CAPÍTULO 1 - A PROCURA DE UM DESTINO

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A repetição dos fatos é muito deboche pra quem tem um coração apertado. Cansado dos mesmos resultados, me esforcei exageradamente para mudar o padrão. Todavia, como um bullying frequente, continuei não saindo dessa condição e os resultados logo se mostravam iguais a uma joelhada no estômago, doloroso como sempre. Talvez seja por isso que tinha refluxo há tanto tempo e com tal intensidade.

No entanto, esgotado das tentativas, decidi juntar os resquícios de forças que estavam estilhaçadas no chão para criar uma gambiarra com uma taxa de acerto de 100%.  Não suicídio, mas sim uma felicidade alternativa. Quem sabe, um desenvolvimento de esquizofrenia e autismo. Só que, desta vez, o mínimo de retorno seria a satisfação de estar em um novo plano, com uma nova roupagem, um renascimento. Assim, sintonizado nesse foco mental, como se utilizasse de minha vitalidade, a visão começou a escurecer e feixes de luz dançaram nessa escuridão de sentimento atordoante.

Acordei numa casa bem pequena e simples feita de bambu. Não fazia uso de tecnologia sofisticada, parecia uma casa na roça, porém de bambu e palha. Procurei bastante por um espelho, mas não encontrei. Estou curioso sobre minha aparência. Apesar de ainda continuar pardo meu físico está muito mudado, sinto-me alto e mais forte. Contudo, a vestimenta continua a mesma de antes, uma camisa verde e short preto, que estão pequenos pro meu corpo, diga-se de passagem.

Acredito que esteja pesando por volta de 80kg. Pra quem tinha 60kg, é uma mudança e tanto. O cabelo liso está derramado pelos meus ombros e costas, com a barba grande chegando na metade do pescoço. Já quesito higiene... estou fedorento igual a um mendigo que jogou bola e foi dormir. A impressão que dá é de ter esmagado frutas podres em cada um dos sovacos.

- "Mas que porr... Será que sou um mendigo? Arg... preciso de um banho urgente!"

Quão merda tem que ser a pessoa pra desejar ir a outro mundo e reencarnar num mendigo adulto? Bah... Pelo menos estou em um ambiente diferente.

Saindo da cabana, me deparei com uma das paisagens mais lindas que já vi. "O sol está nascendo e estou no topo de uma montanha! Bem próximo das nuvens!" Abaixo, não enxergo muito além de algumas árvores e colinas. A montanha é imensa e a barraca está bem próximo da beirada. Rapaz, quem construiu isso aqui gosta de isolamento e de viver perto da morte. Se eu morasse aqui em minha vida passada, só Deus sabe se já não teria me suicidado. Bom... bora vasculhar e conhecer a região. Rum... o ambiente é composto por pedras, gramas, cheio de descidas e subidas. Me pergunto o que diabos estou fazendo aqui.

De repente, um vulto passou pela minha visão periférica esquerda. Algo entrou na cabana. Será que é o dono? Ou será algum animal? Como não estou nervoso e me sentindo confiante, vou entrar na maciota falando como se já conhecesse a pessoa. Caso seja um animal, se grande, corro, se pequeno, vejo o que faço na hora.

- "Oi! Bo..bom dia! Acordei! Tudo bom?"

Algo inesperado aconteceu. Um anão veio correndo com os punhos cerrados e um dos braços esticados atrás e gritando:

- "AAAAAAAAAAAA!!!"

No susto, minha adrenalina aumentou e consegui ver tudo em câmera lenta. Pela expressão do rosto, o anão parecia muito assustado, afinal, seus olhos estavam fechados e bem contraídos. Pera, ele tá correndo no ar em direção ao meu rosto?

Quando fui segurar o soco com uma das mãos, o golpe etérico atravessou ela e o meu rosto. Virei pra ele e ele pra mim. Ambos com olhos esbugalhados.

- "Mas o quê...? Onde eu estou?" - perguntou o anão cinza, flutuando no ar e lançando um confuso.

- "Rapaz, não sei. Mas, perguntar antes de tentar socar seria o mais adequado, não?"

De certeza ele era um espírito. Só que não era parecido com os anões do meu mundo pois ele não tem os braços nem as pernas desajeitadas. Parece um homem encolhido, sem problemas de pernas arqueadas, colunas ou com a cabeça desproporcional. Ele por inteiro tem coloração cinzada, de pele branca, vestindo uma túnica verde com calça marrom, cabelo loiro curto, olhos azuis, vesgo de um olho. Pera... FANTASMA VESGO?! PORRA É ESSA ARNALDO?! Meus pensamentos foram interrompidos pela sua fala:

Ápice de Quíron: O Pequeno Gafanhoto (Vol. 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora