Capítulo 12

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Eu sabia que tinha que enfrentar o Breu alguma hora... Sabia que tinha de achar um jeito de não ter mais medo dele, mas como?... Eu poderia atingir o coração dele com gelo, ou gritar bem alto que não sentia medo dele...Eu precisava de um plano, mas tinha que parar para pensar e não tinha como pensar qualquer coisa com Jack do meu lado beijando meu pescoço.

Então eu tive uma ideia, uma ideia louca.

Eu esperei ate de noite. Quando ficou bem escuro, sai do quarto deixando Jack dormindo sozinho e andei pelos corredores escuros do castelo em direção dos estábulos.As paredes do corredor já eram altas, mas agora, no escuro, pareciam ter o dobro do tamanho. Eu me sentia uma formiga. Assustava-me pensar que podia ter alguma coisa se movendo na escuridão do teto.Cheguei aos estábulos e peguei o primeiro cavalo que vi na minha frente. Fui ate o castelo de gelo. Ele quase se camuflava na escuridão, transparente, abri as portas e entrei.Estava tudo exatamente como eu deixei. Bolas de neve da luta com Jack quando descobri que ele era como eu e as estalactites que saiam do teto da vez que Breu conseguiu entrar no castelo... Quando eu... Atirei neve... Na... Anna...

– Breu! -Gritei.Meu grito ecoou por todos os lados... Sinistro.
–Olá, querida... Sentiu minha falta? -a escuridão sussurrou.

–Breu, quero que vá embora! Não tem nada pra você aqui! - falei tentando parecer corajosa perante o calafrio que tive.
–eu gosto daqui querida... Gosto da sua companhia...

–por que não volta para o buraco de onde veio?! -gritei começando a liberar toda a raiva que reprimi durante tanto tempo. - Você destruiu a minha vida! Você me tirou tudo o que eu tinha! Você matou meus pais! Não tem mais o que tirar! Va embora! -gritei para o nada.

Ainda me resta algo... Sua irmã.

NAO! Agora foi longe de mais! Ele não vai pegar minha irmã! NAO VAI!

–Vai ter que passar por cima de mim primeiro.

As sobras se moveram, agitando-se e eu me preparei. Expandir. Expandir. Tinha que manter essa palavra em mente.Como no meu pesadelo, as sombras foram em cima de mim. Elas puxavam o meu cabelo, me arranhavam e gritavam nos meus ouvidos. Mas eu não aguentava mais, eu estava disposta a acabar com aquilo. Pela minha irmã. Por Jack. Pelos meus pais. Por mim. 

Sabe o que eu fiz?Eu gritei.

Gritei muito, mas muito alto. Foi o grito mais hostil e agoniante que eu já dei, ele jogou para fora toda a dor, a solidão e a raiva que eu guardei durante vinte anos. O ar congelou e o chão começou a rachar. Eu gritei, e a neve que saiu de mim explodiu tudo. As sombras. O castelo. Tudo desmoronou.

Eu me encolhi e esperei a dor chegar. O castelo desmoronar sobre a minha cabeça. Esperei a dor, mas ela não chegou.Tentei me mexer e vi que um pilar do castelo tinha evitado que o gelo caísse em cima da minha cabeça.

Suspirei aliviada. Eu estava viva! Com uma tontura do inferno, mas viva!Ainda estava de noite, o que dificultou o trabalho de sair debaixo do entulho. Eu me arrastei com o resto de energia que tinha e sai debaixo do meu castelo arruinado.Quando sai, deitei na grama e olhei para o céu. Pela primeira vez em toda a minha vida, a escuridão da noite não me incomodou.

Estava frio, o sereno era frio e o vento também.Decidi esperar passar, tudo ficaria bem. Encolhi-me na grama e rezei para que algum animal da montanha não fizesse picadinho de mim.E então, preto. Eu apaguei.

Acordei com Jack segurando meus ombros.

–Elsa, esta tudo bem? O que você fez? Por que veio aqui sozinha?? -ele parecia apavorado.

– O Breu... Ele se foi.

Ele não mudou de expressão.

– Eu o mandei embora...

Ele demorou um pouco pra entender o que eu disse já que minha voz quase não saía.

–Mas Elsa, ele te machucou? Ouvi você gritando... Parecia que... Estava sendo atravessada com uma espada!

–É... Tanto faz... Já acabou.

Eu queria me levantar, mas não conseguia. Parecia que eu tinha quebrado alguma coisa ou minha energia tinha acabado. A tontura estava a mil, tudo girava. Tinha alguma coisa acontecendo...

–Vamos Elsa. –Jack suspirou em quanto me levantava. –Vamos para casa.

Estava tão exausta que dormi no caminho.

❄ ❄ ❄

Acordei com Jack me abraçando. Não queria me mexer e estragar aquela posição perfeita. Olhei para o rosto dele. Querido. Será que era possível eu amar tanto ele?Nossa, eu não consigo acreditar que foi tão fácil expulsar o Breu, deixar a raiva preencher o medo foi uma boa ideia. Agora eu ia poder dormir sem ter pesadelos. O pensamento me preencheu de alegria e, sem mais nem menos, eu comecei a rir.

Eu comecei a rir e simplesmente não parava. Digamos que minhas gargalhadas acordaram Jack.

–Elsa, o que foi? – Ele acordou alarmado. –Você ta rindo de que?

–De tudo! O Breu foi embora, você ai, lindo, deitado na minha cama, o fato de eu estar rindo e... Sei lá! Tudo.

–Nunca achei que ia ouvir você rir. É bom não é? – Ele deu um sorriso de lado.

–É ótimo!

Ele me abraçou e eu beijei aquele garoto. Beijei muito, muito, muito. Simplesmente pelo fato de que eu estava tão feliz por tudo ter acabado que queria dividir isso com ele.

–Vem Jack, vamos tomar café.

–Que tal um beijo de verdade? – Ele sorriu maliciosamente.“Hm... Boa ideia.” Pensei.

–Que tal mais tarde?

–Promete?

–Prometo! Agora vamos tomar café! –Pulei da cama.

–Espera! –Ele me puxou pelo braço. –Você vai sair assim?

Olhei para mim mesma. Ele não fez isso. Que vergonha. Minha cara deve estar muito vermelha.

–Por favor, me diga que não foi você que trocou a minha roupa.

–Não fui eu que troquei a sua roupa. –Ele falou ironicamente e sem esconder um sorriso.

–Depois estrangulo você. –Disse firme. Meu deus que fome.Troco de roupa rápido e vou tomar café.

Jack não soltou um pio durante a refeição.Esse dia foi completamente diferente de todos. Eu senti o calor da xicara de café, do sol e da torta de morango que comi mais tarde, foi a primeira vez e foi muito melhor do que eu imaginei.

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