Capítulo 26 - Cemitério

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Cidade de Sacramento, Kitnet da família Beauchamp, 1:00 hrs.

Cidade de Sacramento, Kitnet da família Beauchamp, 1:00 hrs

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Josh Beauchamp

Destroçado.

Quebrado.

Completamente destruído.

Todas as palavras, sinônimos e adjetivos parecem insuficientes para descrever tamanha dor.

Meu coração está apertado desde o instante que resolvi responder aos gritos e súplicas desesperados de Any. O ar parece não entrar totalmente em meus pulmões desde o momento em que minhas mãos ganharam a cor escarlate pelo sangue de minha mãe. Não penso com clareza e ignoro praticamente todos a minha volta desde quando descobri que ela realmente estava morta.

Dentro do bar, rodeado por rostos conhecidos e banhados pela compreensão, eu entrei e sustentei meus sentimentos em um tipo de transe. Não senti metade da dor que me assola agora. Não consegui ter espaço em minha mente naquele momento com tantas palavras de encorajamento para sentir a dor dilacerante.

Mas agora, sozinho no apartamento escuro, úmido e silencioso, consigo sentir tudo. Consigo ouvir os soluços das gêmeas em um dos quartos mesmo que elas estejam se controlando ao máximo. Consigo ouvir o barulho da chuva mesmo que todas as janelas estejam devidamente lacradas. Consigo sentir infelizmente o vazio que a ausência de minha mãe me trás.

Sinto sua presença em cada canto da casa, em cada espaço vazio que ela costumava ocupar, a cada instante de uma rotina interrompida que ela costumava seguir. A sensação de que algo está fora dos eixos não me abandona, me sufoca e não deixa que as lágrimas me abandonem em momento algum.

Do lado de fora, a chuva se intensifica. Sei que sou um péssimo irmão mais velho e que deveria estar com Sofya em uma de suas prováveis crises, mas não consigo. Não consigo ver e me deitar ao lado das duas cópias de minha mãe. Não consigo encostar em nada que foi tocado por ela nas últimas 24 horas. Simplesmente não consigo encarar algo além da janela encardida da sala.

Preciso de meu espaço. Minhas lágrimas, e principalmente, de meu próprio tempo para assimilar isso tudo.

Abraço meus joelhos com mais firmeza quando um relâmpago se faz presente no céu escuro. A chuva deu uma curta pausa no período em que viemos embora, depois disso, a tormenta somente piorou. Parecia transcorrer de acordo com meus sentimentos e eu me sinto extremamente bem ao ver algo bem mais caótico que meu interior.

Deixo escapar um soluço quando um trovão sacode as janelas do prédio. Fecho os olhos, permitindo que as lágrimas caiam sem empecilhos. Quentes, inúmeras. Não são as primeiras e de certo não serão as últimas que derramarei hoje. Essa semana. Esse mês. Talvez até mesmo esse ano. A dor vai passar com o tempo, mas a questão toda é, depois de quanto tempo poderei olhar para uma foto de minha mãe e não cairei em lágrimas?

O pensamento me estremece. Tenho um lapso de vontade de correr até a a cozinha e ferver a água para um chá quente quando sinto mais frio. Camomila, o preferido de minha mãe. Quando me lembro disso, toda e qualquer minina vontade de ir para a cozinha se esvai. Ela ama cozinhar.

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