Ápice de Quíron: O Pequeno Gafanhoto (Vol. 1)

CAPÍTULO 6 - GROUND CONTROL TO MAJOR TOM

"Em uma alma absolutamente livre
De todos os pensamentos e emoções
Nem mesmo o tigre encontra espaço
Para cravar suas garras afiadas.
A mesma brisa passa
Pelos pinheiros da montanha
E pelos carvalhos do vale
Então, porque produzem notas diferentes?
Nenhum pensamento, nenhuma reflexão
Vazio perfeito.
Porém, algo se move ali
Seguindo seu próprio curso
Os olhos a veem
Mas nenhuma mão podem alcançá-la
A lua no riacho.
Nuvem e névoa
São transformações entre o céu e a terra
Acima delas, brilham eternamente o Sol e a Lua.
A vitória é para aquele
Que mesmo antes do combate
Não pensa em si mesmo
Obedecendo à não mente da Grande Origem"

Ass: Um Monge Taoísta.

O vazio. Algo simples que se faz presente em todas as lacunas existentes do nosso pensamento. Um estado iluminado que conecta o interno com o berçário de tudo, o universo. Alcançar essa faculdade por tempo prolongado exige treinamento e dedicação. O El Dourado, final do Arco-Íris, Santo Graal, que é o vazio, nos acompanha a todo momento, esperando pacientemente a nossa chegada em sua residência. Nela, há todas as coisas e também absolutamente nada, ambos ao mesmo tempo. 

O convite está sendo lançado para nós a cada segundo desde o nosso nascimento, como se fosse um spam. Floodando de forma sigilosa e secreta. Sua moradia está entre o aqui e o ali. Contudo, somos viciados em pensamentos, abarrotando o mental involuntariamente. Tente silenciá-la por alguns instantes e perceberá a dependência instintiva do pensar, em nosso oculto, se manifestando.

Todos os dias, nossos olhos capitam dados de todos os lugares por onde passamos, armazenando as imagens da visão periférica no nosso inconsciente. Esse, engrena na indústria da psique, que acaba influenciando, como efeito dominó – ou teoria do caos, se preferir - nosso consciente. Assim, induz no repertório lúcido do pensamento. Em seguida, nossas ações são transformadas. 

Tal estratégia é utilizada pelo marketing de produtos que apoiam ou patrocinam programas de televisão (TV), de jogos (como futebol) e assim sucessivamente. Concomitantemente, a marca da cerveja, que apareceu escondida no campo ou que estava na mesa da cena de um filme ou novela, faz-nos pender para seu lado, atiçando o consumismo supérfluo e desnecessário. Afinal, o arquivo foi armazenado na mente sigilosa que não editamos, por desconhecimento de ferramentas ou vontade. Assim, somos tentados a fraquejar às manipulações por simples inocência e ignorância.

A concepção de liberdade é subjetiva perante muitas e diferentes categorias em que, na maioria das vezes, somos reféns de uma lógica complexa que priva tal significado nos campos do ser. É necessário toneladas de energia, empregadas junto à vontade, para romper a barreira da inercia condicional, de cada uma das esferas em que a liberdade se prende por grilhões de acasos, esperando uma ascensão, merecimento, daquele disposto a desbravar campos empíricos jamais compartilhado em sentimento. És uma viagem solo, individual, onde multidões estão presentes, ligadas através das memórias e experiências proporcionadas e deixadas em nosso caminho evolutivo.

Na teoria, a Matrix se encaixa como uma luva para aqueles que precisam de uma resposta após adentrar o "deep reflection" dos planos utópicos, sobre outras dimensões, arquitetadas no imaginário. Platão, filósofo grego, a 450 anos A.C, a descreve usando os meios disponíveis da época, trazendo-a pela analogia da caverna. O que vemos, nada mais é do que um reflexo daquilo que é real, que está no mundo das ideias. Em outras palavras, o que vemos é superficial. Nós e tudo ao nosso redor é digno de falha pois somos a sombra, projetada pela fogueira dentro da caverna, daquilo que é perfeito. O magnífico, real, ideal, perfeito, está no lado de fora dessa cavidade em que nos encontramos. Só podemos enxergá-la em pensamento. Pois, a vemos por dentro da caverna e ainda não saímos dela.