Um fogo vermelho vivo surgiu da base até a ponta final do empilhado de madeira. Quando chegou na extremidade, uma explosão circular, pequena em altura, mas grande em diâmetro, fez com que as tochas e as demais lamparinas da comunidade fossem acesas. Batuques de tambor surgiram junto aos sons dos animais que apareceram e entraram no círculo. Várias aves, raposas, ursos, lobos, sapos e dentre outras espécies foram se aproximando da fogueira até ficarem na beirada, bem mais próximos do que nós, os mascarados.
Quando todos os animais entraram na roda, ajoelhamos sem fazer nenhum barulho. Ao levantar o rosto, para saber o motivo dos sons característico de cada animal estarem mais alto e formarem uma melodia organizada, unida ao som dos tambores, meus olhos lacrimejaram em replica àquele encanto. Parecia um filme da Disney. Com espécies misturadas, eles estavam andando em fila ao redor da fogueira, sincronizando suas passadas e pulos.
Pelo que percebi, a maioria das pessoas estavam quietas em virtude de estarem conectadas com seu animal de afinidade, algo comum para alguns Druidas, que os faziam dançantes perto da fogueira. Antes, foi-me dito cada etapa desse ritual, Ath-Bheatha, que simboliza o felicitar da natureza para com a vida, em todos os sentidos. Também, busca proteger e elevar os espíritos, dos que se foram, para suas novas jornadas ou reencarnações.
Segundo a cultura Druida, independente da tribo, o pós-morte os destinam a um novo corpo, nesse ou em outro mundo, ou para continuar como entidade espiritual com missão de auxiliar alguns vivos. Depois desse os ajudar, sua missão é finalizada, permitindo o reencarne. Já as máscaras, representam a igualdade intrínseca, pois todas as raças são irmãs e vindas da mesma fonte, centelha divina.
Batidas mais fortes foram atacadas nos tambores e, em seguida, cessadas. Os animais saiam conforme levantávamos. O ritual encerrara. Agora, sobre a festa, que vinha a seguir, a informação dita era bem vaga. Falaram para seguir o ritmo e se divertir.
Repentinamente, algo que parecia uma catapulta, sem o braço de arremesso, era empurrada, por 10 pessoas, para perto do fogo. A multidão, abrindo espaço, começou a se agitar, pular e gritar com as mãos levantadas quando uma figura de cabelo rasta apareceu no topo, quebrando o clima hermético e espiritualista do ritual que se passara.
- "O que diabos tá acontecendo..." – disse o Anão, boquiaberto.
Em cima do que parecia um palco improvisado, surgiram mais 7 pessoas, com violões, flautas, tambores e chocalhos. O primeiro, rasta, inflado de presença no palco e cheio de simpatia, parecia o Carlinhos Brown – cantor. Esse, incentivou os gritos do povoado com palavras estranhas e levemente nostálgicas.
- "Ajaiô!" – e o público repetia. – "Ajaiô!" – "Lalutai!" – e, novamente eles repetiam – "Lalutai!". Assim ficou durante um tempo.
- "Pera, isso é uma banda?" – perguntei surpreso.
- "Sim!" – respondeu Hardwcha, alegre e batendo palmas.
No palco improvisado, a melodia cativante encorpava cadência nos instrumentos, convidando todos para dança. Abaixo, com as máscaras em uma das mãos, a tribo dançava com os braços abertos, flexionando os cotovelos e encaixando no braço do mais próximo para, juntos, girarem. O clima ficou imerso a alegria e sorrisos, fazendo até o Anão foliar.
No início fiquei meio travado, tinha dançado apenas em quadrilhas juninas, nos tempos de escola, e em poucas boates, que eram escuras e com efeito de luzes como Flash Light, Glow, Strobe e etc, justamente pra ninguém notar essa vassoura desritmada balançando. Não existia quadril nas tentativas de dança. Minha anatomia eram pernas, tronco, braços, cabeça e eles se movimentavam sem coordenação ou molejo. A vergonha alheia atiçava de imediato quem olhasse, tão rápido como jogar fogo no álcool. Mas, no presente, quando Hardwcha, Lê e outras pessoas que se divertiam, me agarraram e giraram, os movimentos começaram fluir, fazendo-me sentir o flow de uma diversão. Daí, aos poucos, fui me soltando e conseguindo festejar com todos.
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Ápice de Quíron: O Pequeno Gafanhoto (Vol. 1)
FantasyTransportado para um mundo de fantasia, o protagonista presencia a curva evolutiva de uma grande catástrofe surgida nesse mundo que mais se parece um jogo de RPG. Em contrapartida, nosso campeão tem que lidar com reflexões paralelas, das experiência...