CAPÍTULO 3 - O PIAR DA CARAPACA

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- "Aqui foi onde os deixei. Para achá-los, creio que devêssemos procurar por marcas de pisadas e por plantas amassadas. Também, sentir seu odor característico de peixe levemente ácido." – informou Hardwcha.

- "Só que fica difícil identificar o cheiro tendo alguém com um parecido ao meu lado... A quanto tempo você não toma banho?" – continuou ela, olhando para mim e enrugando as narinas.

- "Pitel, ele não lembra... rs" – disse Lojade bem  próximo ao ouvido dela, com o olho vesgo mirado em seus seios.

- "Faz tanto tempo assim?" – ela indagou enquanto se afastava de mim lentamente.

- "A verdade é que não lembro de nada nos últimos 20 anos. Muito menos, da última vez que me banhei... Despertei hoje e estou mais perdido que chinelo de bêbado. Preciso me inteirar sobre o mundo e, claro, me lavar..."

- "Conseguirá sim. Ao finalizarmos, nós, da tribo dos Druidas Comachan, te auxiliaremos no que for possível" – já afastada, deu uma piscada para mim e se virou para procurar pistas.

Após encontrar e analisar algumas, Hardwcha indicou a possível direção em que eles poderiam ter ido. Naquele momento, além das 2 finas espadas curtas, de lâminas levemente curvadas, que peguei dos inimigos, também estava com uma adaga oferecida pela Druida. Ela havia me dado o cabo e informado que o restante se encontrava no alto de uma árvore que estava pelo caminho. 

Era uma adaga simples com lâmina de aço e a base de madeira. Apesar de já ter usado facão para cortar coco, facas de serra para pães, facas maiores para carnes, canivetes e etc, nunca havia manuseado espadas ou punhais de batalha. Todos esses conteúdos envolvendo armamentos são novidades para mim. Melhor ainda se for de graça! - meu cacoete de pobre se manifestou mentalmente.

Durante o caminho, Hardwcha mencionou sobre sua última luta, que deixou 2 homens-peixes com os olhos vermelhos vivos, junto a veias sobressaltadas que pulsavam rapidamente, por ter arremessado, em cheio, terra naqueles olhos expressivos. Caminhamos por cerca de 1 hora, até encontrarmos o restante do "cardume". Três deles estavam perto do portal que a Druida comentara. Porém, o que surpreendeu não foi a ausência da anomalia em seus globos oculares.

- "Mas que porr..." – parei na metade ao me tocar de estar falando alto.

No espaço aberto, um cheiro parecido com ovo podre misturado a fezes de cachorro soprava, vindo das centenas de cadáveres de goblins que estavam espalhados pelo chão, havendo até alguns motins empilhados.

- "Não entendo... seus olhos estavam tão irritados ao ponto de quase sangrarem. Será que eles possuem alguma habilidade de cura ou capacidade regenerativa?"

- "O que não entendo é essa carnificina aqui. Esse cheiro de merda tá tão forte que estou sentindo até o gosto" – falei colocando a mão no nariz.

- "Ao que parece, o Portal surgiu perto da ninhada dos goblins e o resultado foi isso aí. Mas, os olhos desses outros estavam extremamente inflamados..." – comentou a Druida, dando pouca importância a cena dos goblins mortos.

- "Podem ser outros." - comentou Lojade.

- "Independente, que tal resolvermos isso logo?" – falei saindo por de trás das árvores e caminhando na direção das criaturas.

- "Pelo cheiro, talvez se enturme. É capaz de acharem que é um deles." – disse o Anão para a Druida que deixou escapar um riso enquanto preparava o arco e as flechas.

Aos poucos, o caminhar acelerava o ritmo na medida em que o espaço se encurtava entre mim e a criatura mais próxima. Já correndo, pisando por cima dos goblins, impulsionando severamente, saltei com os braços para cima e ambas as pernas para trás, fazendo a coluna se desenhar num "C" ao contrário. Em seguida, as duas espadas desceram, próximas uma da outra, aceleradas em razão do ímpeto gerado pelos braços. No impacto, a espada da criatura, horizontalmente e acima de sua cabeça, havia bloqueado o golpe, forçando a outra mão, que não empunhava o cabo, a alicerçar o extremo oposto da arma, atrás da lâmina de aço.

Ápice de Quíron: O Pequeno Gafanhoto (Vol. 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora