a sentir bem!

O meu mundo ruiu naquele momento.

A Proposta - Evan PetersOnde histórias criam vida. Descubra agora