Capítulo 20 - "E se..."

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Cidade de Sacramento, Dark red, 16hrs.

Cidade de Sacramento, Dark red, 16hrs

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Any Gabrielly

Não dormi.

Chorei a noite inteira, me culpando por deixar Shivani triste e me estapeando mentalmente por não ter conseguido fugir. Eu poderia estar em um hotel agora, ou até mesmo na cadeira dura de uma delegacia qualquer.

Qualquer lugar, menos aqui.

Tenho certeza que meus soluços poderiam ser ouvidos até do andar de cima. Eu chorei como se não houvesse amanhã, porque para mim já não importava. Chorei, gritei, senti minha garganta rasgando como se uma faca afiada a tivesse cortando.

Não parei.

A dor não era nem de longe o que eu sentia no interior. Aquela queimação horrorosa que aumentou quando eu lembrei dos olhos de Josh. Senti que despedaçava de dentro para fora. Meus órgãos poderiam ser arrancados e jogados aos porcos que eu não me importaria.

Eu só tinha um coisa pra fazer, e eu consegui falhar. Poderia estar agora denunciando esse cabaré e consequentemente livrando todas as pessoas que mesmo estando na bosta me acolheram tão bem.

Era só ter saído, Any.

De repente eu lembrei da sensação dos enormes braços de Lamar rodeando minha cintura, tirando meus pés do chão e me trazendo de volta para o buraco. Por um momento eu me esqueci dele. Creio ter algo a ver com estresse pós traumático, realmente não lembro.

Ou eu não quero lembrar.

E se ele não tivesse me visto? E se agora eu estivesse correndo como uma louca fadigada, lutando por ar e por minha vida pelas ruas da cidade desconhecida.

Minha mãe sempre dizia que meus "e se" ainda me matariam. Eu martirizo desde sempre situações que eu poderia ter mudado, me deixando sufocada pela quantidade de possibilidades que de repente se tornaram tão melhores que minha situação atual.

Quando menor eu vi um filme chamado "A teoria do caos". Tudo bem, a classificação indicativa era 14 anos e eu tinha 10, mas quem se importa? O filme era ficção científica e as 2 horas e meia não bastaram para sanar todas as minhas dúvidas sobre o tema. Então eu passei horas no meu quarto, alheia ao mundo, só tentando entender um pouco mais sobre o "bater das asas de uma borboleta".

Eu descobri. Descobri tudo teoricamente possível, soube exatamente do que se tratava e me fascinei. Eu falava disso o dia inteiro, de uma forma didática tentava explicar para Oliver minhas observações, ou só fazer com que ele se interessasse pelo assunto e buscasse mais saber para que nós converssassemos sobre a teoria do caos. Mas não, ele só sorria como se não ouvisse nada, e eu só fosse uma vozinha fofa gritando coisas desconexas.

Mas foi aqui, dentro desse muquifo que eu descobri o significado prático da teoria.

Se eu tivesse contado para o segurança do meu condomínio que aquele carro estava me seguindo, a segurança lá de casa estaria triplicada, a burra teria ficado fora de  casa e nada, nada desse caralho teria acontecido.

The KidnapOnde histórias criam vida. Descubra agora